7. Imensidão

32 4 7
                                    

 Conforme o sol subia, o céu pintava-se de um azul vivo e intenso refletido pelo mar. O barco dirigia-se para o nascente, com o sol diante dele. Zeck sentou-se no chão encostado na borda do barco, pensando na última frase de Seôni e olhando o vai e vem dos colegas no convés. Rostos que muito em breve teriam nomes e historias. Em breve. Por agora o garoto só queria fica ali, sentado. Sentia se exausto. Não a exaustão paralisante que conhecemos, inexistente naquele reino. Era a exaustão que sentiam todos os novos adolescentes, fruto da descoberta de um mundo vasto de possibilidades incríveis. Zeck viu e ouviu muito mais em uma semana do que qualquer momento antes disso. Fechou os olhos e, involuntariamente as lembranças passavam pela sua cabeça. o barulho da água misturando com a brisa fria causava sonolência. Zeck cochilou. Não sabia dizer por quanto tempo. Foi despertado por Teo que estava agachado diante dele com um grande fruto redondo na mão. Tinha um cesto cheio ao seu lado.

- Trouxe seu café da manhã. – disse animado.

Zeck pegou a fruta. Tinha a aparência de ouro e prata, uma textura era aveludada como pêssego e um aroma doce.

- Mas já?! – Zeck exclamou

- Em Édimo nós a comemos no inicio do mês. Acredite, vocês vão precisar – Teo levantou-se e continuou a distribuição.

Zeck deu uma mordida na fruta. Imediatamente sentiu o sangue borbulhar, os poros se abrirem e os sentidos se aguçarem. Era como se pudesse atravessar todo o oceano a nado. Estava mais vivo e totalmente desperto, pronto para mais surpresas. Devorou a fruta rapidamente. Parecia Daiv. Por falar nele, não o vira ainda. Levantou-se com o intento de procurar o amigo quando notou ali perto dois garotos conversando. Reconheceu um deles do outro dia no Monte das Brisas.

- Ei, Regis – cumprimentou

- Zeck, venha ver isso! – o menino de cabelos longos e cacheados o puxou pelo braço e debruçando-se sobre a borda apontou para baixo.

Zeck ficou procurando. Só viu o casco branco do barco e as ondas formadas a partir dele.

- Realmente é um barco muito bonito – falou sem ter certeza de que era isso que o outro queria ouvir.

- Não é nada disso! – Regis apontou novamente- está vendo? Este barco não tem remos. Demais, né?!

- Acho que sim – Zeck respondeu dando de ombros – você viu o Daiv?

- Ora, cara, vamos lá! Você não se pergunta como um barco pode navegar sem velas e sem remos?

- Sinceramente não – Zeck disse – mas se for importante para você, vá em frente.

- Pois é pelo SOL – Regis apontou enfaticamente para o astro às costas de Zeck, que fez cara de paisagem.

- Er... Legal? - disse finalmente.

- Ora, esqueça – Regis abaixou a mão – eu sempre me esqueço que os calonis não se impressionam facilmente – virou-se e voltou a debruçar o corpo para fora do barco, deixando Zeck ali sem entender.

- Não ligue para ele – alguém que até então ficara de fora da conversa chamou a atenção de Zeck. Era um garoto bronzeado, de cabelos curtos e olhos verdes, um pouco maior do que ele – O Regis se empolga quando descobre algo novo. Está assim desde que eu lhe contei que o Édimo I funciona a energia solar. Mas isso não importa agora. Eu posso te levar a Daiv se você quiser.

- Você conhece o Daiv, então? – Zeck aceitou o convite para seguir atrás do outro.

- Nos conhecemos agora de manhã. Sujeitinho engraçado, o Daiv. Meu irmão grudou nele assim que descobriu que ele é bom de papo... Oh, mas como eu sou distraído -o garoto virou-se de súbito quando já estavam no meio do convés - papai sempre me fala pra não pular os passos essenciais. Eu sou Sid – estendeu a mão pra Zeck.

BIBLIONOnde histórias criam vida. Descubra agora