Cap. 1: Visitas Interessantes

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*Mudança no estilo de narrativa*

Mesmo que temerosa, fui empurrada pelas empregadas até meu quarto. A porta, que eu havia fechado, estava escancarada. E, assim que olhei para o corredor, jurei ter visto alguém correndo para longe.

- Você precisa entrar, senhorita. - disse uma das mulheres que me acompanhavam.

Obedeci-a porque estava cansada de resistir, e a curiosidade dominava meus pensamentos. Quem seria o vulto em fuga?

Nós entramos no quarto e elas me fizeram sentar de frente para a penteadeira, que era antiga e azulada. O resto do cômodo também tinha um estilo meio antiquado, porém elegante. A cama era grande e possuía uma pequena mesinha de cabeceira; uma grande estante, que abrigava apenas dois livros, ficava ao lado das cortinas que, se abertas, davam apenas em uma parede de tijolos bege; um armário gigante guardava várias peças de roupa caras, das quais eu não queria nem ouvir falar; e, por fim, havia o banquinho no qual eu estava sentada, que combinava com os demais móveis. Apenas observei enquanto as mulheres, silenciosamente, me cercaram e começaram a trabalhar.

Uma delas cobriu os arranhões e ferimentos causados pela minha fuga, enquanto a outra puxou meu cabelo para trás, criando um coque impecável. Sua habilidade com maquiagem me lembrava Bianca, mas seu silêncio era estranho. Resolvi balançar a cabeça, ignorando as memórias tristonhas.

- Pronto. - comentou uma delas, encarando a colega - ela está parecendo uma princesa.

- Sim. Acredito que o Senhor Luigi adorará. - respondeu a outra.

Com os pensamentos distantes, olhei-me no espelho.

Meus cabelos, brancos, estavam impecáveis no coque. A sombra em meus olhos era violeta, os cílios postiços eram longos e escuros, o delineado era grosso e brilhante e o batom era roxo. Meu vestido era da mesma cor que a sombra, sem saia de armação, e estendia-se em uma cauda curta. Meus pés quase não apareciam, calçados com sandálias prateadas de salto baixo.

As duas provavelmente esperavam que eu sorrisse, portanto o fiz, para que saíssem logo do quarto. Porém, assim que a porta se fechou, minha expressão alegre morreu, e meus olhos castanhos ficaram vazios. Era assim que bonecas eram, afinal. Lindas por fora, ocas por dentro.

×××

Luigi não me obrigou a segurar seu braço, o que me fez respirar aliviada. Em vez disso, quando me afastei dele, o mesmo sorriu, enfiando as mãos nos bolsos da calça e ordenando que abrissem a porta da sala de estar. Internamente, fiquei surpresa, pois eram cerca de vinte pessoas que nos aguardavam ali.

Um número tão alto de visitantes era incomum, além de indesejado por Carlos Mangini, o pai de Luigi. Recentemente, eu descobrira que, mesmo já tendo assumido o posto de Fondatore Maestro, Luigi continuava sob a tutela do pai. Estaria em período de "aprendizagem" até os 25 anos, quando finalmente teria liberdade para comandar a Sociedade. Deus nos acuda, pensei, imaginando o caos que seria o mundo quando Luigi fosse o dono de tudo.

Nós nos aproximamos das pessoas e, obrigatóriamente, me curvei, em um cumprimento silencioso. Luigi girou as mãos e se curvou também, sorrindo maliciosamente.

- Sejam bem-vindos, meus caros. Nós acabamos nos atrasando porque minha bambola demorou ao se arrumar.

Sendo um total de 13 homens e 7 mulheres, os visitantes assentiram. Apenas um deles se levantou e, com pompa, andou em minha direção.

- Mas é bonita, mesmo. - o homem, com cabelos grisalhos e aparentes 50 anos, tocou meu rosto - O senhor escolheu muito bem, meu Mestre.

Sem querer, afastei meu rosto, fazendo-os rir.

Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora