54. Trapos

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- Uhuu!! Que demais!!! - Fleim foi o primeiro a se desenroscar e de um pulo começou a estudar o ambiente.

- Cadê a luz?! Cadê a luz?! - Zeck esperniava lutando contra a capa que havia feito um nó ao redor de sua cabeça. Ficou ali, sentado com uma cara abobalhada até o mundo decidir parar de girar e ficar na posição certa.

- Alguém sabe onde estamos? - Fleim voltou a estudar os arredores. Era bonito. Muito bonito mesmo. Mais bonito do que qualquer lugar que já haviam visto em Adama desde o banimento. Um saguão quadrado de pedras claras que brilhavam com a luz do sol forte, com um teto alto recheado de figuras douradas, pretas e azuis, sustentado por grossas colunas retangulares também desenhadas. Na maior parte com motivos de pessoas e animais, ou pessoas com cabeças de animais.

- Não sei. O Ancião falou, falou e não disse nada. - Linda respondeu terminando de ajeitar a roupa e o cabelo. - De qualquer forma esse lugar não parece estar em guerra para mim.

- Eu não gosto daqui. - Zeck disse se levantando por último e caminhou para uma das colunas, atraído por uma daquelas grandes figuras com cabeça de animal. - Sei lá. Tem alguma coisa que não está certa.

- Vocês estão ouvindo isso? - Fleim fez sinal com a mão para que escutassem. Bem longe a princípio e tornando-se mais e mais clara eles ouviram vozes vindas da direita. Vozes de homens que pareciam estar discutindo. Movidos por uma cautela que eles desconheciam, os três moveram-se para a fonte da voz tentando fazer o mínimo de barulho possível e escondidos atrás de uma coluna à uma distância confortável, esticaram os pescoços para espiar.

- Como pode permanecer obstinado em sua rebelião contra o Soberano mesmo depois de derrota após derrota. É ver este país e este povo reduzido à miséria realmente mais importante do que escutar a voz que te ordena fazer o que é direito e deixar o povo ir? - na linha de visão logo diante deles um homem de certa idade de rosto lívido e vestes longas gesticulava, interrogando alguém que eles não conseguiam ver mas que sentava-se em um trono posto sobre uma plataforma bem feita com homens fortes de cada lado e muitas outras pessoas ao redor, todos encarando o homem que falava e seu companheiro que, apoiado com as duas mãos em seu cajado retornava-lhes um olhar de autoridade que dizia mais do que muitas palavras.

- Como podem ter a ousadia de aparecerem aqui mais uma vez com seus truques e mentiras?! Já por muitas vezes não mostramos que nossas entidades são poderosas para realizar e fazer estes e muitos outros prodígios? Saibam que só não os mandei matar por misericórdia.

- Misericordia?! - o primeiro homem debochou - Só não nos toca porque aquele que nos enviou não te permite. O mesmo que te provou das últimas três vezes que não são capazes de copiar o que fazemos e que impede que nosso povo sofra das mesmas agruras.

- Ousadia! Ousadia! - pois saibam que ela não será para sempre tolerada. Esqueçam esta idéia e desistam de querer me privar de meus trabalhadores. Eles não vão a lugar nenhum.

O primeiro homem ia falar algo mas foi impedido pelo toque daquele que segurava o cajado.

- Eu já esperava que fosse me dizer isso. - ele disse tirando do bolso no interior de sua veste um pequeno saquinho de couro que ele abriu e virou sobre a mão espalmada. Fumacinhas acinzentadas se levantaram acima dela e voaram para todas as direções. - Misericórdia vossa majestade disse. Pois eu espero que as entidades tenham misericórdia de vocês. - Ele lançou a mão para cima e a cinza rapidamente se espalhou para todos os lados, sumindo no ar. Imediatamente o tempo parou e tudo foi envolvido em um mundarel de fumaça.

EIS QUE TEUS FILHOS IRÃO PARA UMA TERRA QUE NAO LHES PERTENCERÁ E ALI SERÃO OPRIMIDOS E FEITOS ESCRAVOS - uma voz vinda de lugar algum trovejou fazendo com que Zeck Linda e Fleim perdessem o equilíbrio e caíssem - DEPOIS DESTE TEMPO, EU PUNIREI AQUELE POVO E TEUS DESCENDENTES SAIRÃO DELA COM MUITOS BENS.

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