63. Minas

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- Mas o que é que te leva às minas desta vez, Iris? - ele ouviu seu Máximo perguntar e Iris bater a mão contra a esfera que ela carregava dentro do bolso.

- Uma entrega urgente para meu tio - ela respondeu.

- Uh... que mistério! - o homem brincou e ambos riram. Para Zeck, nada daquilo tinha graça.

De trás da carruagem ele podia ver as árvores passando por eles. Nunca havia estado daquele lado do bosque antes e se surpreendeu com sua vastidão. Fez uma nota mental para explorá-lo em uma próxima oportunidade.

As rodas da carruagem rangiam pouco, mesmo no terreno acidentado da mata virgem. Viajavam lentamente e naquele ritmo, ele calculou, levariam semanas para chegar onde quer que estivessem indo. Mas não havia nada que podia ser feito.

Pouco mais de uma hora se passou quando a carruagem finalmente desenbocou em uma praia de areias brancas tão fofas que as rodas afundaram pela metade.

- É melhor se segurar - seu Máximo advertiu Iris, ele mesmo agarrando o assento atrás de si.

- Uhuuu! Eu adoro esta parte! - a garota vibrou entrelaçando um dos braços com o do homem.

Não deu tempo para Zeck se perguntar o que ela quis dizer porque no segundo seguinte ele estava rolando como uma tora descendo uma ladeira até a outra extremidade da carroça e não fosse pelo bloqueio alto e pelo seu rápido reflexo para se agarrar a borda, ele teria ficado ali com a cara enterrada na areia da praia. Quando se recuperou e olhou de novo, esta estava já longe, diminuindo a cada minuto.

Viajavam em alta velocidade como uma lancha respingando para todos os lados as águas que deixavam um rastro em linha reta, dourado pelo por-do-sol. Olhando para o outro lado, para além de Iris e seu Máximo ele só viu as orelhas brilhantes do animal subindo e descendo e água, muita água. Iris estava certa. Aquilo era realmente muito bom. Tão bom que Zeck se deu ao luxo de deitar-se e relaxar, olhando para o céu, para as nuvens que eles iam deixando para trás, ouvindo o barulho das águas, e sentindo ora ou outra uma gota refrescante que caia em seu rosto.

Com toda aquela confusão ele não tinha tido tempo de perceber que estava em casa e de sentir aquele ar que a tudo curava, até para os membros de Biblion, até para ele. Pensou em Daiv voltando sozinho para a biblioteca e tendo que explicar para os outros onde estivera o dia inteiro. Pensou em seu pai e se perguntou se sua jornada por Biblion tinha sido tão intensa quanto a dele. Pensou em Fleim e no que ele já devia ter descoberto, com quem ele já devia ter falado. Pensou em Linda e em como ela com certeza não estava respirando o mesmo ar que ele, e em quão culpado ele devia ser por toda aquela situação. Pensou e não havia notado ainda como sua mente estava cansada de pensar. Como seu corpo já não podia mais. Então parou de pensar. Parou com todo o resto.

Acordou com a carroça chacoalhando muito, aos pés de uma montanha que refletia o prateado de um luar sem lua.

- Zeck! Ah Zeck, se você caiu da carruagem... - era Iris quem, agarrada contra a carruagem, a sacudia com vemencia.

- Eu estou aqui - disse Zeck afrouxando o medalhão.

- Ah menos mal, faz cinco minutos que eu estou chamando - a menina disse indo até ele - Uau, esta roupa é mesmo poderosa. Eu apalpei cada canto da carruagem e nem sinal seu.

- Eu devo ter dormido um pouco.

- Um pouco? Já é quase de manhã.

Zeck esfregou os olhos e desceu da carruagem para afundar os pés não em areia mas em uma neve fofa e barulhenta. Na verdade, agora que notou bem, a montanha inteira parecia estar coberta de neve. Ele que da neve só havia ouvido falar, ficou olhando para ela abismado, enquanto mexia os pés para sentir sua textura.

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