36. Volta

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- Eu estou bem, sério. - Zeck tranquilizou Linda que olhava para ele assustada enquanto ele endireitava-se e arrumava a roupa.

- Bem, pelo menos agora a gente sabe que, até nós descobrirmos o que está acontecendo, você deveria ficar o mais longe possível de Nasaht.

Zeck concordou. Na verdade, ele queria era ficar bem longe de tudo aquilo, mas já havia entendido que esta não era uma opção.

- E onde estamos agora? - perguntou olhando ao redor. Gradativamente, a escuridão ia cedendo. Sombras e silhuetas iam se formando ao redor deles até revelarem ser de colunas de meia altura. Cinco ao todo, feitas de ouro branco polido que lhe batiam mais ou menos na altura do peito.

- Eu não sei. - disse Fleim. - Mas eu tenho certeza que não é mais Adama.

- Será que nós voltamos? - o olhos de Zeck brilharam.

- Acho que não. Vocês não estão escutando? - disse Linda levantando o dedo. Os meninos aprumaram os ouvidos. - Parece vento e água.

Um raio incendiário brilhou à direita deles por trás de uma grande janela em forma de arco. Por um segundo eles puderam ter um relance de que estavam em um grande salão circular com altas pilastras. A explosão do trovão que seguiu o raio fez tudo estremecer. Um segundo raio lhes revelou que o tempo lá fora não estava dos mais convidativos. E um terceiro, que alguém os observava de longe.

Os três viraram para encarar a silhueta do desconhecido, preparados para se defender se fosse necessário.

- Não temais, filhos de Allakelion. Sois bem vindos aqui. - O estranho disse acendendo uma lâmpada a óleo que ele carregava na ponta de seu longo cajado. A chama que se formou estalou duas vezes e toda a sala se iluminou. Não era tão grande no fim das contas mas mesmo assim era admirável com seu chão negro e espelhado, um teto alto com afrescos coloridos que pareciam contar uma longa história, e aquelas majestosas cinco colunas diante de uma porta de folha dupla, feita de uma única pérola na qual havia sido encravado o símbolo de Biblion.

- Este é o Salão Circular. E eu sou vosso guia.

Talvez mais impressionante do que o salão era aquela curiosa figura de quem os três não conseguiam desprender os olhos. Ele era alto e robusto, apresentando uma extravagante barba longa até a cintura na frente e cabelos que caíam como um véu, na mesma altura atrás; ambos brancos com mechas douradas que brilhavam com a luz natural que irradiava de seu rosto alegre e olhos profundos. Trajava um longo manto branco que arrastava no chão e que ele cobria com uma túnica escarlate aberta. Vermelha também era a coroa de louros que ele usava na cabeça. Conforme se aproximava, batia o longo cajado de madeira muito nobre no chão.

E este Salão Circular - Fleim ousou dizer já que ninguém tomava a dianteira - isso é em Biblion?

Tudo é em Biblion. - o homem sorriu.

Isso significa que conseguimos! Cumprimos a missão! - Linda olhou para Zeck comemorando.

Devagar, minha jovem - O homem ergueu a mão livre. - De fato, vocês fizeram um ótimo trabalho lá fora. Mas esse foi apenas o começo.

Zeck sentiu seu coração indo parar no dedão do pé. Por um momento chegara a pensar que sua passagem por Biblion estava chegando ao fim.

- O que fazemos agora, então? - perguntou.

- Eu imagino que tendes algo para mim?

Os três entenderam que o homem estava se referindo ao Tratado. Zeck o tirou de dentro do bolso e estendeu-lhe. Ele segurou a esfera com muito cuidado e caminhou com ela até a primeira coluna à esquerda. Colocou o objeto sobre ela e, de pronto, ela começou a flutuar a alguns centímetros de altura e a emitir um zumbido agudo enquanto filetes de luz vermelha circulavam ao seu redor desenhando motivos curiosos. O zumbido continuou, mais e mais agudo até que a esfera explodiu em milhões de fragmentos, dando lugar a um carneirinho de fogo que flutuava sobre o que não mais era a coluna, mas a mão direita da estátua de ouro do próprio Adama que, com o braço esquerdo erguido, apontava para a porta.

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