Cap. 18: Corações Enjaulados

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Capa lindíssima feita pela IsabellaaMoreira. Eu amei! ♡

Bjsss, boa leitura!!!



O tempo que eu e Lucca passamos olhando uma para a cara do outro, sem dizer nada, foi, no mínimo, constrangedor. Mesmo assim, não parecia haverem palavras adequadas a serem ditas, o que fez o incômodo silêncio perdurar até o crepúsculo. Quando ouvi as vozes de Lindsey e do funcionário (que parecia mais gago do que normalmente), empurrei o garoto Mangini de volta para o armário, tentando fazer uma apresentação mais suave.

- Meu Deus. - a agente bufou, fechando a porta - Hoje está sendo um dia bem puxado.

Mal sabia ela quanto. Assim que, delicadamente, abri a porta do armário e Lucca se revelou, achei que o mesmo fosse levar um soco. Foi difícil explicar para a garota que ele não era uma ameaça, e que queria apenas ajuda para sair. Talvez o fato de termos ocultado o motivo da invasão de meu quarto (os vestidos no closet), tenha feito Lindsey desconfiar ainda mais.

De toda forma, no fim, ela não o matou. Mas também não tirou os olhos de cima do Mangini, que era um perigo em potencial para a investigação.

Quando terminamos de me arrumar, ela saiu na frente, com uma carranca mal disfarçada, e fingiu pedir algo ao funcionário que cuidava da porta. Ele se atrapalhou completamente, mas saiu para buscar o que quer que fosse. Neste meio tempo, botamos Lucca para fora, apressadas.

- Vá, antes que alguém veja! - sussurrei, gesticulando com as mãos.

Antes de correr, porém, ele me encarou profundamente, com algo semelhante a reflexão.

- Obrigado. - murmurou, enfim, sem poder fazer um discurso muito eloquente.

A sinceridade em suas palavras, no entanto, me fez crer que havia ganho um novo voto de confiança. Suportar o sermão da agente também não foi tão duro, levando em conta a gratidão que vira no irmão de Luigi.

×××

A cada passo que dava para perto da sala de estar, escoltada pelo funcionário emburrado, parecia que meu pés pesavam mais. Meus pulmões sugavam o ar com dificuldade, e eu sentia as palmas de minhas mãos cerradas suarem. Tal sentimento devia-se ao barulho alto de conversa, que sinalizava muito mais pessoas do que da última vez... quer dizer, que alertava muito mais Frequentadores que da última vez.

Quando cruzei a soleira da porta, a luz das velas tão apreciadas por Luigi refletindo nas lentes de contato azuis, a primeira coisa que percebi foram as diferentes linguagens. Os sotaques internacionais mesclavam-se, vindos de seres tão distintos entre si que quase faziam a reunião se tornar um encontro entre países. Franceses, árabes, chineses, portugueses, espanhóis... tudo o que se podia imaginar no mundo. A única lástima era que se encontravam para o mal, em vez de para algo produtivo.

Logo foi fácil identificar sua arrogância típica de Frequentadores: eles sequer olhavam para os pobres empregados que os serviam, encarando com nojo qualquer coisa que lhes entregassem. Depois de ter notado tais características e percebido meu lugar de ignorada (afinal, até o momento, era apenas uma bambola insignificante), postei-me no canto mais sombrio do cômodo e de lá não saí até ser chamada.

Por um breve intervalo de tempo, fiquei calada, apenas tremeluzindo como a chama das velas. Queria, de fato, transformar-me em uma: para enfim ver meus medos queimarem. Mas, infelizmente, isto não era possível. Lindsey me dissera que ela e Tréville vasculhariam a casa discretamente naquela noite, procurando pela biblioteca. Atrás das costas, eu mantinha os dedos cruzados, desejando-lhes sorte.

Então, entrando no ambiente mal iluminado, avistei Ônix. Seus cabelos não haviam sido alisados como de costume, pelo contrário: as ondas e cachos rebeldes que evidenciavam sua origem italiana estavam livres, brancas como espuma do mar. Sua pele de porcelana impecável quase brilhava, provavelmente com uma boa camada de maquiagem também. Porém, o que mais fez meu coração acelerar, foram os cantos de sua boca, inclinados para baixo. A tristeza era aparente nos anéis verdes e negros de seus olhos, embora ele raramente erguesse a cabeça. Percebi, com nervosismo, que estava na companhia somente de um funcionário, cujo qual se afastou logo em seguida.

Neste exato instante, talvez ouvindo minha pulsação acelerada, o artista me avistou na escuridão. A surpresa foi clara em suas sobrancelhas arqueadas, além de seus lábios retraídos em uma pequena linha. Não tardou para que, discretamente, se aproximasse.

A cada passo que ele dava, meu coração falhava. Falhava, devido à incerteza: eu queria que ele permanecesse longe, para que ninguém desconfiasse de nada, mas também necessitava desesperadamente de sua proximidade. A lembrança de sua boca colada à minha, suas mãos em meu rosto e seu corpo unido ao meu não ajudava no mantimento do autocontrole.

Em vez de se postar à minha frente e conversar, um gesto muito suspeito, ele posicionou-se ao meu lado, afundando nas sombras. Não consegui evitar a coceira em minha mão, que dizia para tocá-lo.

- Ônix... - sussurrei, sem virar a cabeça - eu tenho que explicar uma coisa...

- Tréville já me disse o motivo de sua fuga. Disse que você contou à Lindsey logo ao meio-dia. - sua voz era neutra de um jeito estranho - Não precisa dizer nada.

Quis me sentir aliviada, mas tal coisa foi impossível. Pelo canto da visão, pude perceber que Ônix estava rígido e tenso. Desta vez, não pude conter o instinto que me mandou segurar sua mão.

- Você está bem? - perguntei, mais baixo ainda.

Sua postura ficou mais ereta do que antes, e seus olhos escureceram. Quando pensei que fosse me rejeitar, seus dedos se fecharam angustiantemente ao redor dos meus.

- Depois de quase ter morrido do coração e de ter passado várias horas pensando sobre como você estava... não tanto. - sua falsa inexpressividade se rompeu, e pude identificar a preocupação imensa contida ali - Musa, non hai ancora idea di quanto giochi con me, vero?

Entender metade da frase já foi o suficiente para minhas veias incendiarem. Desde que passara a viver na mansão, eu não ouvia ninguém falando italiano, apesar do país em que nos encontrávamos. Ali, a linguagem universal era o inglês, e só no momento os novos sotaques invadiam aquele silencioso e perverso mundo. Ouvir o artista falando seu belo idioma outra vez, depois de ter julgado jamais vê-lo novamente, simplesmente me fez esquecer as outras pessoas e virar a cabeça em sua direção.

Meu coração estava prestes a romper a jaula na qual a Sociedade o colocara, de tanto que pulava no peito.

- Senhoras e senhores, a família Mangini se aproxima! - exclamou um funcionário, fazendo com que Ônix e eu saltássemos para lados opostos.

Sendo tomada pela tristeza profunda, deixei que a porta da gaiola se fechasse novamente.



Musa, non hai ancora idea di quanto giochi con me, vero? = Musa, você ainda não faz ideia de quanto mexe comigo, não é?

Oi gente!!! Capítulo postado rápido, não? O início caloroso ainda nem é o mais importante deste banquete. Preparados para o que vem aí?

Bjsss, espero que tenham gostado!!!

Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora