62. Confissões

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 Foi com aquela convicção que ele entrou na biblioteca e encontrou Daiv e Iris sentados sozinhos em uma mesa da sala escura diante do holograma prateado de uma girafa sem pescoço. E com a mesma convicção ele cruzou a distância que os separava a passos ligeiros.

- Alguém mais chegou? - ele sussurrou o máximo que pode.

- Olha você aí! - cumprimentou Daiv - Não, chegamos mais cedo porque como você pode ver nós estamos com um problemão com nosso holograma.

- Maravilha - Ele disse ignorando o convite de Iris para que se sentasse. No lugar apoiou-se com os dois braços sobre a mesa depois de colocar sobre ela o medalhão da sociedade - Precisamos conversar.

Daiv e Iris ficaram ali olhando para o medalhão, então para Zeck, então um para o outro e de volta para o medalhão uma meia dúzia de vezes, aparentemente mais confusos do que surpresos.

- Onde você conseguiu isso? - Iris perguntou finalmente.

- Queria muito poder dizer que tropecei com ele por aí, mas a verdade é que eu venho carregando isso ao redor do pescoço mais do que eu gostaria o ano inteiro - Zeck explicou.

- Por Yadashel... - Iris exclamou baixando a voz. Zeck jogou-se na cadeira mais próxima para não chamar tanta atenção.

- Eu sei... eu sei... que eu não deveria contar isso para vocês. Não que essa seja a primeira vez que eu tente. Mas agora estamos com um problemão e precisamos de ajuda - ele cuspia as palavras sussurrando o máximo que podia.

- Iris, este é idêntico ao outro! - Daiv estendeu o medalhão que ele vinha analisando pelo último minuto para que a garota visse, sem conseguir conter a empolgação.

- Não é?! Er... mas acho melhor irmos para outro lugar. - a garota levantou-se e escreveu um rápido bilhete que deixou junto ao holograma para caso os outros chegassem, antes de cruzar apressada rumo à saída, seguida de perto por Daiv que não largava o medalhão e por Zeck que de todas as reações previstas não esperava nem de longe algo como aquilo.

Não demorou muito para que percebesse onde Iris os estava levando. Desceram os degraus para o jardim interno e sem nada falar nem parar ela pegou a primeira entrada a direita para dentro do labirinto. Continuaram um atrás do outro, apressados e sem conversar. A cada curva e bifurcação a tortura dentro de Zeck aumentando.

Não se sentia melhor por ter se revelado aos dois. E o pior de tudo era a aparente falta de interesse deles. Ele sequer chegou a dizer que fazia parte da sociedade. Não com todas as letras e nuances. Será que eles não perceberam? Será que Daiv não percebeu? E se sim, por que ele não estava ali a seu lado enchendo-o de perguntas?

Finalmente pararam em um espaço quadrado, diante de um monte de terra avermelhada e sem grama.

- Vocês entenderam o que está acontecendo aqui, certo? Que este medalhão é meu e que eu sou um dos três, certo? - Zeck não pode deixar de se certificar.

- Conte para ele, Iv - exigiu Iris olhando para o outro rapaz, que consentiu com a cabeça.

- Você se lembra daqui, não se lembra Zeck? - ele perguntou virando-se para o amigo. Ele não lembrava. Daiv virou os olhos - É onde encontramos a Rosa de Sarom.

- Ah sim. O que tem ela? - Zeck perguntou desinteressado. O que tudo aquilo tinha a ver com sua grande revelação?

- Pois veja isso. - Daiv mostrou-lhe o medalhão que segurava e que colocou sobre o montinho de terra, que imediatamente o engoliu como areia movediça. Não contente, o buraco começou a engolir a si próprio cavando e cavando mais e mais fundo até se abrir em um retângulo.

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