53. Brilho

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Não foi difícil encontrar Linda e Fleim e organizar tudo para aquela noite. O fato de que a visita dos gigantes não eliminava o fato de que eles ainda tinham outros grandes trabalhos para entregar até o final do ano criava a desculpa perfeita. Por isso, quando Zeck despistou Daiv e Iris dizendo que passaria a noite trabalhando com Linda e Fleim, ele não se sentiu mal.

- Eu concordo cem por cento que a pista está correta e que a única montanha da qual Tiki poderia estar falando é a montanha do portal mas confesso que esta mensagem não faz sentido - Fleim insistia já a caminho das cordilheiras, dando mais uma olhada na folha na qual ele havia anotado a mensagem em poalanês que Zeck havia ditado, abaixo da qual ele havia anotado a tradução feita em tempo recorde.

- ¨Eu tive que protegê-los do mesmo perigo¨ - Linda recitou lentamente, digerindo cada palavra. - foi isso que o Tiki disse.

- O mesmo perigo. Isso significa que algo pode acontecer de novo... e de que perigo estamos falando? - Fleim falava consigo mesmo, o que era bom porque nem Linda nem Zeck sabiam o que lhe dizer, mas partilhavam da mesmo desejo não expressado de que a resposta estivesse no final daquela trilha.

Desta vez chegaram a montanha na metade do tempo. Tudo ali em cima suspirava calma e paz. Até demais.

- Ok, cadê todo mundo? - quis saber Fleim olhando ao redor e encarando o portal de pedras que daquele jeito, apagado, mais parecia o que sobrara de algum palácio milenar lentamente consumido pelo tempo. Descrição que para nós faz todo sentido mas para eles era algo no mínimo bizarro.

- De repente erramos o dia. - Linda sugeriu indo tocar a pedra fria e áspera do arco.

- E quando foi a última vez que ¨erramos o dia¨ de um chamado de Biblion? - Zeck respondeu de pronto, sem emoção, com seus olhos fixos na Fronteira Proibida ao longe - Além do mais, eu não acho que Etiel nos mandaria para cá à toa. - Ele apontou para a parede de nuvens no meio da qual a coluna de fogo brilhava como lava de um vulcão poderoso e se erguia quem sabe até onde. Linda e Fleim vieram se juntar a ele. Os trovões e relâmpagos ribombando no que parecia um protesto à presença da coluna martelavam dentro de suas cabeças lhes deixando desconfortáveis.

- Acho que temos um pequeno problema. - Fleim disse sem desgrudar os olhos da fronteira.

- Sim, da única vez que fomos para a fronteira foi através de um portal na Sociedade... - Linda soou preocupada.

- E além disso estávamos de uniforme - Fleim complementou e já não conseguia esconder o fato de estar alarmado - O que eles querem agora? Que simplesmente cruzemos daqui até a fronteira a pé, sem nenhuma proteção?! Como se fosse possível cruzar aquele muro.

- Do que vocês estão falando?- Zeck chamou-lhes a atenção e não precisou falar mais nada. O pânico do momento os fizeram esquecer que diante deles estava alguém que havia feito exatamente aquilo. Cruzado a fronteira e sobrevivido para contar a história - bem, quese - e isto tudo sem sequer fazer parte da sociedade - bem, quase.

- Para onde então? - Fleim perguntou depois de um longo suspiro.

Zeck olhou para a coluna de fogo entre as nuvens e para os dois mais uma vez. Dizem que quanto mais você faz algo, mais fácil aquilo se torna. Não para ele. Não aquilo.

- Para a biblioteca. - Ele disse sem brilhantismo ou entusiasmo. E para a Biblioteca eles seguiram sem nada falar. Não que não tivessem assunto. Mas por simpatia para com Zeck que estava prestes a reviver os passos que o levaram a estar ali naquele momento.

Zeck guiava o caminho da melhor forma que podia. Sentindo suas pernas e cabeça pesarem uma tonelada. Não importaram-se em serem vistos. Não que a biblioteca fosse estar vazia em uma noite de estudos. Se alguém perguntasse, estavam fazendo um trabalho. E estavam mesmo.

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