Assim que o banquete acabou, eu, Ônix e a mãe de Luigi fomos retirados da sala de jantar, pois os Frequentadores iriam tratar de seus negócios. Apesar de estar profundamente abalada, ainda consegui avistar a "empregada" de Tréville, que ficou junto da Madame. Torci para que as duas obtivessem informações valiosas, e prometi a mim mesma que começaria minha própria investigação no dia seguinte.
Avril, que por ser casada com Carlos tinha a "honra" de ficar no mesmo quarto que ele, virou à direita, sem dizer uma palavra. Ela não costumava conversar com ninguém, mas seus olhos apavorados normalmente mantinham todos longe mesmo. Observei, cada vez mais apreensiva, Avril sumir por um dos corredores, na companhia de todos os empregados que nos acompanhavam. Meu coração, dolorido, passou a martelar nos ouvidos quando fiquei sozinha com Ônix.
Mas que droga! A Sociedade sempre fora astuta e cruel, porém, daquela vez, me havia abandonado sem supervisão com o artista. Será que é por ignorância ou será que é por maldade? Perguntei-me.
Assim que andamos mais alguns metros, penetrando de vez na parte mal iluminada da mansão, senti o artista virar-se em minha direção. A dor que eu sentira no peito mais cedo agora retornava com força total.
- Li mio dramma musa. - foi tudo o que Ônix precisou sussurrar, para que eu perdesse a falsa ilusão de controle.
Abraçei-o com força, quase derrubando-o. Sua respiração, subitamente acelerada, atingiu meus ouvidos, enquanto meus dedos deslizaram por seu cabelo e costas. Dane-se a Sociedade, dane-se Luigi! Por 5 minutos, pelo menos, eu faria o que quisesse.
- Como você veio parar aqui? - perguntei, a voz embargada. A fraca luz da lua iluminava a pele pálida de Ônix, cuja qual eu mal via, por estar com a cabeça enterrada em seu ombro.
- Não nego que estou aqui propositalmente. - ele respondeu, com o pouco de estabilidade que lhe restava - Sono qui perché ho lottato per vederla di nuovo.
Entendi metade da frase, mas também não me importei. Ouvir sua voz tão perto de mim, em seu italiano cantarolado, além de sentir seu hálito morno em minha bochecha, foram coisas hipnotizantes. Aqueles corredores, que me sufocavam com a lembrança da perseguição, no momento pareciam acalentadores e serenos. Só porque Ônix estava ali.
Nenhum de nós tinha a capacidade de falar mais, pois nossos corações clamavam um pelo outro. Apesar da angústia crescente, inclinei-me e beijei seus lábios.
Pela maneira que sua respiração falhou, achei, sinceramente, que Ônix fosse cair. Suas mãos foram rápidas ao me apertar contra si, de uma maneira quase impossível de soltar. E foi então que, grudada ao seu corpo, pude sentir o quão magro ele próprio estava.
Por baixo da camisa, encontrei ombros sobressalentes e costelas quase saltadas. Até mesmo as mãos do artista, sempre delicadas e ágeis, pareciam magras e frágeis. Afastei-me de seu beijo, embora meu corpo protestasse, e encarei-o nos olhos, com toda a preocupação que sentia. A imensidão verde e preta pareceu confusa, embora uma pitada de tristeza tenha se destacado ali.
- O que foi, musa? - Ônix murmurou, retirando suas mãos de meu rosto - Já não sente mais nada por mim?
Um peso de 30kg caiu sobre meus ombros, devido a mágoa que aparecia no rosto do artista.
- Não! Quer dizer, sim! É claro que eu ainda te amo! - exclamei, o mais alto que podia sem chamar a atenção - Mas não posso fazer isso! Não posso!
Ele fechou os olhos e respirou fundo, enterrando os dedos no próprio cabelo. Provavelmente teria gritado de pudesse, mas apenas respirou pausadamente.
- Eu fiz tudo isso por nada... - sua voz soou baixa e sinistra, enquanto ele cambaleava até a parede do corredor - Você simplesmente... não quer mais...
- Pare! Não diga isso! - respondi, pondo-me ao seu lado - Eu só não quero machucá-lo mais!
Ele ergueu o rosto para me encarar, fazendo-me estremecer com a raiva que vi ali.
- Eu já disse que não me importo em me machucar, e você não faz ideia do quanto fui machucado nesses últimos meses. - seu timbre era rouco porém firme - Eu sei muito bem o que desejo, e sei que haverão consequências. Só que, Alessa, eu enfrentei todas as torturas por você.
O peso de 30kg multiplicou-se por dois, e a dor em meu coração tornou-se quase insuportável. Eu estava diante de um Ônix totalmente ferido e fraco, não só física mas também mentalmente. Ele não tinha mais nada, nem sua própria irmã, entretanto havia dado um jeito de me ver novamente.
Ele havia conquistado Thereza, que já nutria uma paixonite por sua pessoa, só para me reencontrar. E agora eu acabava com suas esperanças.
- Eu sinto tanto, Ônix... - sussurrei, sem conseguir chorar ou me mover - Sei que você não liga para si mesmo, mas eu ligo. E, se algo lhe acontecer por minha culpa...
- Cale-se! - ele exclamou, agarrando minhas mãos - Não é sua culpa, Alessa! Eu te amo por minha própria conta e risco, não importa o que faça!
Então, ele beijou meus lábios outra vez. Fiquei estática por apenas dois segundos, sem conseguir desgrudar de sua boca, até que voltei a mim. Puxei minhas mãos e virei o rosto, afastando-me alguns passos.
- Você é o único resquício de mim mesma que ainda resta, Ônix. - sussurrei, com convicção absoluta - Não posso deixá-lo quebrar, simplesmente não posso.
Antes que ele tivesse a chance de se aproximar novamente, me virei e corri, da maneira mais rápida e desesperada que pude.
- Alessa... - Ônix murmurou, quando preparei-me para virar à esquerda - Ti ho detto testardo non mollare.
×××
Avancei para meu quarto, a dor no coração praticamente insuportável. Eu não ligava que Luigi voltasse da reunião e não me encontrasse mais. Precisava ficar só.
Escancarei a porta de meus aposentos e fechei-a em seguida, com força. Tirei o vestido preto e o casaco que usara no banquete, sem conseguir parar de pensar na hipótese de os dois terem sido um alerta do destino. Joguei-me na cama, vestida somente com a roupa de baixo, e olhei para o teto. A pressão tornara-se sufocante, fazendo-me manter uma mão sobre o peito.
Não se quebre mais, Alessa. Pensei, repetindo a frase várias vezes enquanto agonizava. Você prometeu que usaria seus cacos para cortá-los.
☆
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☆Sono qui perché ho lottato per vederla di nuovo = Eu estou aqui porque me esforcei para vê-la de novo.
Ti ho detto testardo non mollare - Eu já lhe disse que teimosos não desistem.
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Oi gente!!! Atrasada estou, novamente. Hehehe...
Mesmo assim, quero que saibam que me esforcei para escrever este Cap cheio de tensão. O que acharam?
As frases do Ônix ainda me matam, kkk. :')
Bjsss, espero que tenham gostado!!!
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Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)
Fantasy☆Sociedade Porcelana - Livro 2☆ "Seus sorrisos eram cínicos e debochados. Seus atos bondosos, uma mentira. Suas palavras generosas, um enfeite. Encará-los nos olhos era pavoroso, pois, a única coisa que demonstravam, eram uma maldade e um vazio tão...