17. Origens

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Em poucos segundos, toda a conversa cessou. Zeck teve que se ajeitar em sua poltrona, olhando para frente, para o nada. Ele podia ouvir algumas pessoas fazendo o mesmo ao redor dele - e como eram confortáveis aquelas poltronas!

Silêncio total.

A escuridão era palpável, até que uma luz acendeu-se diante de todos, acima de onde estava o palco. Redonda e azulada, derramava feixes cintilantes para todos os lados, em pontas como as de uma estrela da manhã. E ela estava cantando.

Huuuuuuuuuuuuuuuu

Uma única nota longa, apenas alta o suficiente para penetrar nos ouvidos, em um tom que fazia calar os mais barulhentos pensamentos.

Huuuuuuuuuuuuuuuu

A nota monótona e doce ecoou pelo teatro, fazendo Zeck se ajeitar mais confortavelmente na cadeira, sentindo uma leveza tomar todo o seu corpo.

Hoooooooooooooooo

Três novas estrelas surgiram subitamente à direita da primeira cantando notas mais agudas, harmonizando com a primeira.

Haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Cantaram duas estrelinhas verdes à esquerda. Suas vozes destavacam-se pelo timbre mais jovem e infantil.

Lentamente, sem nenhuma pausa, as estrelas se aproximaram uma das outras. Pareciam atrair-se por fios invisíveis, criados pelo entoar daquelas notas profundas. A harmonia era perfeita. O som, de outro mundo...

As estrelas estavam muito juntas agora, quase ligadas, suas luzes misturadas; o brilho, um pouco mais intenso. Tinha-se a impressão de que estavam de mãos dadas, se isso fosse possível. E juntas elas desceram, lentas e constantes;

Foi fácil perceber quando as seis estrelas se aproximaram do palco. A água abaixo refletia suas cores pulsantes. Pararam pouco acima dele e duas coisas aconteceram simultâneamente: O eco levou a harmonia para longe, dissipando-se quando elas pararam de cantar, e a núvem de vapor ficou mais espessa, transbordando em espuma agora.

Então um estrelo tocou. E mais um. E uma lufa. E uma harpa. Uma nota após a outra, fazendo muitos suspirarem. Não por causa do som - que estava longe de ser simples ou sem graça - mas porque a cada nota tocada, a nuvem tingia-se de uma cor diferente.

Ela começou a avançar para a platéia, amarelinha a princípio, depois lilás, verde aquarela, vermelha... e em um súbito que arrancou algumas interjeições da quem assistia, a escuridão foi invadida por dezenas de pontos cintilantes, vindos de todas as direções e espalhando-se acima do palco. Um verdadeiro céu estrelado; mosaico de luz, água, vapores e sons; notas que se transformavam em música; música traduzida em cores e cheiros.

Quando a última estrela se posicionou, fez-se silêncio absoluto por alguns poucos segundos. Então veio um acorde, em crescendo, entoado por todas as estrelas. Durou apenas um segundo mas fez a sala vibrar. Silêncio absoluto novamente. Alguns segundos mais, e alguém falou. Um homem de tom grave e voz penetrante:

No princípio dos mundos,

Quando o tempo era segundos,

Havia o nada,

E do nada se fez tudo.

A voz ecoou por todo o recinto. E o homem continuou, ao mesmo tempo em que as cordas tocaram notas de antecipação.

Naqueles dias,

Quando todas as estrelas

Cantavam e dançavam

A palavra foi falada,

O desejo criou forma

E a história começou...

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