Cap. 8: Na Estante De Livros

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Raspei o fósforo na caixinha, acendendo a vela que estava em cima de minha cômoda. Eu não conseguira dormir, por causa da explosão de pensamentos incessantes em minha cabeça, e por causa da dor no peito (que persistia madrugada afora). Luigi insistia em manter os detalhes característicos da Sociedade Porcelana, negando abajures nos quartos. Ele queria mesmo era que nós usássemos velas.

Então, desistindo de me contorcer na cama, levantei e andei até a estante antiga de livros, praticamente vazia. Durante os 5 meses que passara na casa, não havia sequer tocado nos dois volumes ali armazenados, que no momento causavam-me curiosidade. Deslizei meus dedos pelas capas de couro preto, evitando lembrar de meus próprios problemas.

Peguei-os em meus braços com cuidado, retornando para a cama, e cobri-me da cintura para baixo. A temperatura começaria a subir em breve, com a proximidade do verão, mas aquela noite de primavera estava especialmente fria. Sacudi minha cabeça, respirando fundo para afastar a realidade tenebrosa, e abri o primeiro livro. Logo depois da capa sem título, na folha de rosto sépia, vi as iniciais "A. H.".

"Não sinto que deva iniciar isto com o termo "Querido Diário". Na realidade, o mais apropriado seria utilizar "Querida Confissão Miserável"..."

Era um diário, então. Não pude deixar de reparar na letra cuidadosa, não muito bonita mas também não deselegante, que preenchia folha por folha.

"Cheguei a esta "casa" há poucas semanas, e, admito, sinto-me mais sufocada do que na própria sede da Sociedade. As pessoas aqui são rudes da mesma maneira, porém parecem mil vezes mais perigosas."

O choque de reconhecimento atingiu-me com força, assim que identifiquei meus próprios sentimentos ali descritos. Forcei meus olhos ainda mais, prestando atenção pura:

"Carlos, meu "noivo", recomendou que eu escrevesse isto para desabafar, desestressar do dia a dia massacrante. Ele até me trouxe dois cadernos, hoje, pela manhã. Meu coração acelerou quando ele me beijou delicadamente, como há tempos não fazia..."

Wow... aquele era o diário de Avril Howards, a mãe de Luigi. Arqueei as sobrancelhas, com a mais nova descoberta.

"Carlos prometeu que não me deixaria sozinha, o que, neste momento, parece ter esquecido. Ele anda extremamente ocupado, andando de um lado para o outro com suas funções de Fondatore Maestro, mal notando minha existência.

Sei que sou ridícula por dizer isso, mas eu esperava mais dele. Eu o amo, e ele também me ama, embora não esteja a demonstrar como de costume."

Então Avril amava Carlos de verdade? O choque percorreu minhas veias, e obriguei-me a apertar os olhos, para enxergar melhor na fraca luz de vela. Mais que isso... Carlos a amava de verdade?

"Sinceramente... acho que já chega de sentimentos por hora. Sei que estou soando melodramática nisto aqui, mas é a minha realidade.

Sem mais nada a declarar,
A. H."

Minha curiosidade foi atiçada pelo diário revelador, o que me fez virar a madrugada agarrada às páginas lotadas. Alguns trechos, em especial, chamaram minha atenção, tais quais:

"Hoje acordei indisposta, tremendo bastante. Carlos disse que pode ser um efeito do remédio, mas tenho certeza de que não. Para mim, isso é efeito do estresse e da mágoa.

Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora