42. Guardião

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De um salto ele colocou-se em pé e pensou em acordar Linda e Fleim. E se fosse Nasath tentando pegar-lhes de surpresa?

Haizeck - ele ouviu o vento sussurrar, fazendo-o parar e olhar ao redor. Vozes conversavam lá fora e ele decidiu que iria até lá. Sozinho.

- Eu quero que você olhe para o céu o conte as estrelas. - Zeck ouviu assim que passou pela abertura da tenda. O cenário estava diferente mas isso não o pegou tão de surpresa. Estavam agora no alto de uma colina de grama alta que dava face para um grande campo de trigo ondulante. Para além dele, os rebanhos dormiam ao relento, gozando da tranquilidade e paz do planalto, sob um céu forrado com todo seu esplendor de luzes e cores cósmicas. Zeck já havia visto muitos céus, dezenas de vezes mais deslumbrantes do que aquele, mas nunca tinha se sentido tão pequeno diante de nenhum deles. Se era o estado decaído e imperfeito de onde estava que o fazia sentir-se assim, era difícil de dizer, e aquilo nem importava.

- Bem assim, numerosa como as estrelas do céu será a tua descendência. - as palavras vieram não se sabe se do meio da plantação ou de dentro da cabeça do rapaz.

Isso só pode ser algo bom. Uma descendência numerosa como as estrelas poderia finalmente vencer o Exército de Nasath, certo? - ele pensou

Haizeck - novamente a voz do vento chamou, como vinda de um sonho. Talvez fosse melhor chamar Linda e Fleim...

Lembre-se

Uma luz ondulante muito branca pairou sobre o trigal fazendo as espigas emitirem um brilho de prata e ouro. Atraído tal qual um imã, Zeck caminhou para ela, quando sua intenção era voltar para a tenda e chamar os amigos. Parou apenas quando, já entre as espigas, percebeu que alguém se movia alguns passos à frente.

Era um homem idoso, de barba longa e branca, trajando uma longa túnica escura sobre vestes igualmente longas, que aparentavam ser de uma lã amarelada, amarrada à cintura por uma tira de pano escarlate. Andava apoiando-se em um longo cajado parecido com aquele do Ancião, só que menos nobre. Aparentava estar preocupado, hora olhando para cima, hora para baixo, para a cena grotesca a seus pés.

Os corpos de três animais jaziam cortados ao meio e empapados em seu próprio sangue no chão,acompanhados de duas aves inteiras. Zeck ainda não tinha conseguido entender aquela obsessão por sangue e criaturas mortas, todavia sentiu que aquilo devia ser algo muito importante.

Uma brisa quente vinda do vale soprou sobre eles fazendo as espigas ao redor se

curvarem.

- Estás a perguntar-te por que eu pedi para que fizesses preparativos como aqueles

feitos para firmar acordos entre os reis deste reino? - a voz de Yadashel foi ouvida,

nítida e pulsante de dentro do vento e o homem prostrou-se com o rosto em terra.

Zeck também ajoelhou-se e instintivamente cobriu a cabeça com o capuz.

De repente, uma densa escuridão de arrepiar os cabelos os rodeou e do meio dela surgiram sete línguas de fogo que dançavam ao redor dos dois ao mesmo tempo que exalavam nuvens

perfumadas de um branco muito branco. Ali prostrados, reconhecendo a hierarquia

natural de todas as coisas, Adamense e Verniano não ousaram olhar para o

fogo, que falou de novo.

- Eis que hoje Salém se inclina, e o único e verdadeiro Rei dos Lugares Altos entra em acordo perpétuo com os filhos dos homens. - enquanto ouvia, Zeck ousou levantar os olhos só um pouco e pôde ver quando a fumaça e o fogo começaram a se misturar e formar silhuetas humanas que se moviam e gritavam

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