2. Jardim

69 3 2
                                    


- Foi simplesmente incrível! Vocês estavam tocando aquela musica maravilhosa quando de repente ficou tudo claro como se fosse dia. Então, o Zeck se levantou pra fazer o solo de estrelo e começou a flutuar, dançando com a Esfera de Miycahim – Norma Monteiro contava pela terceira vez – Não acredito que vocês não se lembrem disso.

- O que é a Esfera de Miycahim? – Felícia Carneiro que a ouvia pela primeira vez precisava saber.

- É assim que os adultos chamam o coração da árvore-ponte, Fefê – Helie respondeu atrás dela, terminando uma trança e começando outra no cabelo ruivo da amiga mais nova. As três estavam sentadas na cama de Zeck.

- Eu não diria que esquecemos. Afinal isso é quase impossível, certo? - Daiv andava de um lado para o outro no quarto redondo.

- Não se estivermos falando do absurdo... - Helie quase terminava mais uma.

- Absurdo? - Felícia tentava ao máximo não mexer a cabeça e atrapalhar o trabalho de Helie.

- Sim, lindinha. Aquilo que está além da nossa realidade - disse Norma dando um tapinha em sua perna e seguindo Daiv com os olhos.

- Pois eu me lembro bem, de todos os absurdos que já ouvi – ele disse sem parar.

- Não é a toa que você vai pra Édimo, fofo – Norma piscou quando ele finalmente olhou para ela. O garoto enrubesceu.

- Pra ir pra Édimo tem que lembrar dos absurdos? - perguntou Felícia.

- Não, amor. – disse Norma rindo – Em Édimo fica a escola sideral na qual estudam adolescentes de toda Allakelion. Pra lá vão aqueles que sonham mais. É por isso que é chamada "Escola dos Sonhos". Felícia se interessou por aquilo e tentou se ajeitar sob o protesto de Helie.

- E os outros vão pra onde? – quis saber.

- Para a escola materna, na cidade no centro do continente, perto do Monte das Brisas – Helie respondeu terminando a última trança – É lá que Norma estuda.

- E acreditem, é um lugar fantástico! – a garota mais velha disse – Nunca pensei que houvesse em Vernom lugar mais incrível que Villa, tirando, é claro, o Jardim.

- E por que você não quis ir para Édimo? – quis saber Daiv.

- Para que? O nosso reino é muito grande e cheio de coisas pra descobrir. Ainda há muitos jardins para serem cultivados. Se de repente todos fossem mandados pra Édimo quem faria a nossa história? – Norma falava com segurança e maturidade. Concluiu com um suspiro – Nasci para ficar com os pés no chão... Mas você não terminou o que estava falando, Daiv.

- Pois é – Daiv parou de repente – Eu só estava tentando explicar que eu não me esqueci do que aconteceu na cerimônia. O problema é que não foi isso que eu vi, quer dizer, que nós vimos porque parece que Helie viu a mesma coisa que eu. - e fez ar de mistério - Foi depois de Zeck ler que seu destino era em Édimo que uma luz muito forte invadiu a clareira. Não sei por quê mas senti algo diferente – fechou os olhos procurando algo em sua lembrança – Uma leveza... Quando me dei conta de que já estávamos prontos pra tocar, com nossos instrumentos na mão.

- Espere um instante –Norma fez sinal com a mão – não foi Édimo que Zeck falou.

- Ah, foi sim. – retrucou Daiv – Isso eu jamais confundiria. Mesmo que eu não tivesse escutado. Zeck é sem duvida o maior sonhador que eu conheço. Não faria nenhum sentido ele ficar em Vernom.

- Eu sei, – disse Norma – todos nós conhecemos o Zeck. Mas não foi Vernom que ele disse também – e coçou a cabeça – era um nome estranho, bem diferente de qualquer nome de reino.

BIBLIONOnde histórias criam vida. Descubra agora