Cap. 28: Breve Consolo

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Depois de ter recebido Lucca em meu quarto e ter descoberto que era por volta de umas 17h, acomodei-me na cama e esperei ansiosamente o momento em que poderia dormir de novo e Lindsey me deixaria em paz. Ela não parava de fazer perguntas sobre cada detalhe do que eu havia visto, mesmo que eu lhe dissesse que vira somente uma estante ocultada por uma porta. De acordo com o que me contou, Tréville e os demais agentes também acolheram a novidade com deveras animação. Aquilo era um avanço para a investigação, e agora só faltava um plano para roubar o mapa das sedes e alguns registros como provas.

Aparentemente, eu era a única que pensava no pouco tempo que ainda tínhamos, o qual se esvaía rapidamente conforme o risco de a Sociedade se espalhar pelo mundo aumentava. Se demorássemos muito a partir da Hora do Progresso, o planeta estaria perdido.

- Você está sentindo alguma coisa? - Lin perguntou, no momento exato em que retornou de outra saída. O que quer que estivesse fazendo a estava deixando enérgica em dobro.

- Sono. - respondi, bocejando e virando a cabeça de lado.

Parecia que eu passara embaixo das rodas de um caminhão, fraturando cada osso do corpo e esmagando o cérebro. Parecia, também, que depois disso alguém havia ajuntado meus restos do asfalto, colocado em um recipiente novo e chacoalhado tudo, tentando pôr no lugar.

Mesmo assim, Lindsey não me deixava dormir.

- Eu estava falando sobre outros sintomas. - ela exclamou, revirando os olhos e parando a alguns passos de distância da cama - Mas tudo bem, vou te dar uns créditos pelo dia.

Ergui o pescoço e encarei-a, vendo que estava de braços cruzados e olhar firme. Deixei a cabeça cair de volta no travesseiro, arrependendo-me pela rapidez logo em seguida.

- Me pediram para te entregar umas coisas, também. - ela falou, recuperando minha atenção.

- O quê? Quem pediu?

Como resposta, ela circundou o colchão e me entregou dois papéis, além de uma caixa preta de tamanho médio. Suas sobrancelhas franziram-se conforme me observava.

- Abra e descubra.

Suspirei, esticando a mão para alcançar a maldita vela da Sociedade, e aproximei-a primeiro dos papéis. Queria saber o que estava na caixa, mas também pretendia descobrir de quem viera tudo aquilo.

Quando peguei o primeiro bilhete na mão, bufei. Um arrepio de raiva e medo subiu por minha espinha, enquanto as chamas da vela tremulavam sobre o nome datilografado ali: Luigi Mangini.

"Perfeição,

Seu pequeno acidente de ontem baseou-se na confusão de uma empregada, que levou a entrada do jantar de outra pessoa ao seu quarto. Julguei estranho o comportamento dela, por isso a interroguei e, sem oferecer respostas que fizessem sentido, a mesma já foi punida.

Espero que sua saúde melhore logo, e que aceite o presente que lhe enviei na caixa. Creio que ficaria muito bonita com ele no próximo jantar elegante que tivermos aqui.

Saudações,
L. Mangini"

A mulher que estivera em meu quarto fora punida. O nojo causou-me ânsia de vômito, ao pensar nos horrores que eram os castigos naquele lugar. Ela podia até ter me prejudicado, mas ninguém sabia o porquê. A pobre podia muito bem ter sido ameaçada.

A falta absoluta de desculpas na carta de Luigi apenas me fez pensar mais uma fez no quão louco e terrível o demônio ruivo era. Quando abri seu presente, encontrando um vestido verde água bastante elaborado e uma caixa nova de lentes de contato azuis, ri amargamente e joguei tudo no chão. Lindsey reclamou e correu para ajuntar, mas eu a impedi e disse para que deixasse o "presente" como estava. Luigi morreria esperando que eu o usasse, no que dependesse de mim.

Peguei o segundo bilhete com as mãos tremendo de raiva e emoção, prometendo a mim mesma que não me abalaria com o que quer que fosse. Porém, antes que conseguisse sequer equilibrar as batidas do coração no peito, vi uma letra bordada belíssima surgir no papel: ela dizia "De: Ônix D'Gasperi".

Esqueci tudo o que estava a minha volta e abri a carta bem dobrada, sem conseguir evitar que minha visão ficasse embaçada.

"Musa, você realmente quer que eu morra, não quer? Dannazione, justo quando minha irmã some, você tem uma overdose!!! Pensei que, se você se fosse, eu iria junto. Não me condenaria a viver em um mundo onde não tenho absolutamente ninguém amado do lado. Não outra vez.

Eu admito que fiquei bastante nervoso, principalmente porque Thereza aproveitou o dia de ontem para tentar "se aproximar". Só sosseguei quando Lindsey foi secretamente ao estúdio me contar que você estava viva. E que também havia visto coisas preciosas.

Olhe, sou egoísta e confesso: entre perder você e sacrificá-la por uma causa maior, mandaria o mundo todo se ferrar. Desculpe por não estar calmo nesta carta, mas é que meu peito e minha mente transbordam de tristeza, raiva e um amor tão profundo que acho que está me matando. Detalhe: está me matando porque eu quero, e isso é o mais confuso. Sempre fui o tipo de pessoa que abstém-se de situações complicadas.

Provavelmente escreveria 3 livros para você, e ainda assim não teria expressado tudo o que quero. Ontem, agora e provavelmente amanhã, o que mais desejo é ver você. Mas de um jeito livre, e não acorrentado pela Sociedade. Quero amá-la sem barreiras, e creio que este desejo possa ser a causa de minha ruína. Pois bem, não ligo. Destruo-me com um sorriso no rosto.

Agora Lindsey precisa que eu seja breve, portanto, o serei. Digo em uma só frase a única coisa que permeia cada ato meu:

Eu te amo, Alessa Fragnello. Viva, por favor, pois sem você eu também acabo.

Ônix D'Gasperi"

O artista tinha a incrível habilidade de esmigalhar-me e então reconstruir-me outra vez, tudo nas mesmas palavras. A imagem de seus olhos umedecidos e vermelhos invadiu meus pensamentos, lotando-os das cores verde e preta. Agarrei-me a elas ao suspirar e esfregar o rosto, colocando a carta que acabara de ler sobre o coração. Concentrei-me nas batidas ao encarar Lindsey e, com uma determinação que facilmente moveria o planeta, dizer:

- Tudo bem, então. Vamos enfrentar isso e qualquer coisa que venha. Essa Sociedade Porcelana não vai me vencer apenas com uma sabotagem.

Alheia ao conteúdo das cartas e com as sobrancelhas levemente franzidas, a resposta que ela me ofereceu foi um sorriso reconfortante. Retribuí-lhe com um olhar cansado porém sincero.



Oi gente!!! Mil desculpas pelo atraso, é que eu tenho umas leituras para terminar e fico indecisa na hora de ler ou escrever. No fim, sem conseguir decidir, eu acabo não fazendo nada. Meu signo não é libra, no entanto. :')

Espero, de coração, que estejam gostando. Porcelana 2 chegou aos 71K, e eu estou muito feliz! Obrigada por tudo!!!

Assim que eu terminar de ler, terei mais tempo para escrever, juro. Aí adiantarei a história. Detalhe: a previsão atual é de 40 a 45 capítulos para este livro. Estão prontos para o final? :")

Bjsss, aproveitem!!!

Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora