Silêncio. Silêncio era o que eu mais almejava. Simplesmente porque tudo dentro de mim começou a gritar.
Minha cabeça, algum tempo depois de a empregada sair, passou a girar em torno de si própria. A dor era latente e torturante, por isso, assim que me ajoelhei e vomitei tudo o que havia comido anteriormente, apoiei minhas costas na parede fria do banheiro e tentei acalmá-la. Não adiantou, e logo ficou pior.
Quem era a maldita pessoa que queria me ferrar ainda mais? Luigi, após ter descoberto minha relação com Ônix? Thereza, por talvez ter me visto saindo do estúdio? Os pensamentos confusos e misturados atrapalhavam ainda mais meus sentidos, obrigando-me a levantar com dificuldade e me jogar na cama. Quando meu corpo chocou-se contra o colchão macio, milhares de cores explodiram em minha visão. Mas não eram cores bonitas, como as nas íris do artista. Eram cores sufocantes, psicodélicas, que me causavam náuseas e tontura. De repente, do meio delas, a imagem de meus pais abraçados (um sonho impossível que me perseguia desde o falecimento de minha mãe) surgiu, e a risada de ambos ecoou. Só que ela foi ficando alta, muito alta, ao ponto de me fazer gritar por paz e tapar os ouvidos.
- Parem! - mas meus pais não pareciam ouvir, apenas gargalhando e gargalhando.
Minha sanidade ia e voltava, cada vez mais longínqua. Quando alguém abriu a porta do quarto e me viu naquele estado, correndo para me levantar da cama, não tive condições de reparar em seu rosto. Eu queria que me soltasse, me deixasse ali, para que pudesse cobrir a cabeça com um travesseiro e tentar parar de delirar.
- Mas o que está acontecendo?! - uma voz masculina disse, e fui puxada subitamente - Você está... queimando!
- Me solta! - gritei, tentando tirar a mão do homem de meu ombro.
De repente, rápido demais para que minha mente confusa conseguisse acompanhar, estávamos no corredor. O homem, possivelmente algum funcionário, mantinha um braço em minhas costas, segurando-me de pé.
- Ei, você! - ele chamou, direcionando-se à uma mulher verde na outra extremidade do cômodo - Venha me ajudar aqui!
Meus pulmões começaram a ficar tão pesados quanto minha cabeça. Por que aquilo tudo estava acontecendo tão rápido? Ou era eu que não conseguia mais acompanhar o tempo corretamente? De repente, a mulher estava ao meu lado, tentando me segurar, e já não era mais verde.
- Não! Me deixem em paz, seus monstros! - gritei, sem ter noção do que dizia.
Eu só queria que eles se afastassem, queria que me deixassem quieta. Por isso, quando me seguraram firmemente, passei a me debater.
Ficar fora de minha mente foi a sensação mais assustadora e conflitante pela qual já passei. Eu não entendia quem havia feito aquilo comigo, embora houvesse uma longa lista de suspeitos prováveis que teriam motivos para me eliminar. Também não imaginava que espécie de ameaça ou suborno poderia ter sido oferecida à empregada que me levara o mingau, ou o porquê de, mesmo tendo vomitado toda a comida, meu corpo continuar enlouquecendo.
Me lembrar de Tréville, da investigação e de Ônix não contribuiu para minha calma. Pensar que eu talvez não sobrevivesse para contribuir ou ver a Sociedade desmoronar fez com que pânico se enraizasse no âmago de meu ser. Pensar que eu podia morrer e abandonar o artista naquele mundo sombrio, no entanto, fez com que o pânico plantado crescesse e dominasse tudo.
- Me soltem! - gritei, sem saber mais por onde passávamos.
Aquilo era um corredor? A cozinha? Por que era roxa e rosa? Azul, também. As cores continuavam dançando, me sufocando lentamente. Eu estava respirando com muita dificuldade, de maneira pesada e árdua, mas a dor de cabeça terrível não me deixava manter a atenção apenas sobre tal fator. Meu corpo estava dividido em pontos de dor e distração, cada um pior que o outro.
- Senhor! Ela está passando mal! - a empregada ao meu lado gritou, para um conjunto de pontos enegrecidos - Não parece uma simples doença, no entanto!
Quem quer que fosse respondeu:
- Como assim?! O que ela tem?!
- Parecem os sintomas de uma overdose! Pela temperatura do corpo dela e por seu comportamento, é fácil assemelhar sua crise com a da bambola asiática! - aquela voz feminina fazia meus ouvidos arderem, entrava em minha mente e torturava-a ainda mais.
- Então levem-na para o meu escritório! Se sabe lidar com a situação, FAÇA-O!!! - era uma voz masculina muito irritada, de fato, a que respondia à mulher.
Lembro-me apenas de ter sido carregada para um lugar mais adiante, talvez além da sala de estar frequentada pela família Mangini. Não havia ninguém ali pelo que vi, mas minha visão alucinada não era confiável. O único detalhe que tive certeza do que era quando avistei, foi o entalhe de letras em duas portas de madeira. "S.P.", tão claro quanto o sol, permaneceu diante de meu rosto por um tempo grande demais, até que desaparecesse nas sombras de um cômodo grande.
- Me soltem! Eu não quero a ajuda de vocês! - gritei, já sem controle sobre a entonação de minha própria voz.
Eu estava sufocando, portanto, sequer tinha forças para falar direito. Segurando-me com mais força, continuaram avançando, ignorando meu protestos sem sentido.
Haviam dito escritório, não é? Se eu estava morrendo, por que me levariam para aquele lugar? Fui deitada em uma espécie de tapete felpudo, que não consegui identificar direito graças às alucinações. Sentia-me como Alice ao cair na toca do coelho branco: mergulhando cada vez mais fundo na loucura.
Se analisasse com cuidado, realmente poderia encontrar semelhanças com o mundo em overdose e o universo descrito por Lewis Carrol. Comecei a entender melhor sua história a partir daí, enquanto colocava-me no lugar da pobre garotinha perdida no País Das Maravilhas. O psicodélico do cômodo (fruto de minha imaginação) somente aumentava a dor de cabeça explosiva.
- Onde estão os equipamentos de emergência?! - gritou a voz masculina, ofegante por ter de me segurar contra o chão.
- Devem estar por aqui! Mas eu não lembro exatamente em que lugar. Faz tempo que não atendo uma situação assim! - a voz feminina estava realmente apavorada.
- O Mangini vai nos matar se não resolvermos isso logo! Ele voltará para cá em breve!
- Eu sei! Eu sei! - ela parecia à beira das lágrimas, de certa forma.
Eu estava morrendo, então. Eu iria partir de todo jeito, se eles estavam tão desesperados. Iria partir e levá-los comigo, pois Luigi os mataria. Esse era o pior último pensamento que alguém poderia ter.
Porém, por um mero segundo, conforme minha cabeça agitada se virava de um lado para o outro dentro daquele lugar, avistei uma porta entreaberta. Ela era simples, nada comparada à da entrada do escritório, feita de uma madeira clara e leve. No cômodo que ocultava, haviam diversas prateleiras, lotadas de cadernos de capa avermelhada e títulos em dourado. Como estava escuro lá dentro e eu sequer lembrava meu nome, não tive a capacidade cognitiva de ler o que estava escrito. Mas, de alguma forma, minha mente gravou aquela informação para mais tarde interpretar.
E, mais tarde, ao interpretar, descobrir se tratar da biblioteca da Sociedade, pela qual Tréville e sua equipe tanto procuravam.
Em vez de sorrir ao encontrá-la, como faria se estivesse sã, franzi as sobrancelhas e encarei o cômodo até que ele perdesse o foco.
- TRAGA LOGO! ELA ESTÁ TREMENDO! - a voz masculina gritou, muito próxima de mim.
Como Alice sob a árvore, apaguei, afundando na loucura surreal do veneno e da descoberta.
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☆Oi gente!!! A biblioteca foi encontrada!!!
O que vocês acham que vai acontecer, hein? Quem acham que fez isso com a Alessa? Podem pôr suas teorias ali nos comentários, kkkk.
Com quem acham que combina a música na multimídia? Por quê?
Espero, de coração, que estejam gostando. Avançamos no enredo, e agora poderei postar mais vezes por semana!
Bjsss, até logo!!!
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Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)
Fantasy☆Sociedade Porcelana - Livro 2☆ "Seus sorrisos eram cínicos e debochados. Seus atos bondosos, uma mentira. Suas palavras generosas, um enfeite. Encará-los nos olhos era pavoroso, pois, a única coisa que demonstravam, eram uma maldade e um vazio tão...