13. Fronteira

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Zeck caminhou a passos largos até o alçapão sem virar para trás. Nem percebeu que todos os colegas, com exceção de Daiv, olhavam para ele espantados com sua atitude. Ele mesmo pareceu espantado quando fechou o alçapão sobre si e escorregou segurando na es bordas da escada até o chão. Acontecera de novo: Conversas sobre Adama e aquele desconforto. Mas desta vez era diferente, novo, mais intenso, como algo que fervia e crescia de uma forma que era difícil de explicar. De Adama ele não gostava desde sempre, desde aquela primeira vez que ouviu a lenda ainda menino. Daiv não. Daiv havia amado tudo na história contada por Vernom; principalmente aquela parte de como Kehlian, seu amado príncipe, revelou-se como o Grande Guerreiro em pessoa. Zeck, porém, se lembrava bem de ter pensado, já naquela época, que a serpente era má por ter mordido o príncipe; consequentemente qualquer um que fizesse parte daquele reino só podia ser tão ruim quanto. Não dava mesmo para entender a atração dos outros com aqueles que eram tão diferentes deles. Ou talvez fosse exatamente por isso que os outros se interessavam. Mas, por que ele não?

Subia para seu quarto no momento em que Etiel entrava pela porta da sala.

Acabei de dar uma voadinha lé pela sala de estudos e vi o pessoal fazendo a tarefa de Astronomia. Por que você não está com eles? - perguntou

Eu nunca fui muito chegado nas estrelas - Zeck deu de ombros - além do mais o papo estava se tornando... - ele não conseguiu encontrar nenhuma palavra para descrever aquilo. Chato... Aborrecido... qualquer uma serviria mas não devemos esperar que Zeck as conhecesse. - Enfim... não vi você nem ontem nem hoje- acrescentou procurando dissipar a imagem de Adama de sua cabeça.

A Festa das Estações nos toma muito do tempo livre- sorriu Etiel- mas este ano ela promete ser de arrasar. Vocês não perdem por esperar.

Quando é a festa? - Zeck perguntou sentindo-se melhor

No último Miarem do mês - Etiel voou até ele -Daiv pediu para eu te entregar isto. Passou para suas mãos o livro de Aurea Vernia. Os garotos se despediram e Zeck foi para o quarto. Afundou-se na leitura, deitado na cama. Acordou com o grito da Águia.

É normal que os alunos novos de uma escola se unam por afinidades. Assim, no final daquela primeira semana de aulas, as "panelinhas" já estavam formadas. Grandes ou pequenos grupos dos mais variados podiam ser vistos espalhados pelo campus. Em alguns só haviam Vernianos, Flinianos ou Edimenhos; em outros uma mistura de todos eles; haviam os grupos só de meninas e aqueles onde só os meninos tinham acesso; alguns novatos preferiam a companhia dos veteranos, enquanto outros ficavam a maior parte do tempo sozinhos mesmo - o que não tinha nada de estranho também.

A questão é que se alguém começasse a ler esta história agora, acharia que Zeck e Daiv conheciam os trigêmeos, Iris e Fleim a vida inteira. De manhã eram vistos às voltas com a garota, sempre falando de escola, livros e professores. Graças a ela, e a todo o conhecimento que tinha sobre exploração os dois estavam na classe avançada da professora Aurora( junto com todos aqueles que encontraram a pista para a próxima aula dentro do livro de Aurea Vernia), e em conseqüência envolvidos em mais uma "caça ao tesouro" cheia de mapas, coordenadas e cálculos estranhos- que os meninos tiveram que aprender a usar em uma noite, à beira do lago.

Com os garotos a história era outra. A casa tronco virou uma espécie de quartel general onde eles se reuniam quase todos as noites depois do jantar. Não para fazerem os deveres de casa, mas para experimentarem os inúmeros objetos curiosos que Fleim tinha. Todos presentes das viagens do pai. Por unanimidade o Fliskate foi eleito o preferido.

Era uma espécie de prancha em forma de V como o bumerangue feita de um material leve e maleável, talvez a folha de uma arvore aparentada com a nabana de Vernom, que flutuava a poucos centímetros do chão.

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