22. Nuvem

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Todos aplaudiram Zeck e Linda que , após darem-se conta de tudo ao seu redor, desviaram os olhos um do outro corando bastante. Maestro Nilov dispensou os candidatos agradecendo-os muito pela presença. Os veteranos, após parabenizarem Zeck e Linda com um tapinha nas costas, voltaram a seus postos para esperar o próximo grupo. Sonata mostrou aos candidatos uma porta atrás do palco, por onde eles podiam sair.

- UAU! Aquilo foi DEMAIS! - Explodiu Iris abraçando os amigos assim que saíram do teatro. - Foi a música mais linda que eu já ouvi.

- Como vocês fizeram aquilo? - perguntou a garota da gaita - Parecia que vocês tinham ensaiado antes.

Zeck olhou para Linda rapidamente pensando em uma resposta. A garota olhou de volta para ele com aquele sorriso característico, tentando também achar uma resposta.

Mas a verdade que ambos sabiam era que aquilo seria algo difícil de explicar. Para começar, todos estavam falando sobre a música mas, para os dois, a música havia ficado em segundo plano. Zeck sabia que o que ele vira era um sonho, uma projeção do futuro que ele queria para si. Um futuro que incluía Linda. O que em si só já era curioso. Mais curiosa ainda era aquela conexão. O que Linda, de sua parte, vira? Como ela fora parar, de repente, dentro do seu sonho? Para ele, não era possível que o maior sonho de uma garota que ele mal conhecia e de quem ele sabia tão pouco, fosse cantar no coral regido por ele.

Ela preparou-se para falar algo que até ele estava curioso para saber quando, sem aviso, o dia virou noite e em algum lugar ali perto alguém gritou.

Estava escuro. Escuro como uma noite de tempestade. Escuro como um mundo sem estrelas. De uma escuridão paralisante.

- O que é isso?! - alguém gritou.

- O sinal!! - gritou um outro.

- A nuvem! Só pode ser a nuvem! - sugeriu um terceiro ao mesmo tempo que um trovão daqueles que fazem estremecer até a alma, fez com que tudo se calasse. Nenhum pássaro ousou cantar, nenhuma corda de instrumento vibrou e até a brisa emudeceu.

Aquela era o tipo de cena que ninguém em sã consciência sequer imaginaria. Não em Allakelion, pelo menos: Um grupo de adolescentes de olhos vibrantes e rostos iluminados encolhendo-se diante de algo inusitado e desconhecido. Algo estava errado e Zeck, mais do que ninguém ali, tinha esta convicção.

Uma luz forte, azulada e confortante brilhou logo atrás deles e ao virarem viram Fleim com a mão em chamas estendida sobre a cabeça correndo em sua direção.

- Por aqui, pessoal! - ele tomou a dianteira do grupo e com habilidade escalou até a metade de uma árvore de onde ficou agitando a mão.

Em pouco tempo já havia um bom grupo reunido ao redor dele, atraído pela chama. Um pouco mais e três edimenhos apareceram carregando lampiões de um bom tamanho que eles acenderam com auxílio da mão que Fleim lhes estendeu.

Guiados por aquelas tão desejadas luzes o grupo começou a caminhar, tomando muito cuidado para não ficar para trás. Não dava para saber o que passava dentro da cabeça deles naquele momento, mas assim que Fleim desceu da árvore, Linda correu e se agarrou em seu braço forte e enterrou parte do rosto em seu ombro.

Iris teve que puxar Zeck pela mão, e foi só aí que ele percebeu que tremia.

Rapidamente, o grupo foi atravessando a floresta que permanecia silenciosa. Quanto mais avançavam, mais pessoas se uniam a eles, atraídas pela chama de Fleim e pelas lanternas. Em pouco tempo já estavam na entrada principal e logo depois saíam do bosque.

Deixando para trás as árvores amontoando sombras, Zeck e os outros puderam sentir o leve aumento de claridade no vale. Nada muito confortador, no entando, pois de resto a situação no vale era ainda mais perturbadora. Todo o movimento e sons da festa haviam cessado. Os quiosques da feira estavam abandonados e para onde quer que olhassem a cena era a mesma. Todos, sentados ou de pé, virados para a direita, hipnotizados por algo nas montanhas. Quando olhou para lá, Zeck teve que apoiar-se em Iris para não cair.

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