58. Nação

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- Oh Zeck, Oh Zeck! - Linda veio correndo na frente, soluçando entre cada lamento - eu estava tão preocupada!

Pego de surpresa Zeck colocou uma mão confortante em seu ombro mas esperou que Fleim, que chegava logo atrás explicasse o que estava acontecendo.

- Você estava certo, cara. Nasaht cruzou o mar. - ele disse sem fôlego. E não era por causa da corrida.

Linda soluçava copiosamente agora. Apavorado como sempre ficava quando via Linda chorando, um choro que parecia ser partilhado por outros no acampamento além das rochas, ele fez sinal suplicando que Fleim continuasse.

Fleim olhou para os lados e, guiando os dois ele foi se sentar atrás de uma fenda mais profunda. Ali ele estendeu a Zeck o livro para que ele se atualizasse. Era muito difícil falar sobre aquilo.

- Eu vi o bezerro - ele falou - antes do portal se abrir lá no alto da montanha. Mas eu nunca imaginei que ele significasse algo assim... - ele batia o indicador contra a página que havia acabado de ler. É por isso então que o guia quebrou os tabletes.

- Terrível não? - Fleim comentou encostado na parede de braços cruzados.

- Sim... mas também, com tantos adamenses envolvidos, só pode dar problema mesmo - Zeck disse - não vejo como isso possa dar certo.

- Bem, Yadashel acha que sim...- Fleim começou a dizer mas nem ele conseguiu sustentar aquele argumento.

- De qualquer forma, Nasaht está adorando tudo isso - Linda disse com os olhos inchados - você precisava ver a satisfação dele na hora da festa.

É por isso que nos escondemos. Eu tenho certeza de que ele quer este tratado mais do que os outros. Nós sabemos como as coisas funcionam. O guia mesmo nos disse, lembra? Yadashel quer se estabelecer em Adama. É claro que Nasaht não vai permitir.

- Então é simples. É só expulsar Nasaht e pronto.

Fleim balançou a cabeça.

- Este reino é dele. E claramente ele tem soldados infiltrados no meio dos escravos.

- Tinha. O guia mandou matar todos, esqueceu? - Linda sentiu um calafrio descendo pela espinha.

- Como assim?! - Zeck pulou, os olhos arregalados. Com certeza tinha pulado esta parte da leitura. A menina fechou os olhos apertados, relembrando.

- Sim. Ordens de Yadashel. Mortos na nossa frente, por seus amigos e familiares.

- Ah sim. É muito fácil usar a morte como penalidade. Enquanto isso Nasaht só está aprontando por aí. - Zeck acabou deixando escapar algo que não era a primeira vez que passava por sua cabeça.

- Eu sei onde você quer chegar, mas é complicado - disse Fleim sem surpresa- Eu também não entendo o porquê dele ainda estar livre depois de tantas coisas que já vimos acontecer por sua causa mas desta vez ele estava presente e só isso. Só observando. - ele parou um pouco - Os rebelados já saíram da cidade rebelados. Aquela mistura de gente de quem Adanef tanto falava. Tudo o que eles faziam era reclamar e tornar a vida do guia mais e mais difícil. Tudo isso na presença de Yadashel. Não é como se eles não merecessem.

- Fleim que coisa horrível de se dizer! - Linda repreendeu.

- Mas é verdade! - ele retrucou exaltando-se como daquela vez no deserto. O que ainda era estranho - Depois do que eu vi hoje não consigo deixar de acreditar que existem adamenses tão cheios de maldição que acabam se tornando a própria maldição. E quando chega neste ponto, o que fazer a não ser acabar com eles?

- É como se matando-os se matasse a própria maldição. - Parafraseou Zeck.

- Eu ainda não entendo - disse Linda. E o silêncio que se seguiu demonstrou que ela não era a única. Então Zeck resolveu quebrar o silêncio.

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