5. Caderno

41 2 1
                                    

Descer o  Monte das Brisas levou mais tempo do que eles imaginaram. Não que fosse uma descida difícil pois não se tratava de uma montanha acidentada como as que estamos acostumados; mas ele era tão alto que era como descer uma ladeira sem fim. Ao chegarem lá embaixo todos concluíram que, apesar de um passeio agradável, seria muito mais divertido ir planando com suas novas asas até lá embaixo. Que pena que aquela não era uma opção. 

Zeck e Daiv aproveitaram a descida para colocarem a conversa em dia. Não estavam interessados em conhecer e se apresentarem para os novos colegas como a maioria que descia o monte com eles.  Sabiam que haviam assuntos importantes para tratar e não se lembravam de sequer uma ocasião em que ficaram tanto tempo sem poderem conversar a sós. 

A primeira coisa que Zeck fez foi confirmar que Daiv de fato não havia visto nada a mais na cerimônia além daquilo que tinha contado às meninas. Quando revelou para o amigo a visão de quem ele tinha certeza ser Yadashel e sobre o beijo, Daiv quase tropeçou em si mesmo e terminou de descer a ladeira rolando. 

- Você não devia sair por aí falando sobre isso. - Daiv aconselhou quando conseguiu se recompor. 

- E quando foi que eu deixei de te contar algo? - retrucou Zeck levemente confuso - E ainda tem muito mais… 

- É só que um beijo de Yadashel… - Daiv deu de ombros - … Não sei… parece tão importante… e particular. Mas me conte mais!

Zeck continuou falando sobre sua rápida visita ao Patriarca e sobre a visão da figura emcapuzada dentro de sua cabeça.

 - O que você acha? - pediu quando terminou.

- Que estamos diante de um grande enigma! - Daiv não conseguia segurar a empolgação - três destinos, o beijo, o Cinzento (porque o visitante imaginário precisa de um nome, certo?) e o coração de Miychaim…  isso é melhor do que os enigmas de seu pai. A Helie vai pirar. 

- Não foi você que falou que eu não devia sair por aí falando sobre isso?

- Hum… tem razão. Vamos deixar a Helie fora desta - Daiv coçou a cabeça - Ela não está indo para Edimo e além do mais ela ainda é muito criança para essas coisas. 

- Falou o adulto! - Zeck deu lhe um cutucão na costela. Daiv se encolheu rindo. 

- Você não acha esquisito passarmos um ano inteiro longe de Villa?

Zeck pensou por um momento

- Não sei… aconteceu tudo tão rápido que acho que ainda não me dei conta. 

- Eu sim… - Daiv suspirou profundamente acariciando o medalhão sobre o páleo com as duas mãos. - Ei, Zeck, que sonho você usou lá no monte?

- Todos. – Zeck respondeu sem desviar os olhos do caminho 

- Foi como eu imaginei. – Daiv sorriu com o canto da boca. – Não é a toa que suas asas saíram tão facilmente.  Bem… é claro que ele deve de certa forma ter ajudado.

- Não tem como sabermos… ainda – zeck concordou imaginando que a ¨ele¨ Daiv se referia ao Cinzento –  E quanto a você?

Daiv olhou para cima. Já era noite a dentro e o céu estava forrado de luminares, tão nítidos e distintos que deixaria qualquer um de nós hipnotizado por um bom tempo. 

- Você viu? Há uma nova luz ali!

Zeck acompanhou o dedo do amigo que apontava para uma bolinha azul que piscava pálida logo acima do cinturão do Grande Guerreiro.

- E daí? - perguntou, fazendo Daiv rir baixinho.

- O seu desinteresse pelo céu nunca vai deixar de me surpreender. Pois eu acho que é ele - hesitou por um instante e olhou ao redor para se certificar de que estavam sozinhos - eu acho que é… Adama!

BIBLIONOnde histórias criam vida. Descubra agora