16. Luzes

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Zeck saltou os degraus indo ajoelhar-se ao lado de Daiv no mesmo instante em que Etiel explodiu porta à dentro.

- O que está acontecendo por aqui? - seus olhos arregalados e expressão fora do comum davam-lhe uma aparência muito mais velha.

- A luz! Sima! Sumiu! O coração! - Zeck cuspiu, como se os sentimentos recentes houvessem decidido escapar por sua boca.

- Seguimos a coluna de luz verde e demos de cara com isto. - Daiv abriu espaço para o outro rapaz que se ajoelhou diante de Sima e apoiou sua cabeça com uma das mãos.

- Aquela luz... - Etiel murmurou enquanto metia a mão livre dentro da camisa de Sima na altura do peito, como que procurando algo. Zeck não conseguia desviar o olhar de seu rosto retorcido. A coisa mais estranha que ele já havia presenciado, e não gostou nem um pouco. Era como quando, encurralado em um canto, alguém cerra os olhos esperando pelo pior. Mas é claro que aquela comparação nem passou por sua cabeça, pois aos quinze anos ele não conhecia a palavra "pior".

- Você também viu a luz?! - ele virou-se para Etiel, piscando como que saindo de um transe.

- Eu e muitos outros... - Etiel encontrou o que estava procurando, e quando pressionou sua mão contra o peito do colega, este abriu os olhos e sorveu em alto e bom som todo ar que pode.

- Etiel, eu... o... - Sima disse com dificuldade segurando firme a mão que Etiel tinha sobre seu peito.

- Agora não, irmão... - Etiel sorriu nervosamente - Não agora. Vai ficar tudo bem - ajeitando as duas mãos debaixo do corpo do edimenho, Etiel levantou-o sem dificuldades e sem sequer olhar para Daiv e Zeck caminhou para uma das janelas abertas.

- O que aconteceu aqui morre aqui, caras - ele disse por cima do ombro - quer dizer que não devem sair por aí falando sobre isso - e voou sabe-se lá para onde.

Zeck e Daiv não se mexeram de imediato. Zeck na verdade nem piscava, os pensamentos dentro de sua cabeça em uma corrida desenfreada. Daiv finalmente levantou-se e assobiando jogou-se no pufe mais próximo.

O que foi tudo aquilo? - resmungou - E que língua era aquela que ele estava falando?

Zeck não estava ouvindo.

- Daiv, a esfera... será que ela caiu em algum lugar e eu não vi? - finalmente levantou-se de um salto e correu de volta para o quarto.

Quando Daiv chegou lá algum tempo depois, ele já havia virado a cama, arrastado o guarda roupa, levantado tudo o que podia ser levantado e olhado em cada canto.

- Será que alguém pegou? - virou-se para o amigo com olhos suplicando por uma resposta que fizesse sentido.

- Que idéia maluca, Zeck! - disse Daiv - Alguém sair por aí pegando as coisas dos outros... onde já se viu.

- Sei lá - Zeck deu de ombros - este não é o ano mais normal da minha vida.

- E quem você acha que poderia ter feito uma coisa dessa?

-... o Cinzento...? - pelo tom de voz Zeck também concordava que aquela idéia, mais do que maluca, era absurda.

- Que, a gente sabe, só existe nos seus sonhos...

- A gente não sabe disto - Zeck andava de um lado para o outro com as mãos na cabeça - a gente não sabe disto. E se... e se ele estiver tentando chamar nossa atenção? Quer dizer... luz verde duas vezes no mesmo dia? E se...

De repente parou agarrando-se firme a um daqueles raros momentos, que podem facilmente passar despercebidos se você não presta atenção, quando por um milésimo de segundo tudo parece fazer sentido.

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