Quem Era Aquela Mulher?

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Suspiro alto secando a porcaria daquelas lágrimas, Selena segura uma das minhas mãos e me olha com aqueles olhinhos meigos, eu posso ver a preocupação nos mesmos, assim como a curiosidade e o amor daquela garota por mim, Selena foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida, eu vejo isso desde o momento em que ela foi presa no meu lugar.

- Quando eu tinha três anos algo aconteceu com a minha família, me lembro do orfanato, me lembro das pessoas de lá, das crianças mais novas e mais velhas que eu, me lembro de Mike, um coleguinha um ano mais velho que eu, nós sempre estávamos juntos, ninguém via Justin sem Mike e Mike sem Justin, mas um dia ele foi adotado, eu tinha cinco anos quando isso aconteceu, passei a ficar sozinho novamente, ninguém conseguia me fazer sorrir, tampouco me socializar, passei uns bons anos isolado no meu próprio mundo.

Suspiro sentindo Selena secar a porra das minhas lágrimas, ela se deita me levando junto, deitando minha cabeça entre seus seios, engulo o soluço que quer escapar, então continuo.

- Mas um dia uma mulher começou a trabalhar no orfanato, ela era bonita, meiga, inteligente e bondosa, ela me notou sentado em um banco segurando um pano horrível que eu carregava desde bebê enquanto todos brincavam, ela conversou comigo, na verdade ela conversou sozinha, os dias foram se passando e ela continuava insistindo até que eu falei com ela até não conseguir parar mais, nós tínhamos uma grande ligação então ela decidiu me adotar, eu tinha oito anos quando saí do orfanato e fui morar na casa dela, o nome dela era Susan, seu marido se chamava Poul, eles tinham uma filha de nove anos, ela se chamava Loren. Lembro que foi muito fácil para que eu me sentisse a vontade, para me sentir em casa, me sentir acolhido e amado, eles eram minha família e eu os amava com todo o caralho do meu coração.

Selena acaricia meu cabelo, eu escuto sua respiração calma e isso me ajuda, é como acalmar minha alma.

- Eu passei a ir escola, conheci uns amigos, eu era feliz, entrei na adolescência e as coisas começaram a ficar esquisitas, Susan queria se separar de Poul, Loren estava abalada assim como eu, não era legal descobrir que seu pai traía sua mãe com uma garçonete qualquer, então eles se separaram e nossa família ficou um caco, até mesmo na escola eu estava, digamos que sofrendo, uma garota estranha no meu pé dizendo me amar, eu não acreditava, não acreditava nesse tipo de amor mais. Eu e Loren nos aproximamos ainda mais para cuidar da nossa mãe, ela estava depressiva e mal saia de casa, nisso começamos a ter algo que parecia proibido nos olhos das outras pessoas, gostávamos de nos beijar, na nossa mente o nosso amor de irmãos era o único verdadeiro, até que um dia paramos na cama, nossa mãe ficava cada vez pior, nós não tínhamos comida em casa, sempre estávamos feito uns mortos de fome na escola, isso era motivo de piada para as pessoas.

Soluço me amaldiçoando por dentro, é doloroso lembrar disso, muito doloroso, Selena suspira e faz um barulho com os lábios, na intenção de me pedir calma, mas calma eu não tenho, havia anos que eu não chorava dessa forma, como um bebê indefeso.

- O que aconteceu depois, Justin? Tudo bem, pode pôr para fora.

- Minha mãe morreu, Selena, Susan morreu por causa da depressão, eu e Loren levamos um tremendo susto quando chegamos e ela estava azul deitada no sofá, sua pele gelada, remédio espalhados pela mesa de centro assim como uma garrafa de uísque e dois bilhetes, nossa mãe se despediu dizendo que nos amava e que pedia perdão por não conseguir virar a página, ela sabia sobre o nosso caso de incesto, me senti sujo quando li aquilo, eu não quis mais. Os vizinhos nos ajudaram com o funeral, foi a pior coisa que eu tive que assistir em toda a minha vida.

Agora eu ouço Selena chorar baixinho, seus soluços saem da mesma maneira, talvez fosse tão doloroso para ela escutar, como é para mim falar.

- Me lembro que passamos a viver sozinhos por um mês, nossa refeição era apenas a que davam na escola, não tínhamos mais eletricidade em casa, tampouco água quente, ou água em si, me lembro que policiais apareceram e disseram que teríamos que morar com nosso pai, eu tinha quinze anos e odiava aquele ser humano, Loren não discutia, ela também o odiava mas estava cansada de viver como um esquecido, eu a entendia. Então um dia antes de nos mudar, tivemos uma briga, eu fugi, passei a vagar por ruas, pegava carona com ônibus, roubava dinheiro, comida, roupas, o que fosse necessário para me ajudar, até que um dia eu encontrei um cara machucando uma garota, eu não pensei muito, só me joguei entre eles é quando vi o homem estava morto, a garota havia fugido agradecida e eu tinha roupas novas, assim como uma faca, mas eu também estava assustado, eu corri, corri feito um louco até esbarrar em Joseph, eu mal o enchergava pelas lágrimas e pelo fato do meu cabelo cair nos meus olhos, ele me ajudou, me limpou, me alimentou e pediu que eu explicasse, Joe observava tudo, lembro do rosto assustado dele e de quanto passei a ser ajudado pelos dois.

Quando fecho minha boca Selena chora, seu peito sobe e desce constantemente pela intensidade do seu choro, meu coração se parte um pouco ao ver ela desse jeito, me levanto e ela faz o mesmo tentando conter as lágrimas e focar em mim,

- Eu posso entender agora por que você nunca quis me contar...

- Não é bonito Selena, é triste e porra, me machuca.

- Eu sinto muito.

Sussurra, estendendo a mão, a colocando em meu ombro, abaixo a cabeça sentindo seu toque, é como me trazer de volta do inferno.

- Justin... Quem era aquela mulher?

- Loren.

Vejo Selena fechar os olhos com força, eu não sei o que passa em sua mente agora, não quero perguntar também, me sinto estranho, sufocado, porém livre, eu queria que nada disso houvesse acontecido comigo, mas é o que eu digo, ninguém nunca quer que coisas ruins aconteçam.

- O que ela queria? Porquê estava aqui? Porquê ela me pareceu tão ameaçadora?

- Me encontrar Selena, era o que ela queria, veio me dizer que nosso pai morreu a três meses, foi o tempo que ela passou me procurando, quanto a parecer ameaçadora, isso ela adquiriu quando nossa mãe se foi.

- Sinto muito por isso também.

- Saiba que ela não vai embora, não até eu me desculpar por a deixar sozinha.

- Tudo bem, não me importo, eu só quero que fique bem.

Sinto seus braços envolvendo meu pescoço e suas pernas passando por minha cintura, acabamos nus naquela cama nos movendo devagar, tínhamos todo o tempo do mundo, quando acabamos não foi Selena que se deitou sobre mim, foi eu que fiz isso, foi eu que dormi primeiro e talvez seria o primeiro a acordar.





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VOCÊ PARTIU MEU CORAÇÃO... 🎶

Esse capítulo me destruiu, eu tô acabada deitada na br.

Trust Me [Jelena] Onde histórias criam vida. Descubra agora