25. Desapego

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Não parou e nem olhou para trás até estar a uma boa distância do Prédio Acadêmico. Atravessou o refeitório vazio e pegou a estrada para o residencial a qual percorreu a passos largos até chegar em seu quarto e jogar-se estatelado na cama, olhando para o teto. Sua respiração, pesada e barulhenta foi se acalmando aos poucos. Acabou. Ele tomara uma decisão e não voltaria atrás. Biblion e tudo o que tivesse relação com ela era algo que ele faria questão de esquecer completamente, assim como Etiel havia sugerido. Agora ele sabia. Finalmente.

Fechou os olhos e relaxou. Esquecer até que não era tão difícil quando se podia pensar em Linda, no coral, em Vernon ou qualquer outra coisa em seu mundo ideal e cheio de vida. Poderia ficar ali esquecendo o dia inteiro se não fosse por uma batida oca, vinda de dentro da gaveta da escrivaninha, que o fez sentar-se em um pulo.

Outra batida, agora um pouco mais fraca, o colocou de pé. Ao abrir a gaveta, qual não foi sua surpresa ao deparar-se com um poalan tirando uma soneca com as costas apoiadas contra a esfera prateada. Zeck tirou a esferada gaveta, com cuidado para não acordar o bichinho, mas não funcionou. O poalan levantou-se e ficou encarando ora o garoto, ora a esfera, com seus grandes olhos e as orelhas balançando.

- Oi para você também - ele sorriu para o bichinho. Um sorriso que desfez-se bem rápido. Ele olhava para a esfera agora. Fria. Inerte. Como pedra. - Sabe, eu nunca vou conseguir me esquecer enquanto esta coisa ainda estiver aqui... - falou mais para si do que para o Poalan. Mal acreditava no que estava passando pela sua cabeça.

Como que para dar voz aos seus pensamentos, o poalan se apoiou na borda da gaveta e saltou, agarrando-se com suas patinhas na roupa de Zeck e subindo até acomodar-se em seu ombro. Ficou olhando para a esfera e dizendo algo que o menino não entendia.

- Eu sei, eu sei que este é o coração da Myichaim, mas o que você espera que eu faça? - ele disse como se tivesse compreendido o bichinho - eu vou ter que pensar em uma boa explicação para quando eu voltar para casa, mas é melhor do que sair por aí brincando com Adama.

Dizendo isso, Zeck caminhou para fora do quarto. Ao chegar na porta de casa, parou como que para ter certeza do que estava fazendo. O poalan saltou de seu ombro para o parapeito na entrada e sentou-se com os bracinhos cruzados anunciando que ele não concordava com o que quer que Zeck fosse fazer. Sentindo-se estranho, o menino saiu em direção ao lago. Não tomou o caminho que levava à entrada do bosque, mas

preferiu caminhar entre o emaranhado de árvores que contornavam a margem do lago para não chamar a atenção de quem quer que estivesse no residencial naquele horário.

Quando chegou em uma parte próxima o suficiente da água, escalou uma árvore alta indo sentar-se na copa. De lá, podia ver boa parte do residencial e quase todo o lago sem ser visto. O único movimento que havia no vale era o de alguns alunos que não tinham aulas naquela manhã ou resolveram não ficar para o almoço.

Lançou um olhar para as montanhas e fitou mais uma vez a esfera. Lembrou-se uma última vez da coluna de nuvem negra do dia anterior. Fechou os olhos e pensou em Seôni, na lenda e na árvore. O conjunto de lembranças o fez tremer e hesitar. Todas remetiam à uma antiguidade que ele apenas começara a conhecer e já achava difícil demais... era mais fácil pensar em Villa, em seu aniversário, na nova escola, em Linda e nos Foi a força destas lembranças que ele concentrou em seu braço enquanto este arremessava a esfera prateada em direção ao lago. Ficou observando-a desenhar um arco no ar até mergulhar silenciosamente. O que quer que aquilo fosse, estava feito. Não dava para voltar atrás; e conforme ele imaginava a esfera afundando, sendo levada para longe pela corrente quem

sabe para dentro da fronteira proibida, a bola que parecia ter se alojado em seu peito ia se dissolvendo, fazendo com que respirar ficasse bem mais fácil. Aquilo só podia ser sinal de que fizera a coisa certa. Tinha que ser.

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