A noite chegou sem nenhum aviso e o choro de Linda foi substituído pelo soprar da brisa sobre a colina. Na verdade, nem ela nem Fleim estavam mais ali. Haviam sido substituídos por um homem. Estava em pé encarando o fogo. Em sua mão direita empunhava uma espécie de faca de diamante manchada de vermelho. Manchados também estavam seu rosto e sua veste que, Zeck reparou, era feita do pelo de algum animal. Grotesca, não era de se negar, mas pelo menos lhe servia melhor do que aquela desengonçada, feita de folhas de figueira.
Zeck pensou em dizer-lhe algo a princípio. Queria que ele soubesse de todo seu desgosto e frustração com aquilo que eles tinham feito no jardim e muito mais que estava entalado em seu peito. Mas sabia que Adama não estava de fato ali. E mesmo que estivesse, Zeck não teria coragem. Apesar de tudo, o homem que estava diante dele ainda era um patriarca e pouco, ou quase nada, de seu porte havia mudado depois do Paraíso e, a julgar por seu semblante iluminado pelo fogo, ele mais do que ninguém sabia da besteira que havia feito.
Alguém se aproximava a passos lentos e suaves. Adama virou-se e Zeck esticou o pescoço para ver a mulher que, vestida como o marido carregava um cesto repleto de frutos.
- Pensei que te encontraria por aqui. - disse se aproximando.
- Por onde andava? - Adama perguntou.
- Eu te disse que iria ao vale para colher o jantar, não disse?
- Sim. Mas você demorou. Eu estava preocupado. - Adama deu-lhe um beijo carinhoso. Era bom ver que eles estavam de bem.
- Desculpe. Eu precisei ir mais longe para encontrar um desses. - Ela remexeu dentro da cesta e retirou uma maçã de bom tamanho.
- Minha preferida! - o rosto de Adama se iluminou - Mas você não devia ter corrido este risco.
- Qual risco?
O patriarca abaixou a voz.
- Lembre-se que este não é mais nosso reino.
Ella tentou retrucar mas ele fez sinal com a mão e prosseguiu.
- Não é mais seguro andar sozinha aqui fora do que era no jardim, meu amor.
- O perigo mora dentro de nós agora, Adama - a matriarca disse pondo ênfase em cada palavra - não é como se pudessemos escapar disso.
Adama balançou a cabeça concordando.
- Além disso, o mensageiro de Salém nos disse que enquanto nos colocarmos do lado de Yadashel e obedecermos seu comando, Nasath não poderá nos tocar. - Ella concluiu.
- Eu só não quero que nada de ruim aconteça com você, querida. - Adama parecia realmente preocupado.
- E quanto a você? O que faz aqui em cima sacrificando sem mim? - Ella encarou o marido com
uma sobrancelha erguida. Ele titubeou um pouco.
- Er, eu... não queria que você se chateasse e...
O semblante da mulher caiu.
- Ah não! Você nåo fez... ele era meu preferido! - choramingou mas não demorou para se recobrar. Respirou fundo e tentou segurar uma lágrima que teimava em se formar. - Enfim... o que precisa ser feito precisa ser feito. Agora eu vou ter que pensar em como explicar para os outros.
Adama olhou para as mãos manchadas e estremeceu.
- Se você ao menos não fosse tão apegada ao rebanho... - reclamou
- O que eu posso fazer? - Ella deu de ombros. - Eles ainda me tratam como a amiga que conheceram no Jardim. Parecem não entender, ou não querer aceitar, que eu sou a culpada pela morte deles.
VOCÊ ESTÁ LENDO
BIBLION
FantasíaQuando se tem 15 anos em Allakelion, nada pode dar errado. Quando se é adolescente em Vernom, o melhor sempre está por vir... ...a não ser que você seja Haizeck e comemore o momento mais importante de sua vida na noite em que as sete luas se alinh...