Cap. 31: Inveja Que Mata (Parte I: Encontros)

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Sussurrei-lhe todo o plano com uma pressa que fazia as palmas de minhas mãos coçarem. Ônix ficou quieto enquanto falava sobre minha ideia louca, e ressaltava a necessidade que tínhamos de sua participação.

Em determinado momento, ele apenas apoiou o queixo em meu ombro e continuou ouvindo até o final.

- Como você tem mais liberdade, graças à Thereza... - murmurei, sem terminar a frase e sem obter respostas.

Ele ficou parado por um tempo, parecendo pensar seriamente no assunto. Então, suspirou, afastando-se e ajeitando a postura. Quando falou, enfim, suas costas estavam retas e sua voz estava baixa:

- Sabe, musa, eu passei muito tempo chorando enquanto esteve mal. Passei muito tempo cutucando as feridas, repensando no que poderia fazer por minha irmã... então eu vou ajudar. - quando observei seus olhos, a névoa de todo o tempo pregresso havia se dissipado. Por um momento, antes que se ocultasse, vi o brilho da teimosia que tão característica lhe era - Ho bisogno di piangere e combattere se vuoi qualcosa, giusto? Soprattutto se questo è qualcosa per difendere ciò che amo...

O italiano, que há tanto eu não ouvia, preencheu suas frases e meu coração. Não entendi tudo, de fato, mas o tom de sua voz foi capaz de fazer meu sangue ferver.

- Sim! - exclamei, a resposta mais simples e ao mesmo tempo completa que poderia dar.

Sorri com sinceridade, encarando seu rosto com olheiras fundas e refletindo, por um instante, se o que estava fazendo era certo. O brilho renovado no verde e no preto me disse que sim.

- Eu bem que tive o pressentimento de que você concordaria. - murmurei.

- E eu bem que tive o pressentimento de que você planejaria algo... - um suspiro - Mas, não se engane: eu não sou nobre desse jeito, tudo bem?

Ele se aproximou rapidamente, a boca quase encostando em minha orelha.

- Solo la disperazione per nascondere la testardaggine... - sussurrou, conforme um calafrio tomava conta de meu corpo.

Minha mente confiava na ideia, e meu coração torcia por ela. Sem conseguir pensar em nada para rebater a frase que eu acabara de ouvir, apenas virei o rosto em sua direção, encarando-o.

- Pode dizer para Tréville que eu estou dentro, mesmo que um tanto forçadamente. - ele sorriu, como há muito não fazia, e piscou.

Se fosse para ter aquilo, a emoção que me inundou quando agiu assim, então eu poria em prática mil ideias arriscadas.

×××

A saída do estúdio foi tão complicada quanto a entrada.

Com o peito arrebatado por uma enxurrada de emoções (muito boas, no entanto), era difícil me concentrar no caminho.

Veja bem, uma bambola, destroçada pela vida, cujo amor fora humilhado e arrasado, estava recebendo a chance de se salvar. Uma alegria descomunal cobria meus sentidos, principalmente porque eu sentia, finalmente, que não perderia Ônix.

Sentia, firmemente, que ele era forte para lidar com aquilo.

Caminhei de maneira atrapalhada porém silenciosa, quase sendo vista por duas empregadas. Elas moviam-se com pressa e tensão, o que ocultou minha imagem na escada. Só que as próximas pessoas que aparecessem podiam não estar tão aéreas.

Locomovendo-me pelo corredor acarpetado, prendi a respiração, tentando evitar pensar em tudo o que poderia dar errado. A imagem de Lindsey não conseguindo conter o guarda, ou de Luigi surgindo do próximo cômodo, fazia meus joelhos fraquejarem. Utilizando de apoio a coragem adquirida com a determinação do artista, fechei os olhos por um instante e depois os abri, prosseguindo. Você precisa parecer calma, Alessa. Se alguém te vir, finja que está apenas obedecendo ordens... mas falar era extremamente fácil, enquanto fazer era árduo e exigia auto-controle.

Quando avistei a porta de meu quarto, no entanto, quase suspirei de alívio. Ela parecia envolta em uma nuvem dourada, remanescente da luz das velas que eu deixara acesas. Provavelmente, era apenas minha cabeça desesperada fantasiando coisas sobre salvação, mas tocar o metal frio da maçaneta fez meu coração palpitar devagar.

Salva, salva, salva...

- Ale? É você? - ouvi, às minhas costas, e perdi a esperança que me esforçava para manter.

Condenada, condenada, condenada... pensei, me virando lentamente para encarar Thereza.

- Sim, por quê? - falei, lutando para manter a respiração regular.

A garota pequenina e ruiva, com olhos dourados que teriam tudo para ser de um anjo, inclinou a cabeça para o lado. Suas mãos estavam unidas na frente do corpo, em uma pose falsamente interessada.

- Eu é que pergunto: por quê? - respondeu, tentando me superar.

Girei a maçaneta, abrindo a porta do quarto em um movimento rígido e pouco natural.

- Estava apenas caminhando por aí. Seu irmão pediu que eu desentocasse do quarto antes de mofar... - utilizei expressões que Luigi provavelmente usaria, com um tom de voz também semelhante ao seu.

- Ah, entendi! - falou, esboçando um sorriso gigante que eu sabia que exalava veneno. Ela deu alguns passos para perto de mim, quase saltitando - É bem a cara dele mesmo, marcar as coisas e não aparecer! A reunião acabou tumultuada!

Ela estava jogando verde para colher maduro, percebi. Mas, não, eu não iria cair em seus truques outra vez. Concordei, sem me abalar, sabendo que demonstrar qualquer nervosismo poderia significar o meu fim.

- Estou percebendo. - respondi - Mas... o que quer?

A verdade era que eu queria me livrar dela o mais rápido possível, tirá-la da frente de meu quarto e chamar Lindsey. A única coisa que eu não sabia, era se chamaria a agente para contar sobre nossos planos ou pedir ajuda.

- Nada demais! Apenas vim aqui conversar com você! - ela riu de um jeito agudo, pondo a mão esquerda em meu ombro - Eu e Morgana queremos falar com você, na verdade!

Então, ela apontou para dentro do quarto, onde uma figura extremamente silenciosa e observadora estava parada, de pé, no meio do cômodo. Gelei, empalidecendo com o susto.

- Sobre o que querem falar? - perguntei, engolindo em seco.

Eu não queria ouvir a resposta, não mesmo.

- Como a There disse, Alessa, não é nada demais... - Morgana respondeu, aproximando-se também - Queremos falar apenas sobre umas coisinhas que nos intrigam...

O sorriso que ela deu, mostrando os dentes por completo, me fez lembrar do demônio ruivo. As duas ali, na verdade, pareciam cópias suas.

Luigi Mangini não era o único monstro da Sociedade, lembrei.

- Eu quero me desculpar, também... - ela continuou, a careta diabólica se expandindo - Acho que acabei exagerando na dose de comprimidos do seu mingau.

Soltei a respiração, incrédula.



Ho bisogno di piangere e combattere se vuoi qualcosa, giusto? Soprattutto se questo è qualcosa per difendere ciò che amo... = Preciso recolher o choro e lutar se quiser algo, não é? Principalmente, se esse algo for defender o que amo...

Solo la disperazione per nascondere la testardaggine... = Apenas o desespero para ocultar a teimosia...

Oi gente!!! Tudo bem com vocês?

Tenso, tenso e tenso. Isso é o que tenho para falar, kkkk.

Estão com medo pela Alessa? Eu estou. :×

Bjsss, até a próxima!!!

P.S.: O jogo das músicas continua, viram? ;)

Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora