35. Rebelados

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Os três sentaram-se para comer e fazer planos. Decidiram que o melhor era mesmo se prenderem ao plano de Zeck. Seguirem pelas colinas, pela rota dos altares e evitarem o vale e a maldição o máximo que pudessem. Puseram-se a caminho assim que terminaram de comer e beber das águas de uma nascente ali perto. O próximo altar — aquele que Zeck tinha avistado na outra noite — não estava muito longe dali. Mal chegaram diante dele, e uma labareda do fogo que queimava sobre ele voou e atingiu em cheio o livro que estava na mão de Fleim. Mais do que depressa ele o abriu e ainda pode ver as línguas de fogo escrevendo mais algumas linhas. Zeck e Linda se amontoaram atrás dele enquanto ele lia em voz alta. O novo texto contava de como Adama fora dado um outro filho para ser o herdeiro da promessa do Tratado, e de como os descendentes e os rebelados seguiram caminhos separados por muito tempo.

Aquele foi o ponto de partida para uma jornada que se revelou mais longa do que eles a princípio esperavam, o que proporcionou-lhes uma ótima desculpa para se conhecerem melhor. Zeck contou a Linda e Fleim sobre sua família e a vida em Villa e descobriu que os dois tinham sido criados no centro, próximo ao Monte das Brisas e eram ambos filhos únicos. Os pais de Linda eram professores na Escola Materna e sobre o trabalho de seu pai Fleim não sabia muito, mas sabia que era fascinante.

Não demorou muito também para que notassem que, para sua total surpresa, Adama estava muito bem, obrigado. Mesmo nas mãos de Nasaht. Mesmo com a presença da maldição. Era difícil de dizer que o reino se transformara em um pesadelo a céu aberto. Muito pelo contrário!

Rios cristalinos ainda corriam por entre bosques a perder de vista, árvores carregadas de frutos apetitosos cresciam em encostas de montanhas salpicadas com ouro, prata e pedras mais preciosas do que as que temos aqui e animais aos bandos podiam ser vistos pelos campos e no céu. E o que falar das cidades?!

Do alto das colinas, os três podiam ver prédios construídos com os mais nobres materiais que refletiam a luz do nascer e do pôr do sol, com cúpulas circulares e lustrosas. Eram rodeados por parques e jardins bem cultivados, cobertos de flores e arbustos abarrotados de frutos silvestres de cheiro estonteante. Cidades pequenas ou grandes, projetadas pelos mais brilhantes artífices e arquitetos, dignas de Allakelianos! De onde estavam não dava para dizer que aquele era um reino condenado ao exílio.

Era só quando a noite chegava e as colinas se acendiam com o fogo dos altares, ao mesmo tempo que o vale se enchia com os gritos de júbilo e festa, acompanhados do som da música bem executa por recém inventados instrumentos, que era possível pintar um quadro preciso da situação. Pois com o começo de cada novo dia os cantos e festas dentro das cidades aumentavam enquanto o número de altares acesos diminuía. E era só olhar para dentro do tratado-esfera a cada pôr do sol, para sua luz que ia ficando mais e mais fraca, para saber que aquilo não podia ser bom sinal.

Foi por isso que, em uma noite mais escura do que de costume, quando avistaram aquele último altar em cima daquela última colina, eles correram para lá como se disto dependesse sua própria existência.

Em pouco tempo chegaram no que parecia um círculo formado por altos pilares pontiagudos de mármore e marfim com o altar queimando no meio. Dez colunas que apontavam para o céu como dedos gigantes. Elas logo chamaram a atenção de Fleim que nem se preocupou em se aproximar do altar.

-UAU! Isso tem cheiro de enigma para mim. - Ele disse indo examinar o primeiro pilar. - Vejam,tem algo escrito na base: SETH. Não é o nome de um dos herdeiros?

- Acho que sim. - Disse Zeck dirigindo-se para um outro pilar após certificar-se de que não havia nada de diferente no altar. Já havia visto tantos que o animal sobre ele já não o incomodava. Abaixou-se para ler em sua base o nome ADAMA escrito na língua do livro.

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