Capítulo Quatro - O monstro no meu quarto

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Capítulo acrescentado

Davies

— Por favor, papai! Por favor, não quebra!
Ele não me ouviu. Por que ele não me ouvia?
— Eu quebro você no lugar. Você quer?
Eu neguei. Não queria apanhar. Minhas costas estavam doendo e meu maxilar ainda estava vermelho.
Ele fedia. Era azedo e lembrava urina com suor. Eram assim que os monstros cheiravam.
O senhor Mitchell não cheirava assim. Ele tinha cheiro de amaciante e café. Ontem, ele deixou um embrulho escondido no cantinho da cerca. Eu sabia o que era. Eram pedaços de bolo que a sua esposa fazia. Eu os dividi com a minha mãe e ela chorou enquanto comia. Talvez não fosse o sabor que ela gostava, mas, de qualquer forma, ela comeu mais de um pedaço.
Agora eu estava vendo meu pai pegar meu carrinho turbo e pisar em cima dele. Parecia um gigante, esmagando meu carrinho.
— Odeio você! — eu pensei.
Meu Jesus! Eu pensei em voz alta.
Meu pai olhou pra mim com os olhos bem abertos. O mostro tinha fogo saindo dos olhos e a boca aberta querendo me devorar.
Ele tirou o cinto das suas calças e senti algo molhar as minhas. Eu estava fazendo xixi e me odiei. Era mais um trabalho para minha mãe. Eu não gostava de dar trabalho para ela.
Quando a primeira cintada atingiu as minhas pernas, eu senti o chão debaixo dos meus joelhos.
— Me perdoa, papai — eu gritei, sentindo meu rosto e minhas calças molhadas. — Tá doendo. Para! Para! Para! — eu gritava o máximo que podia.
— Vai aprender a me respeitar.
— Não faz isso. Chega! — minha mãe gritou.
Ela se aproximou depressa, ainda mancando.
Ele continuou.
Por que ele não ouvia?
Minha mãe me envolveu nos seus braços e ficamos abraçados, chorando, como se fossemos uma bola que tinha som. Eu ouvi todos os golpes que acertaram as costas dela. Eu sabia que doía. Ela chorava com a boca aberta, fazendo um barulho igual um animal machucado.
Minha boca tremia e comecei a vomitar. Agora minha mãe teria que limpar meu xixi e meu vômito. Eu me odiava.
"Me perdoa, mamãe."
— Deus, eu não aguento mais — ela disse e aí, ele parou.
Eu vi por cima do ombro da minha mãe, que ele estava respirando rápido. Pegou um cigarro e acendeu. Depois, jogou o palito nas costas dela.
— Parabéns, Davies! Graças a você, sua mãe apanhou. Assim como eu, você também machuca — ele cuspiu. — Você é desprezível, Davies... Você causa dor.
Minha mãe continuou abraçada comigo. Ela passou o polegar na minha boca, limpando o resto de vômito.
— Mamãe... eu... eu...
— Não fale, só continue abraçado comigo — deu uma longa respiração. — Eu vou dar um jeito, só não sei como. Preciso dar um jeito.
Ela se moveu e sentou no chão. Eu sabia que ela estava com dor. O rosto da minha mãe dizia isso.
— Vamos embora, mamãe, por favor!
— Estou tentando, Davies. Mas, onde eu iria conseguir dinheiro?
— O senhor Mitchell pode ajudar.
— Não quero envolver outras pessoas nisso. Podem se prejudicar por nossa causa.
— Mas, ele disse que quer ajudar.
— Depois conversamos sobre isso, querido. Venha. Vou te dar um banho e limpar isso aqui.
Ela gemeu quando se levantou e eu sabia que também seria assim comigo. Ela me ajudou e doeu quando a água caiu na minha pele.
Eu não quis comer. Ela me colocou para dormir. Eu estava tão cansado.
Ninguém me disse que era cansativo ter oito anos de idade. Ninguém me disse que ser criança, significava enfrentar monstros todos os dias.

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