- Eu acho que somos só nós agora - Zeck disse sem conseguir esconder sua apreensão. Mas era melhor seguir andando do que ficar ali esperando por mais problemas.
- Se perguntarem, nós temos que dizer que somos ajudantes de Adanef na cozinha - Linda recitou andando ao lado de Zeck e tentando decidir se arriscava equilibrar o vaso na cabeça - como fazemos isso?! Não é verdade!!
- Deixe comigo - Zeck disse sem convicção. Convicção que deveria arranjar de algum lugar pois havia acabado de perceber que dois dos homens do rei estavam parados guardando a entrada para o palácio. Para o alívio deles porém não eram os mesmos que os haviam perseguido.
- Alto lá! - disse um dos guardas - Onde vocês pensam que vão?
- Para a cidade dos escravos - Zeck disse sem titubear torcendo para que ele não fizesse mais nenhuma pergunta difícil.
- Ah vocês devem ser os novos ajudantes de Adanef - disse o outro e só recebeu piscadas assustadas como resposta.
- Temos ordens para enviá-los ao templo. Não saem daqui sem falar com os sacerdotes - O primeiro apontou para um prédio alto de pedras claras ao lado do palácio, à esquerda dos garotos e virou-se junto com seu parceiro para olhar para a rua. Para lá Linda e Zeck seguiram sem retrucar, mais para ficar longe dos guardas do que por qualquer outra coisa.
- Zeck você está entendendo alguma coisa? - Linda perguntou quando sentiu que já estavam longe o suficiente. Zeck sacudiu a cabeça.
- É nessas horas que Fleim faz falta - ele resmungou.
- Ah, nem se preocupe, na certa ele já decifrou tudo isso e mais um pouco - Linda disse com a boca cheia e suspirou - mas no momento a gente tem que esperar até chegar à cidade...
- Você está encarando isso muito bem. - Zeck comentou olhando para ela, tentando decifrar alguma coisa. Ver algo que ele não estava conseguindo ver em si mesmo. Linda deu de ombros.
- Bem, Adanef nos deu roupas mais bonitas e nos tirou do palácio... Além do mais ela não tinha aquelas coisas feias no corpo dela.
- Verdade - Zeck analisou tudo aquilo - e nem os outros trabalhadores... e os guardas no portão também não.
Como aquilo era possível? E o que diferenciava todos estes dos primeiros que eles haviam visto? Tudo aquilo teria que ficar para mais tarde porque naquele momento o templo lhes roubou toda a atenção.
Ali estavam eles diante de estruturas que jamais haviam visto no exílio. Primitivas para seus padrões, é verdade, mas que revelavam uma engenhosidade que eles até então não tinham visto de perto e que parando para pensar só podia significar duas coisas: ou que os Adamenses não tinham perdido totalmente sua identidade como Allakelianos ou que alguém que já havia vivido fora do exílio os estava ajudando. Sem muito tempo para refletir decidiram que, por hora, a verdade estava em algum lugar entre as duas hipóteses.
- Volto a repetir que não estou gostando disso. - Zeck deixou escapar enquanto entravam no prédio alto.
- Eu também não - Linda assumiu.
Lá dentro o ar era mais fresco e misturado com os vapores de muitos incensos de cheiro inebriante, que tornavam todo o ambiente sem janelas ainda mais sombrio. Iluminadas por tochas individuais várias estátuas de pelo menos quatro vezes o tamanho deles formavam um círculo quase fechado.
Imediatamente foram atraídos pela sua compleição e característica comum. Todas afinal tinham corpo humano e cabeças de animal. Além de que, eles já haviam visto algo parecido no primeiro dia na sala circular quando entraram na Sociedade. Não era preciso dizer mais nada. Com o estômago embrulhado Zeck se dirigiu a um pequeno obelisco de topo pontiagudo no meio do salão onde uma escrita, em um alfabeto prazerosamente conhecido, parecia transcrever exatamente o que passava pela sua cabeça.
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BIBLION
FantasyQuando se tem 15 anos em Allakelion, nada pode dar errado. Quando se é adolescente em Vernom, o melhor sempre está por vir... ...a não ser que você seja Haizeck e comemore o momento mais importante de sua vida na noite em que as sete luas se alinh...