Cap. 32: Inveja Que Mata (Parte II: Confrontos)

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Dei outro passo para trás, mas, novamente, elas me acompanharam. Morgana e Thereza, com suas expressões malignas e debochadas, pareciam muito determinadas naquele dia.

Eu estava me afastando do quarto, pois não lhes daria o luxo de me pegarem em um local fechado.

- Como você pôde?! - exclamei, ao mesmo tempo entendendo a situação e surpresa com ela.

O corredor, ironicamente, estava deserto e obscuro. Aquele que anteriormente eu tanto temera, seria agora, com um pouco de sorte, minha salvação.

- Ora, querida, foi simples: eu estava junto com o Lui quando ele colocou o remédio na refeição do Carlos. Aí, foi só esperar ele sair e ordenar a uma das empregadas que trocasse o destinatário. - Morgana respondeu, sua voz aguda soando amarga e fria.

Na refeição do Carlos. A frase ecoou em minha mente e, na hora, começou a ter um significado. A briga de Luigi com o pai (ou pelo menos a parte dela que eu vira), na fábrica de porcelana fora intensa. Fazia muito sentido o louco demônio ruivo ter se estressado ao ponto de querer envenenar o próprio pai, de fato.

- Mas por quê?! O que te motivou a fazer isso comigo?! - insisti, sem me conformar com somente uma explicação mixuruca.

Thereza, aproximando-se com seus olhos dourados e profundos, inclinou a cabeça.

- Ela tem ciúme de você, Ale. Não é óbvio? Ela gosta muito do meu irm... - Morgana a impediu de terminar com uma cotovelada súbita.

- Cale a boca, Thereza! Você já está falando demais! - a fúria com a qual encarou a prima facilmente a fuzilaria - A questão é que eu quis vingar Luigi, mas fui precipitada. Pensei que você o tivesse abalado.

Sua estatura pequena não era nada assustadora. Em meus devaneios internos, pensei que seria bastante fácil chutar Thereza e Morgana e sair correndo. Meu problema, é claro, seria o que viria depois delas.

- Você tentou me matar por que pensou que eu tivesse ferido os sentimentos do cabeça de fogo, então?! - exclamei, tentando distraí-las com minha real indignação. O plano de derrubá-las estava fora de cogitação (por hora).

- Você não o conhece direito!!! Não sabe como é sua personalidade, sua mente e nem seu coração!!! Sou EU que sei quem ele é, de fato!!! - a raiva da asiática ia crescendo conforme falava, se aproximando de mim - Você não sabe o que o atinge e nem o que o fere!!! Na realidade, você não sabe nada, porque...

- Porque eu sou uma escrava!!! Porque fui arrancada da minha casa e da minha família para ser enfiada em um buraco que leva direto ao inferno!!! E, se quer saber - sorri com sarcásmo, apontando um dedo em sua direção e impedindo seu avanço - fui obrigada a me casar com o próprio diabo.

O fogo que vi arder em suas íris azuladas fez meu sorriso se expandir, com uma imensa satisfação. Eu falara tudo no impulso, era concreto, mas não me calaria mais. Ela estava defendendo aquele que fazia de cada um dos meus dias uma maldição, afinal. Era justa uma resposta à altura.

- Sua imunda desprezível!!! Por que tinha que ser você?! - ela gritou, perdendo qualquer controle e avançando para cima de mim.

Eu estava preparada, mas Thereza interpôs-se no meio.

- Calma, Morgie!!! Você não tem que agir assim!!! - ela segurou as mãos da prima, barrando seu acesso à minha pessoa - Nós íamos falar sobre a questão do Ônix também!!!

Ao ouvir o nome do artista, quase tive um infarto. A bile subiu para minha garganta e precisei engoli-la, sentindo um amargor intenso na língua.

A única coisa que distraiu Thereza de minha reação descomunal, no entanto, foi o fato de que sua prima continuava tentando me atingir.

- Não, eu não quero mais falar sobre isso!!! Essa bambola estúpida, que não sabe a vida fácil que tem, não merece ser a esposa do Lui!!! Por que ela?!

Senti minhas bochechas esquentarem.

- Vida fácil?! Quem é você pra falar disso, hein?! É só uma mimada egoísta, parente de monstros que só pensam em poder e exploração!!! - gritei, avançando também e empurrando as costas de Thereza - E, se querem saber, eu não sei nada sobre seus amorzinhos!!! Por que vieram falar disso comigo?! Perguntem para alguém que se interesse, ao menos!!!

Finalmente, Thereza saiu do caminho, e Morgana quase se atirou em minha direção. Segurei-a pelos ombros e a impedi de me acertar. O conflito estava, de fato, escapando de qualquer controle.

- Sua estúpida! - Morgana gritou, sem me bater. Ela só segurou minhas mãos e continuou gritando, como uma perfeita criança birrenta.

- Já chega, vocês duas!!! Você tinha prometido, Morgie!!! - berrava Thereza, ainda assim de olho somente nas próprias necessidades.

Eu mentira para as duas ao dizer que não me importava com quem "amavam", obviamente. Mas a situação era tão estranha e infantil, que nem perceberam meu tom falsamente seguro. O tópico "Ônix" era algo que eu rezava para não ser levantado outra vez ou, possivelmente, cairia junto com ele.

- Por que tinha que ser você?! Por que ele te escolheu?! POR QUE NÃO PODIA SER EU?! - Morgana gritou tão alto a última parte, que tive certeza de que a mansão inteira nos ouvira.

Se os Frequentadores estavam em reunião... pensei, sem concluir a ideia. Os olhos chorosos da garota à minha frente pareciam poças de chuva acumulada, azuis, escuros e úmidos.

Era esse seu problema comigo, então. Ela gostava do demônio ruivo, e pensava estar sendo trocada.

- Por que brigar comigo? Por que você não pede a ele?! - exclamei, empurrando-a.

Algumas lágrimas escorreram por suas bochechas e, quando me encarou de volta, percebi que ela ia pular em mim outra vez. Preparei-me para o choque iminente, ou para tentar escapar dele. Mas meus esforços foram em vão.

- Porque ela não precisa. Eu já ouvi tudo. - disse alguém, cuja voz era a que eu mais temia e odiava. Seu tom era grave e seco - Eu e metade das pessoas que estão na sede, é claro.

Luigi Mangini estava parado na ponta do corredor, os braços cruzados e uma expressão debochada no rosto. Morgana ficou imóvel com sua aproximação, dando-se conta do papelão no qual estava.

- Que droga é essa, posso saber?! O que eu te disse, Morgana?! Eu te avisei: nós estávamos em uma reunião importante!!!

O dourado de seus olhos, indiscutivelmente, ofuscava a maldade de principiante de Thereza.

- Lui, eu... - Morgana começou, a voz trêmula.

- Não! Nem tente! Não quero ouvir! - então, ele parou, parecendo ter mudado de ideia. Um sorriso diabólico formou-se em seu rosto - Estavam discutindo por minha causa, hein?

Era só o que me faltava, pensei, com uma vontade imensa de dar um tapa no rosto e me esconder em um buraco. Luigi pensando que eu discutira por ele...

- Creio que possamos resolver isso rapidamente... - continuou, passando a mão pelo cabelo avermelhado.

A inveja mata, refleti, sem saber em qual enrascada Morgana e Thereza haviam me enfiado. E condena...



Oi gente!!! Estamos chegando no final, kkkk!!!

E então? O que foi essa indignação da Morgana, hein? Ela gosta mesmo do demônio ruivo, afinal de contas. E ele? Será que gosta dela?

O que acham que irá acontecer? Quais os planos da Alessa? Descobrirão em breve. ;)

Bjsss, até a próxima!!!

Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora