Cap. 15: Belos Enfeites

4.5K 624 112
                                    

Eu ainda estava deitada no chão do andar superior quando o funcionário encarregado de me vigiar apareceu. Seu rosto demonstrava raiva, a princípio, e pude perceber um belo hematoma em seu pescoço (provavelmente resultado de punição). Mas depois, conforme foi observando meu rosto, sua expressão suavizou. Por fim, ele apenas estendeu a mão e me ajudou a levantar, surpreendentemente.

Caminhamos em silêncio, cada um lidando com suas próprias feridas, até a porta de meu quarto. Eu não queria saber o que Luigi havia ordenado, não naquele momento. Porém, antes que tivesse a chance de me enterrar em esquecimento, avistei Lindsey, parada no meio do corredor.

- Ah, aí está. - ela exclamou, e meu sangue gelou por alguns segundos, devido a presença do funcionário - O Senhor Luigi permitiu que eu ficasse no lugar das empregadas da Sociedade. Hoje elas estão muito ocupadas com os novos hóspedes, e minha chefe ofereceu meus serviços ao bem comum.

Pensei que o guarda fosse fazer sua carranca habitual e se negar a sair dali. Porém, quando me virei em sua direção, percebi que suas bochechas estavam levemente coradas e seus olhos azuis percorriam cada milímetro do rosto da agente. Franzindo as sobrancelhas, perguntei-me se aquela não seria uma estranha amostra de amor à primeira vista.

- S-sim. - o gigante murmurou, saindo dali o mais rápido possível. Ele não devia ser velho, pois o mau-humor era o que ocultava seus possíveis 26 anos.

Encarei Lindsey assim que o homem abandonou o cômodo, e permiti que ela me empurrasse para dentro do quarto. Assim que o fez, trancou a porta e virou-se para mim, de olhos arregalados.

- Você não sabe o trabalhão que foi para que Tréville conseguisse me pôr na sua cola. Sorte que o Mangini estava perturbado demais e que muitas pessoas chegaram a casa. - ela avançou, segurando meus ombros - A chefe te mandou um recado: você enlouqueceu?!

Mais essa agora, pensei, suspirando e me desvencilhando de seus braços. Andei até a penteadeira, curiosa com o atual estado de meu rosto.

- Não. - respondi - Eu não pretendia fugir de verdade. Acontece que Luigi estava desconfiando demais, e podia acabar chegando na investigação... precisei fazer isso.

- Se essa era a questão, você devia ter nos falado! Nós pensaríamos em algo muito melhor e mais seguro!

- Não seria possível. As suspeitas dele estavam inteiramente sobre mim. - vi que meu lábio inferior estava inchado e sangrando, pois eu o havia mordido entre os tapas - Você sabe que não haveria outro jeito.

- Mesmo assim, Alessa! Você é uma peça fundamental deste caso, e se tivesse... morrido, teríamos ficado sem chão!

- Mas há o Ônix, não há?

- Sim, mas o garoto D'Gasperi praticamente surtou! Ele nos mostrou o bilhete que você escreveu. Faz ideia de quão preocupados ficamos?!

Encarei-a, subitamente angustiada.

- Como assim ele surtou?! - exclamei, esquecendo por um segundo que deveríamos ser discretas.

- Ele não parava de lamentar sua fuga, de se perguntar como estaria. Teve uma hora em que se sentou num canto da sala e todos achamos que o mesmo estivesse em transe. Foi muito difícil dobrar a garotinha Mangini desconfiada! - ela parou por um segundo e respirou fundo, parecendo repensar suas atitudes - Só... nunca mais faça isso, ok? Nunca mais faça algo sem nos comunicar primeiro.

Assenti levemente, virando meu rosto para o espelho outra vez. Além da boca, eu estava com um olho um tanto roxo e com os cabelos completamente embolados.

- Agora... está na hora de cumprir as ordens do cabeça de fogo, Alessa. - sua voz era pesarosa, o que chamou minha atenção.

Mais punições? Já devia ter imaginado... refleti, revirando os olhos e me aproximando da agente. Aquela droga não importava mais.

- O que é? - perguntei.

- Ele ordenou que eu... te deixasse ainda mais como uma bambola deve ser.

Neste momento, me lembrei do dia em que Luigi havia dito que eu devia mudar meu visual.

×××

- A partir de agora, ele disse que você só poderá sair do quarto para uma caminhada diária ou para eventos da Sociedade. E, é claro, quando ele te chamar. - Lindsey murmurou, dissertando sobre as novas ordens de Luigi.

Assenti, sentada de frente para a penteadeira, aguardando que ela terminasse o demorado processo de mudança. O que mais me enfurecia neste, no entanto, era o fato de que Luigi havia escolhido pessoalmente cada detalhe.

- Eu já imaginava algo assim... - murmurei, em um tom baixo.

- Bem... terminei. - ela argumentou, mudando de assunto - Por favor, não me odeie.

Olhei bem para o espelho, sem animação alguma. Meu coração bateu em sofrimento quando vi o resultado: cabelos pintados de castanho claro, ondulados e cortados na altura dos ombros; bochechas recobertas de blush vermelho e feridas escondidas com quilos de base; lentes de contato grandes e da cor azul. Parecia que haviam passado por cima de mim com um carro e depois me reconstruído como alguém completamente diferente. Ou que haviam derretido minha porcelana e me posto em um novo molde.

- Não ficou... tão... - mesmo que não quisesse descontar em Lindsey, acabei sem palavras boas para dizer - Não te odeio.

Ela suspirou pesadamente, assentindo.

- Até que para uma agente, eu acho que sou uma boa cabeleireira, né?

Dei um sorriso pequeno porém sincero, balançando a cabeça em afirmativa.

- Se eu não estivesse no lugar onde estou, até te contrataria. - ela riu.

- Não, obrigada, mas prefiro continuar na Polícia. Na qual, aliás, foi bem difícil de entrar. - uma pausa - Seus machucados ainda estão doendo?

Neguei, embora estivessem, sim (e bastante).

- Bem, era isso. - ela se afastou, parando na frente da porta - Tente não fazer mais besteiras, para que eu não perca minha posição no seu quarto...

Antes que pudesse terminar de falar, duas batidas na porta de madeira fizeram Lindsey arregalar os olhos. Também fiquei assustada, afinal, quem quer que fosse poderia ter ouvido mais do que devia.

Lentamente, a agente girou a maçaneta, dando de cara com um cabelo ruivo flamejante que eu conhecia muito bem.

- Alessa! Que linda que você ficou! - Thereza exclamou, com toda a hipocrisia que lhe era típica - Creio que já tenham terminado de cumprir as ordens de Luigi, não?

Lindsey confirmou. Pela aparência da irmã do demônio, ela não havia descoberto nada. Pelo contrário, parecia feliz e cheia de interesse.

- Ah, que bom! Eu queria mesmo falar com você! - exclamou, juntando as palmas das mãos e me encarando com olhos brilhantes.

Apenas para me deixar radiante: dois Manginis em um só dia.



Oi gente!!! Aqui está o prometido capítulo!!! Acham que Luigi terminou desta vez?

Gostaria que soubessem que fiquei muito feliz com as respostas ao meu comunicado. Se pudesse, eu agradeceria em cada comentário de vocês, mas o tempo me falta. Obrigada por me entenderem e me apoiarem, viu? Vocês valem ouro. :') ♡

Também gostaria de aproveitar para convidá-los (outra vez) para a comunidade de Porcelana no Amino. Chama-se "Porcelana - A S.S.", e conta com várias atividades interativas e spoilerzinhos camaradas, kkk.

Bjsss, espero que tenham gostado!!!

P.S.: Eu nunca desistiria dessa história, meus amores. Os bons leitores fazem os maus sumirem. :D

P.P.S.: Imagem divosa da multimídia por LarissaCamilyH. Eu amei! ^-^

Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora