Cap. 35: Comemorações Ingênuas

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No dia em que Carlos e Luigi Mangini pegaram suas malas e andaram em direção a porta, com ares de seriedade, o alívio foi impossível de conter. Enquanto Morgana chorava, fazendo um teatrinho pela partida dos dois, Avril se mantinha distante e de cabeça baixa.

Carlos encarou a esposa brevemente, mas logo depois saiu, escoltado por três funcionários. O que quer que fossem fazer, realmente era importante.

- Até logo, meus caros. Tomem cuidado para não morrer de saudades minhas. - o cabeça de fogo falou, um sorriso tremulando no rosto - É por pouco tempo.

A vontade de correr atrás e bater a porta em suas costas foi imensa. Porém, a satisfação pelo que pretendíamos, em um todo maior do que somente eu mesma, manteve-me no lugar.

Assim que sumiram e a entrada se fechou, Thereza pulou no lugar. Sem a influência dos dois Manginis líderes, suas vontades infantis prevaleciam. Mal se passaram cinco segundos, ela já exclamou:

- Para mantermos a alegria da casa, eu proponho um banquete diferente!!! Algo repleto de cores!!! - juntou as mãos, um sorriso grande na face - Morgie, o que acha? Seremos as anfitriãs.

Morgana, enxugando as lágrimas de crocodilo, assentiu com a cabeça.

- São bons planos.

Ainda no lugar, contive minha própria alegria. Tenho planos melhores, aposto.

×××

Enquanto eu caminhava para a sala de jantar, só conseguia pensar no quão ridícula e incômoda era minha roupa: de um azul turquesa profundo, um vestido com saia bordada descia até meus joelhos, terminando em babados brancos. As lentes de contato claras faziam meus olhos parecerem maiores e assustadores, e meu cabelo loiro estava preso em um coque com tranças. Por fim, uma maquiagem repleta de iluminador e brilho destacava meu rosto, tornando-me o retrato de uma bambola.

A sapatilha de salto machucava meus calcanhares, fazendo-me andar de maneira estranha. A "cerimônia" de Thereza e Morgana era tão exagerada e elaborada, que Lindsey precisara da ajuda de outra empregada para me arrumar. Assim que entrei no lugar marcado, sob a luz de dezenas de velas de cera roxa, avistei uma multidão ainda mais colorida.

Cores, Thereza pedira. Com um vestido dourado reluzente que descia até o chão e cobria-lhe os braços, observava os outros de maneira satisfeita.

- Boa noite. - disse o homem bêbado do banquete de outrora, com uma educação forçada e rígida.

Apenas assenti com a cabeça, desviando de seu caminho, e voltei a me focar na cena. Meu coração precisava permanecer sob controle para o que ocorreria na madrugada, e fingir que estava tudo bem era a melhor maneira.

De longe, avistei Ônix. Quando o fiz, no entanto, quase perdi o fôlego. Ele, como na sede em que estivemos, mantinha-se em destaque: pó dourado sobre as pálpebras e suspensórios de mesma cor, pele branca intrincada e sem marcas, camisa clara perfeitamente passada e calças pretas. Apesar de sua aparência ter sido criada para combinar com a de Thereza, eu não consegui encontrar nenhuma semelhança entre os dois.

O artista estava escorado em uma mesa de frutas, olhos sérios encarando o palito de morangos que segurava. Era óbvio que ele, assim como eu, estava pensando muito mais longe do que aquele momento. Seu cabelo branco, mais comprido do que de costume, fora alisado e penteado em ondas, como a espuma do mar.

A música de um piano, escondido na multidão de Frequentadores que aumentava cada vez mais, acompanhou o instante em que Ônix ergueu os olhos verdes e negros para meu rosto. Assim que o fez, um pequeno sorriso de canto surgiu em sua face, que ele ocultou mordendo um dos morangos.

- Alessa!!! - gritou alguém sobre meu ombro, fazendo-me pular no lugar.

A voz estridente de Thereza parecia surgir literalmente do nada nas piores horas. Quando encarei-a, o sorriso gigante em sua cara me lembrou o Coringa.

- Sim? - respondi, simplesmente, fazendo o possível para manter a neutralidade.

- O que está achando? Um arco-íris, não? - riu, indicando as pessoas vestidas em diferentes cores que perambulavam por aí.

- É uma bela comemoração de despedida, claro. - murmurei, referindo-me à partida dos demônios pai e filho pela manhã.

Os olhos da ruiva cerraram-se, o que demonstrou que ela havia entendido a provocação.

- Sim, é mesmo. É certo aproveitar as oportunidades que aparecem, ué! - exclamou, girando sobre os próprios pés - Com licença.

Ela caminhou até um ponto em destaque na multidão, chamando a atenção dos funcionários e pedindo que todos se acomodassem para a janta. Por não ter posição especial nenhuma naquela noite, sentei-me em qualquer lugar da longa mesa, suspirando. Logo, a comida foi servida, exatamente como o esperado: em pratos montados.

Tendo certeza da influência de Tréville em tal característica da noite, olhei brevemente em volta, procurando por seu rosto. Não consegui encontrá-la, o que presumi ser sinal de sua ocupação. De um prato branco, uma porção de arroz, legumes e carne me encarava, perigosa. Eu precisava e devia comer tudo.

Sem mais delongas, peguei os talheres e comecei a engolir os alimentos, sem apreciar gostos ou texturas. Os minutos pareciam escorrer de maneira imperceptível e sôfrega, sem que ninguém me dirigisse a palavra. Por fim, quando meu garfo raspou o fundo do prato, sinalizando o término de seu conteúdo, levantei a cabeça: encontrar uma face conhecida se tornara questão de necessidade.

Eu me mantivera calma até o momento, tendo planejado-o com cuidado. Porém, depois que estava feito, passei a me sentir estranha. Minha respiração soava ofegante e distinta de mim mesma, pelo fato de que era tarde para mudar de ideia. Era tarde até para arrependimentos, aliás.

Pensando que ia sufocar em meu próprio silêncio sem que qualquer um se desse conta, me levantei, saindo do grupo dos que ainda comiam e me juntando aos que perambulavam com taças de bebida na mão. O suspense me matava lentamente, com garras longas e obscuras, enquanto um piano psicodélico tocava ao fundo do ambiente.

Então, uma mão pousou delicadamente em meu ombro, fazendo-me virar e voltar para a realidade.

- Vuoi ballare? - perguntou Ônix, com a voz controlada, enquanto o espanto em mim crescia.

- Como assim? - perguntei, com medo de desconfianças e das pessoas ao redor. O italiano em sua frase, no entanto, soou como um acalento.

- Isto é uma festa. Thereza me disse para dançar. - depressa, puxou-me consigo, em direção a um lugar espaçoso onde a música do piano parecia mais próxima - Pretendo fazer isso.

Coisas estranhas já não me surpreendiam, de fato.



Vuoi ballare? = Quer dançar?

Oi gente!!! Tan nan nan, mistério!!! Estamos cada vez mais próximos da realização do plano da Alessa, hein. Preparem-se. ;)

Sabem que dia é hoje? É meu aniversário, kkkk. Mas quem ganha capítulo novo são vocês, em gratidão ao que me deram: jamais imaginaria Porcelana alcançando tudo o que está conseguindo. 101K neste livro, já?! Gente, eu amo vocês!!!!! :D

Bjsss, até logo!!! Espero, de coração, que estejam gostando e acompanhando!!! ♡

Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora