Cap. 44: Estresse Que Precede A Felicidade

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Música na multimídia indicada pela linda Lyracchan. Obrigada, eu amei! ;)

Bjsss, boa leitura!!!



- Estresse que precede a felicidade, meus caros. Apenas isso. - Luigi exclamou, acalmando os ânimos da família, mesmo que estivesse prestes a arrancar os próprios cabelos.

Os Mangini estavam desesperados com o desaparecimento de Thereza. Ela, de uma hora para a outra, no meio do dia, havia sumido completamente. Funcionários foram até mesmo enviados pelo bosque que cercava a sede, para vasculharem cada canto obscuro. Assim como a bambola asiática, no entanto, a ruiva fanática não deixara rastros.

Para eles, tudo era repentino e sem explicação. Já para mim, Ônix e a equipe de Tréville, era uma bênção. Eu sentia vontade de me ajoelhar e agradecer a Deus com todo o coração, pela sorte que tivéramos daquela vez.

Pelo menos uma única vez, pensei, o coração palpitando de nervosismo.

Estávamos na sala de estar, Carlos vermelho de tanto gritar com o filho e Luigi inquieto como uma criança com coceira. Avril não ousava se mexer, mas a dor era visível em sua expressão. Lucca, no entanto, estava neutro como sempre.

- Não encontraram nada?! Absolutamente nada?! - insistiu Carlos, pela milésima vez.

Ônix estava parado próximo à porta, de pé e encostado no batente. Desde que sua compradora sumira há alguns dias, ele deixara de ser importante. Graças a Deus, quase suspirei. Que o deixem em paz, por favor...

- Encontraram, sim. Um laço de cabelo próximo ao riacho que corta o leste. Satisfeito? - apesar de se tratar de sua irmã, Luigi sorriu com maldade - Está enlouquecendo pela perda de sua princesinha, não é?

- Ela NÃO foi perdida!!! - o homem berrou, de repente, fazendo com que todos tomássemos um susto.

Correção: todos menos o demônio ruivo. Este apenas riu, com uma frieza de parar a circulação.

- Sinto muito pela sua falta de noção, Carlos. Espero que não quebre a cara. - então, virou-se e encarou a todos - Mas o casamento não será prejudicado por este...

Ele fez uma pausa e, terrivelmente, seus olhos pousaram em meu rosto. Por um instante, soube que minha vida havia acabado. Soube que eu estaria morta em breve.

Por milagre, foi engano.

- Imprevisto. - completou, cruzando as pernas e os braços - Ele, pelo contrário, só nos mostra como mais ensaios são necessários.

Aí Carlos gritou alguma coisa sobre não haver padrinhos para o evento. Mas eu estava ocupada demais observando Ônix com uma agonia profunda, ele partilhando dos mesmos temores que eu. Mas, mesmo que fosse difícil, suas íris estavam sendo tão doces... desde o nosso "deslize", ele me mantinha o mais próximo que conseguia. Tentava a todo custo me reconfortar e me manter segura.

Mal sabia ele, que a única coisa que eu realmente desejava era que ele ficasse bem quietinho, para que nada de ruim jamais o atingisse. Senão... eu não gostava nem de imaginar a hipótese de não tê-lo ali.

- Isso só faz com que a necessidade de excelência na Hora do Progresso seja maior ainda. E não estou aberto a discussões sobre a data. - Luigi trincou os dentes, apertando o apoio da poltrona na qual estava acomodado. Era óbvio que estava lutando para manter o controle - Assunto encerrado, Carlos.

Percebendo que não tinha como contestar e obrigando-se a engolir o ódio imenso, o Mangini pai se calou. Talvez, por um breve momento, tenha notado o monstro no qual havia transformado o próprio filho. Pareceu se arrepender. Mas logo esse instante acabou.

- Estamos resolvidos, então. As buscas não pararão, apesar disso. E quando eu puser minhas mãos em Thereza... - dessa vez, o demônio ruivo encarou Ônix. Tive vontade de vomitar - ah, ela vai se arrepender por ter pensado em fazer escândalo.

×××

Mais rápido do que o desejado, eu estava dentro de um vestido que era a cara da Sociedade. De uma cor creme suave, ia até o chão, deixando os ombros à mostra. A saia tinha duas camadas, sendo que a superior era de um tecido violeta transparente. O corpete era bordado com linha preta, como se galhos de árvores abraçassem meu corpo. Por fim, babados também transparentes desciam até meus cotovelos. Partes de seda verde brilhante, cortadas com perfeição, tinham sido costuradas na roupa, imitando folhas que se mexiam com o vento.

Meu cabelo, que fora repintado recentemente por causa das raízes brancas, estava preso no topo da cabeça, duas tranças cercando o coque cor mel intrincado. Meu rosto fora coberto por uma base praticamente descolorida (a única que combinava com minha pele), enquanto meus olhos foram pintados de um prata suave nos cantos e a mesma cor da saia do vestido no centro. Eu também usava cílios postiços compridíssimos, máscara de cílios preta para disfarçar a descoloração, blush rosado, um gloss rosa claro, contorno marcado nas bochechas e lentes de contato azuis.

Além de tudo, minha cintura, já minúscula e ossuda, fora espremida numa cinta modeladora que não aparecia com a roupa. Meus pés estavam repletos de bolhas e meus dedos esmagados por uma sapatilha de salto com flores bordadas, que parecia um sapato de Barbie.

Quando me olhei no espelho, me senti tão mal que pensei que vomitaria em cima daquele monstro-boneca que, com toda a certeza, não era eu. Não havia traço nenhum de Alessa Fragnello naquela aparência, naquelas roupas e naquele comportamento. Eu nem sabia mais como era ser diferente.

- Você está bem, Alessa? - perguntou Lindsey, ao meu lado enquanto me perdia no reflexo da penteadeira - Luigi ordenou que experimentasse o visual completo para o casamento. Ele quer perfeição, pelo que disse.

A agente não sabia o significado que "perfeição" tinha no vocabulário do demônio ruivo. Por isso, não a culpei nem demonstrei o desconforto que estava sentindo. Afinal, eu já quase causara um problema enorme junto com Ônix.

- Eu estou, sim. Os planos de Tréville continuam nos eixos? - perguntei.

- Por hora, sim. Só tivemos um pequeno problema com um dos agentes e uma testemunha... mas isso não importa agora. Não se preocupe. - ela murmurou, ajudando-me a me equilibrar nos pregos enferrujados que pareciam os sapatos - Já temos toda uma equipe preparada para daqui a alguns dias. A chefe está confiante. Caso algo mude até lá, podemos nos adaptar.

Fiquei uns segundos em silêncio.

- E Thereza?

Lin respondeu com um suspiro.

- Ainda não foi encontrada. Ela sumiu de vez, ao que parece. - deu-me um sorriso falso e forçado, que eu sabia ser uma tentativa de consolo - Só nos resta rezar quanto a isso. Mas vocês dois tiveram muita sorte.

Pisquei e abaixei a cabeça, sabendo o quanto poderia ter dado errado. As coisas que poderíamos ter perdido eram inumeráveis. Mesmo assim, egoísta e secretamente, eu sabia que faria tudo de novo se pudesse voltar no tempo.

- Muita mesmo... - murmurei, encerrando o assunto.

A única coisa que restava, no momento, era fingir ser a bambola intrincada que teria um casamento feliz. Cerrei os punhos e me mantive firme.

Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora