Cap. 5: Convidados Especiais

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Eu ainda estava em choque quando me arrastei de volta para o quarto, lugar do qual planejava não sair por muito tempo. Depois da perseguição, minha dor de cabeça cotidiana retornara com tudo, o que me fez ficar deitada o resto do dia, apenas tomando água e encarando o teto. As empregadas hora ou outra entravam e saiam, mais apressadas do que o normal.

Ninguém parecia afetado pela loucura do demônio ruivo.

×××

Lá pelas tantas, na hora do crepúsulo, enquanto as empregadas me rodeavam freneticamente, um peso recaiu sobre meu coração. Era uma sensação estranha, meio dolorida, que eu jamais havia sentido. Esfreguei a região com a mão esquerda, tentando me acalmar.

- Pronta, outra vez! - exclamou uma das mulheres, tomando certa distância - o Senhor Carlos com certeza aprovará.

Ah, é. Carlos Mangini agora habitava a mansão, o que piorava minha situação. Eu já o vira algumas vezes antes, (pois o mesmo estava quase sempre viajando na companhia da esposa) mas nenhuma delas fora agradável. O homem enorme era assustador, e sua bambola (a mãe de Luigi) sempre parecia assustada.

Tive de cerrar os punhos, respirar fundo e encarar o espelho, assim que as empregadas ordenaram. Naquela noite, tinham entregado-me um vestido preto e justo, com saia estilo sereia que tocava o chão. Na barra da saia e no contorno do busto, pequenas pérolas brancas cintilavam, destacando minhas curvas atualmente quase inexistentes. Meus ombros, escondidos pelas longas mangas, estavam magros e proeminentes, enquanto a marca da Sociedade tornava-se uma linha irregular e avermelhada. Meus olhos foram carregados com sombra escura, o que deixou-me mais velha. Fiquei curiosa com aquilo, afinal, sempre faziam questão de deixar-me como uma bonequinha.

Por fim, as empregadas entregaram-me um casaco verde e fino, além de sapatilhas da mesma cor. Foi impossível não lembrar de certas coisas, devido aos tons de verde e preto.

As mulheres postaram-se em meu encalço e puseram-me no caminho da sala, embora eu tentasse resistir. Aparentemente, o que quer que Luigi e seu pai houvessem planejado se realizaria naquele cômodo maldito.

Conforme me aproximava, a dor no peito ia aumentando. Provavelmente, ela estava relacionada ao terror que seria encarar o ruivo tão logo.

No corredor já era possível ouvir o barulho da conversa, que reverberava pelas paredes da casa. Havia muita gente ali, de fato, o que constatei quando entrei na sala. Eram todos Frequentadores, com seu jeito autoritário e porte elegante. Eles estavam espalhados pela extensa sala de estar, sentados nos sofás de veludo ou caminhando de um lado para o outro, sendo seguidos de perto por funcionários preparados para servir. Quando me virei, em busca das empregadas que me escoltavam, percebi que as mesmas haviam partido.

- Olá, Alessa. - disse uma voz feminina, que chamou minha atenção.

Era Madame Tréville, com seu sotaque carregado e manto de pele pomposo. Por trás da taça de vinho que carregava nas mãos, a mulher piscou, logo distanciando-se. Seu comportamento prezava por evitar suspeitas, mas, mesmo assim, eu me sentia mais segura com sua presença. Procurei pelo uniforme bordô que Madame descrevera mais cedo, deparando-me com uma mulher que estava encostada à parede norte.

- Meus caros senhores... - exclamou uma voz grossa e imponente, que tirou minha atenção - hoje, o dia em que retorno para meu lar após uma longa viagem, com certeza entrará para a história! Para a história das melhores comemorações da Sociedade, isto é.

Todos ao redor riram, voltando-se para Carlos Mangini, que surgiu em um pequeno palanque improvisado no canto da sala.

- Espero que aproveitem o banquete, meus amigos! Minha casa está aberta a vocês! - Carlos exclamou, alisando a barba espessa. Ele vestia um terno totalmente preto, sem gravata, que aumentava seu ar de monstro - agora, deixo as palavras para meu filho.

Palmas suaves ecoaram pelo local, enquanto meu estômago revirava. Era um milagre não terem me arrastado para junto de Luigi naquele momento, o que foi ao mesmo tempo um alívio e um fato intrigante.

O demônio ruivo subiu ao palanque com sua agilidade natural, que tornava-o parecido com uma raposa. Luigi acenou para a platéia, vestido em roupas semelhantes as do pai, o que arrancou sorrisos da multidão.

- Repetindo as palavras de meu pai: sejam bem-vindos! - começou, curvando-se de leve - a partir de hoje, como bem sabem, muitos de nós virão para esta casa. Começaremos a tratar de assuntos importantes, mas que não ofuscarão o clima de festa iniciado!

Assuntos importantes. Aquelas palavras fizeram o que restava de minha espinha congelar, de uma maneira sinistra. Novamente, pensei em me aproximar da funcionária de Tréville, apenas para criar a ilusão de proteção.

- Estrangeiros virão para nossa casa, mas os velhos amigos também retornarão ao lar! - Luigi continuou, conforme eu me esgueirava pela multidão, tentando ficar o mais longe dele possível - nossa família, criada pela Sociedade Porcelana, aumentará ainda mais!

Nessa hora, a dor que sentia no peito me deu ânsia de vômito. Precisei segurar minha própria barriga para engolir a bile, mas ninguém virou para ver como eu estava. Todos estavam centrados demais no discurso de seu futuro líder.

A "família" da Sociedade aumentará ainda mais?

- Portanto, como bem sabem, para unir nossa Sociedade em um momento tão importante, primeiro é necessário reunir seus líderes. - Carlos Mangini cruzou os braços com satisfação - De antemão, peço que a senhora minha mãe suba ao palco, e que minha noiva, Alessa Fragnello, também.

Travei no lugar, a exatos dois metros da funcionária de Tréville. Mal consegui ler seu crachá, no qual estava escrito "Lindsey", e já fui impulsionada para a frente. Parecia que, finalmente, as pessoas ao redor haviam me notado ali. Seus olhares perversos recaíram sobre mim, conforme fui andando na direção do palanque.

- Agora, convido também minha irmã, Thereza Mangini, que acabou de voltar da casa de meus avós maternos, a subir ao palco. - eu, que ainda não havia me aproximado, congelei no lugar com a frase de Luigi - Venha cá, minha convidada especial!

E foi então, depois de quase meio ano, que vi a garota ruiva da qual sentia uma raiva extrema. Ela, em um vestido preto e grudado ao corpo, apareceu por entre a multidão, sorrindo e acenando como se estivesse em uma passarela.

Bom seria se fosse só isso. Bom seria, se Ônix não viesse andando atrás dela.



Oi gente!!! Desculpem pelo atraso!!! Eu fiquei lotada de trabalhos nesses últimos dias!!!

E então? Ficaram com o coração acelerado por causa do final deste capítulo? Espero que sim, kkkk.

Bjsss, aproveitem!!!




Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora