48. Frutos

11 2 0
                                    

- Zeck, não me diga que esse é o...

- Ele mesmo! - em um único impulso Zeck estava de pé, seus olhos como os de Fleim fixos na outra margem, a emoção aflorada por saber que pela primeira vez ele não era o único a vê-lo.

O Cérebro de Zeck funcionava como um louco mandando mensagens desencontradas para seus músculos rígidos. O frio que ele sentiu subir pela espinha era um sinal mais do que óbvio de que ele tinha que sair correndo dali e se esconder.

- Por Yadashel, cara, o que você está fazendo?! - Fleim tentou segurar Zeck pela roupa quando, decidindo que o óbvio não era uma opção, ele resolveu sem aviso pular para dentro do rio. Com braçadas enérgicas, diminuia mais e mais a distância que o separava do cinzento.

Este, por sua vez, com os braços jogados ao lado do corpo, observava sem se mexer o outro que se aproximava. Mais algumas braçadas e Zeck já podia sentir seus joelhos tocando o fundo. Saiu da água meio cambaleando e com a cabeça estranhamente leve, talvez pelo fato de estar tão próximo daquele ser que parecia ser feito de pesadelos. Um pesadelo vivo cuja respiração ele podia agora ouvir acompanhada do sobe e desce de seu peito sob as vestes. Talvez o cinzento estivesse tomando fôlego para dizer alguma coisa,se preparando para dar respostas.

Apenas mais uns passos agora e Zeck poderia tocá-lo, agarrá-lo, socá-lo se quisesse. Mas a verdade é que como naquele dia na Froneteira, ele não tinha parado para pensar no que fazer quando estivesse diante dele. Ele só tinha um zilhão de perguntas. Perguntas que ele nunca teve oportunidade de fazer, uma vez que, como da outra vez, o cinzento só esperou ele estar perto o suficiente para disparar como um raio para dentro da floresta.

 Já esperando algo assim, Zeck disparou atrás, em uma corrida frenética. É difícil de saber se ele acreditou por um segundo que seria capaz de alcançar o outro, mas mesmo assim ele deu o melhor de si. O cinzento meio corria e meio voava, pouco se importando com as árvores, raízes expostas ou qualquer outro obstáculo no caminho. Até que uma explosão de fogo azul o fez perder um pouco de seu perfeito balanço e virar-se para ver Fleim que com a mão flamejante erguida corria um pouco atrás de Zeck.

- Pare já aí! - ele ordenou e disparou outra rajada que o cinzento só evitou porque subitamente lançou-se para a esquerda, por um labirinto de troncos e folhas que obrigou os meninos a diminuírem a marcha para não se confundirem.

- O perdemos! - Zeck disse esmurrando a árvore mais próxima fazendo-a tremer toda.

- Você devia saber que sair correndo atrás de quem só te meteu em enrascada dentro de uma floresta desconhecida não é boa idéia.- Fleim ecoou a voz da razao dentro de Zeck. Uma parte em si queria culpar Fleim por tê-lo espantado, mas no fundo sabia que ele só estava tentando ajudar.

 Subitamente, uma moita alta à direita estremeceu e os dois viraram ao mesmo tempo para ver Etiel emergindo de dentro dela.

- O que voce esta fazendo aqui? - Zeck lancou sem cerimônias, uma sobrancelha levantada.

- Estava mesmo atrás de vocês dois - Etiel olhava diretamente para ele. - È melhor se apressarem porque as carruagens já chegaram para levá-los de volta.

- De volta? Achei que fôssemos ficar por aqui até mais tarde - Fleim disse.

- Mudança de planos. A harmonia do vale foi afetada e precisamos ir. - ele apontou um ponto atrás dos dois que viraram os pescoços - Sigam até aquela sequóia branca e virem à esquerda. Depois â esquerda de novo, e de lá pela estrada que dá para o rio.

- E você, nâo vem? - Fleim perguntou quando ele se virou para voltar a entrar no arbusto. Etiel sacudiu a cabeça.

- Ainda tenho uns detalhes para resolver mas vocês devem ouvir de mim logo logo - respondeu por cima do ombro e sem mais delongas desapareceu por detrás do arbusto.

BIBLIONOnde histórias criam vida. Descubra agora