- Rápido filho, você vai se atrasar! - Selena já aguardava por Zeck na rua junto a um cavalo grande e negro sobre o qual Seôni conversava com as aves. Estas, depois de cantar para Zeck e paparicá-lo por horas também aguardavam pousadas sobre uma cerca viva, atrás da qual Raio cobiçava as maçãs do jardim.
Zeck saiu apressado da casa atravessando o caminho de paralelepípedos a passos largos. Helie vinha logo atrás.
- Você conferiu a lista para ver se não falta nada? - perguntou Selena assim que ele a alcançou e foi esticando as mãos para a mochila que ele tinha nas costas - acho melhor eu dar mais uma verificada.
- Não precisa, mãe - garantiu Zeck - acho até que estou levando coisas demais. Eu só não entendo por que eu preciso levar o Miychaim - ele olhou para Seôni.
- É por isso que sou eu a levá-lo pelo resto do caminho - Seôni sorriu. - Mas sua mãe está certa, é melhor irmos andando, filho.
- Lembre-se de tudo o que eu falei - pediu Selena listando aquela série de tópicos que incluem um 'comporte-se aqui' e 'escute os mais velhos' ali.
- Está bem, mãe - Zeck virou os olhos e montou Raio.
Selena o fitou com carinho e deu-lhe um abraço apertado.
-Cuide-se e cresça, querido. Oh, eu estou tão orgulhosa de você... - ela disse emocionada.
Zeck não falou nada. Não precisava. Simplesmente abaixou para dar-lhe um beijo, virando-se em seguida para Helie que montou atrás dele.
-Prepare grandes aventuras para o fim do ano ok?
A irmã concordou com a cabeça.
- Quem vai nos ajudar com as lições de musica, agora? - perguntou passando-lhe o estrelo que ele passou sobre a cabeça como um arco.
- Ah vai! - Zeck respondeu - você sempre foi mais esperta que eu. Vai se sair bem.
Helie deu-lhe um beijo no rosto e desceu. Os cavalos começaram seu caminho para a árvore-ponte, observados pelas duas e sob o canto de vários rouxinóis pintassilgos, canários e bem-te-vis que, em vozes, cantavam uma despedida para Zeck.
Atravessaram a ponte devagar e em reverência. Zeck não conseguia desgrudar os olhos do tronco entrelaçado, ereto e transparente da árvore alta que se abria frondosa para os dois lados da ponte com folhas de tons dourado e prata refletidos sobre o rio cristalino. Pesados pelas flores que naquela época do mês já desabrochavam, anunciando os frutos que viriam dali a alguns dias. Estava diferente desta vez. Não menos fabulosa. Nunca. Mas diferente mesmo assim pois em seu centro jazia quieto um espaço redondo, um pouco maior do que um palmo fechado, dentro do qual pela primeira vez nada pulsava, brilhava ou revolvia.
Seôni pigarreou ao lado de Zeck quando viu que ele relentou ao lado da árvore. Não havia tempo, o garoto sabia, e estava tudo certo. Porque ele tinha consciência de que seu acompanhante conhecia exatamente o que passava dentro de sua cabeça, pois é isso que acontece quando se tem mil anos. Sem titubear os dois subiram a colina de cima da qual Zeck virou-se e acenou. Para sua mãe e Helie que acenaram de volta, para os passarinhos que o seguiram vindo cantar agora sobre a cerca da casa de Seôni, e para Villa que jazia mimosa e perene como uma obra de arte de algum artista famoso de um outro mundo; então, olhando para frente encarou o futuro e partiu atrás de Seôni.
Os cavalos seguiam para o sul subindo e descendo intermináveis colinas em um trote lento, a princípio. Homem e menino viajaram lado a lado em silencio. Silencio este que só era quebrado quando Seôni queria mostrar a Zeck algum lugar, animal ou coisa interessante. Mas Zeck não estava realmente interessado em nada pois diante dos olhos da mente bailavam apenas duas coisas: o fato de ser Seôni e não seu pai a lhe levar ao estreito sul, e o fato dele estar rumando para um de seus destinos - um de três - sem nenhuma pista do que seriam os outros.
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BIBLION
FantasyQuando se tem 15 anos em Allakelion, nada pode dar errado. Quando se é adolescente em Vernom, o melhor sempre está por vir... ...a não ser que você seja Haizeck e comemore o momento mais importante de sua vida na noite em que as sete luas se alinh...