28. Banquete

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Zeck não precisava perguntar de que escolha o amigo estava falando.

- Yadashel...? - disse por trás de um suspiro, sem desgrudar os olhos da coluna de fogo que subia rodopiando e urrando. Com certeza o mesmo fogo que ele havia visto na Fronteira Proibida. O fogo era Yadashel?! Não podia ser. Simplesmente porque Yadashel era o bem absoluto, a manifestação plena do belo. Em momento nenhum ele poderia ter estado na fronteira. Se assim fosse Zeck não teria caído no mar ou se sentido da forma como se sentiu. Não fazia sentido.

Ali estava o fogo, no entanto, saindo do Palácio de Cristal, fato que por si só já dizia muito sobre sua procedência. E ali estava uma multidão de alunos e professores, vestidos em roupas de gala, olhando sem piscar para a coluna, esperando. A julgar pelos olhares expectantes, era possível dizer que ninguém tinha a mínima idéia do que aconteceria a seguir - nem mesmo os veteranos.

- Onde está a Iris? - Zeck conseguiu perguntar. Daiv simplesmente estendeu o braço para frenteapontando para o riacho, junto à base da colina. Ali, lado a lado estavam vários alunos com os braços erguidos para o alto. Todos edimenhos, Zeck deduziu pois, apesar de estarem de costas, eles brilhavam com uma luz vibrante e viva e só os filhos de estrelas poderiam brilhar daquela forma.

De repente, ouviu-se o som imponente de uma trombeta e do alto da coluna voou um feixe de luz que foi descendo deixando um rastro branco atrás de si até revelar um mehlak com longas e velozes asas abertas. Era ele que tocava a trombeta enquanto voava em círculos sobre todo o grupo. Seu vôo era harmonioso e mais deslumbrante do que o das águias gigantes. Enquanto ele voava, uma outra trombeta foi ouvida e um segundo mehlak surgiu do meio do fogo, tão espetacular quanto o primeiro, e veio juntar-se a este em seu vôo.

Não era música o que saia de suas trombetas, mas um som contínuo, estridente e pulsante que transmitia uma certa urgência. Todos acompanharam o vôo dos dois seres superiores, deslumbrados como só quem já viu um mehlak pode ficar. Até que eles, tão de repente quanto surgiram, voaram para longe a perder de vista ao mesmo tempo que a coluna de fogo subia e se dissolvia junto com o véu, revelando um céu sem nuvens, colorido pelo amanhecer.

Por um tempo ainda muitos ficaram olhando para o céu, esperando que algo mais fosse acontecer, mas ao verem os edimenhos abaixando os braços e desfazendo a formação, concluíram que o espetáculo havia acabado.

Zeck e Daiv se juntaram a Iris que veio correndo ao encontro deles logo em seguida. Ela estava radiante, no mais puro sentido do termo.

Segundo o que ela explicou, como primeira raça criada, era função dos edimenhos apresentar-se diante de Yadashel cada vez que ele semanifestasse.

-Quer dizer que Yadashel estava de fato na coluna de fogo?! - Zeck ainda tinha dificuldades em entender.

- O certo seria dizer que Yadashel É a coluna. - Iris corrigiu.

- O que é ainda mais impressionante! - os olhos de Daiv pareciam ainda refletir o brilho e calor do fogo.

A discussão teve que parar, no entanto, pois logo ouviu-se o som das harpas que abriam o Banquete.

Quem nunca participou dele não pode ter idéia de quão solene era. Basicamente, alunos, professores e funcionários se dirigiam para o pomar que crescia colina abaixo, atrás do Palácio de Cristal.

A Árvore da Vida se destacava por seu tamanho, tronco espelhado e folhas douradas e aparentava ser muito mais antiga do que a de Villa. Uma vez ali, um por um aproximava-se dela e colhia um de seus suculentos frutos. Ninguém se preocupava em ficar para trás porque a Árvore da Vida tinha o maior prazer em oferecer frutos a qualquer um que quisesse comê-los; até que a última boca fosse servida.

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