57. Escravos

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- Louvado seja! Vocês vieram! - Alguém vinha correndo e acenando com um tamborim na direção deles.

- Amiga! - Fleim correu para cumprimentar Adanef. Zeck e Linda se entreolharam e caíram na gargalhada.

- Eu não tinha certeza se os veria novamente - Adanef continuou - minha mãe vai ficar muito feliz. Venham, não vamos perder a festa.

Ela entrelaçou um braço em Fleim e o outro em Zeck e assim foram, com Linda logo atrás, até o meio da multidão que era maior do que eles haviam imaginado. O ambiente e energia eram tão diferente daquele que haviam visto no dia em que saíram da cidade que dava-se a impressão de que nem eram as mesmas pessoas.

A mãe de Adanef os recebeu com muito alegria e passaram o resto daquele dia inteiro conversando, comendo, cantando e dançando danças de roda. Eles acabaram descobrindo que nem todos ali eram escravos mas haviam muitos que haviam se juntado aos primeiros por medo da guerra ou por estarem curiosos em relação àquele povo que tinha um soberano tão poderoso.

- Se me perguntarem, a mistura não deve ser boa gente, diferente de vocês. Mas não contem pra minha mãe que eu disse isso - ela pediu para eles em tom de segredo.

Quando a festa finalmente terminou era hora de seguir viagem. Como julgaram já terem encontrado aquela que eles haviam perdido, como o beduíno indicara, decidiram ficar com Adanef e sua mãe que, como pensou que os três fossem órfãos, os recebeu de braços abertos.

Dali seguiram para o norte, para o deserto que levava para o Monte. A julgar pela distância da coluna que de dia lhes dava sombra e de noite lhes dava luz e calor, eles deviam estar quase no fim do grupo o que não lhes incomodava. Saber que Yadashel estava tão perto o tempo todo era algo simplesmente fantástico.

Não demorou muito no entanto, para que percebessem que aquela sensação de segurança e prazer não era partilhada por todos. Poucos dias depois Zeck chegou preocupado e pensativo na frente da Tenda onde Linda e Fleim amassavam o pão para o jantar. Linda foi a primeira a perceber.

- O que houve? - ela quis saber.

- Vocês já notaram como esta tal mistura de gente nunca parece feliz?

- Sim - disse Fleim socando a massa de pão com mais força - Como alguém pode não ficar feliz com Yadashel tão perto?

- O que houve Zeck? Outro pressentimento? - Linda perguntou colocando a mão no ombro de Fleim.

Esfregando o peito, Zeck olhou ao redor para ver se estavam sozinhos.

- Eu tenho a sensação de que Nasath não ficou do outro lado do mar.

- Será?! - Linda olhou para todos os lados.

- Não é como se eu possa vê-lo ou algo do tipo, sabe. Mas é este povo... sempre reclamando e falando de como a cidade era boa e confortável. Digo, vocês se lembram da situação da água, certo?

- E como esquecer. Mas é claro que eles não vão estar contentes. Eles tinham tudo o que queriam na cidade e estavam muito acostumados a servirem as entidades. Mas para os escravos a situação era diferente- Fleim resmungou.

- Aí que está - Zeck se ajeitou ao ver que eles estavam chegando no ponto - pois eu acabo de ver alguns escravos reclamando também. E desta vez sobre o alimento.

Linda deixou cair a sua massa de volta na tigela.

- O pão de Salém?! Não podem reclamar sobre o pão de Salém. É a comida dos Mehlaks. Nem em Allakelion nós temos acesso a ele.

- Mas eles não sabem disso, sabem? - disse Fleim

- Isso não é nada bom, meninos. - Linda cochichou.

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