59. Tenda

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Conforme se aproximavam do meio do acampamento notaram as tendas que se formavam alinhadas com pequenas ruelas entre elas com tetos altos o suficiente para cobrirem a vista da construção.

De repente se viram no meio de um grupo que apressada mas ordenadamente andava de um lado para o outro. Eram homens mulheres e crianças que andavam para todos os lados carregando mantimentos, limpando, montando, costurando. Mais de uma vez viram homens passando vestindo vestes longas e brancas dos pés a cabeça, dando uns aos outros ordens.

-Desculpem mas não podem entrar aqui até a hora da cerimônia - algúem disse atrás deles e ao virarem-se viram Adanef que esbaforida vinha correndo em direção a eles. Quando ela os viu parou espantada antes de mudar sua expressão para uma de puro contentamento, expresso em um abraço mútuo.

- Mas vestidos assim eu nunca os reconheceria! - ela disse, estava maior do que lembravam, o que comprovava as palavras do mercador de que algum tempo realmente havia se passado - é claro que eu quero saber tudo sobre vocês mas agora infelizemente não temos muito tempo. E pelo jeito vocês ainda não estão prontos. Venham comigo!

- Nos diga Adanef, o que está acontecendo aqui? - Pediu Linda.

- Você deve estar se referindo a festa de Yom Kippur? Oh, vejo que estiveram fora por um tempo...

- Acho que acabamos gastando um pouco mais de tempo do outro lado da montanha. - Fleim disse.

- Bem, pois fiquem felizes por terem chegado no dia mais especial do ano. Porque é hoje que o soberano vai purificar o povo todo e nos limpar de todos os nossos erros.

- Pra sempre?! - Zeck perguntou com os olhos arregalados.

- Oh não, não pra sempre - Adanef disse com certa tristeza na voz - mas o guia nos orientou que assim será uma vez por ano. Por isso a agitação. Enquanto o povo se purifica, conforme instruído, minha tribo está terminando os preparativos para o ritual na casa do Soberano.

Chegaram em uma tenda que com certeza era onde Adanef vivia. Foram convidados a entrar e gostaram de ver uma configuração tão familiar. Nem sinal de sua mãe, no entanto.

- Eu estou tão feliz de ver vocês! Por um momento achei que nunca mais nos encontraríamos - Ela disse enquanto lhes oferecia algo para comer e uma botija de água, sorrindo muito especialmente para Fleim.

- Mas eu estou curioso, Nef - Fleim disse agradecendo pelo pão que ela lhe estendia - por que de todas as tribos, justamente a sua foi escolhida para cuidar da casa do Soberano?

- Oh... - os três puderam perceber uma sombra que caía sobre a expressão da garota, como uma má lembrança. Mas ela se recuperou rapidamente e veio sentar-se com eles no meio da tenda.

- Está tudo bem? - Zeck perguntou, pois dos três ele era o que mais conhecia aquela expressão.

- Desculpe - ela começou dizendo - esta história ainda é difícil para mim. Mas eu estou bem. - Eu acredito que vocês tenham ao menos ouvido falar sobre o caso do bezerro, certo?

- Mais do que isso - Fleim respondeu - nós vimos boa parte...

- Mas não tudo - Linda completou com um nó na garganta - eu não consegui aguentar.

Adanef pigarreou, olhando para o teto e piscando várias vezes.

- Abençoados são vocês que não precisaram passar por tudo aquilo. Pois bem, minha tribo... foi uma das únicas famílias que em sua maioria não participaram naquela atrocidade. E a nós foi dada a ordem de... oh! - ela não conseguiu continuar. Estava claro que por mais forte que ela estivesse tentando ser, aquela era uma memória que a acompanharia para sempre. Fleim foi depressa sentar-se ao seu lado, oferecendo seu ombro. Zeck e Linda também se aproximaram, mostrando seu apoio em silêncio.

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