Heloyse
A feira tinha tudo o que podia imaginar. Desde comidas e bebidas, até eletrodomésticos de última geração.
Enquanto eu olhava a nova máquina de cappuccino, Ashley estava em algum local, saboreando as comidas que eram colocadas para degustação. Por volta do meio-dia, eu liguei para ela, perguntando onde ela estava.
— Desculpa amiga, mas conheci um gatinho bem aqui perto das barracas de temperos.
— Ah, é?
— Sim. Ele está de costas, pagando sua compra. Nossa... Se você visse o bumbum dele...
— Você é uma safada — eu disse, rindo. — E ele gostou de você?
— É claro! Eu sou irresistível! Até pediu meu número de telefone.
— E qual é o nome dele?
— Depois eu falo, ele está vindo. Até mais!
Ashley chamava a atenção, isso era fato, no entanto, nunca conseguia um relacionamento sério. A maioria dos homens com quem ficava, tinham interesse apenas na sua aparência. Quando ela começava a se apaixonar, revelava o sonho que tinha em ter uma família e muitas vezes, eles se assustavam. Infelizmente, nunca davam a oportunidade para conhecerem a pessoa maravilhosa que ela era. Sempre alegre e amiga nos momentos difíceis, e além de ser divertida, era uma romântica incurável.
Meia hora depois, Ashley apareceu com uma cara de quem tinha aprontado.
— Será que esse sorriso tem a ver com o gatinho da barraca de tempero?
— Acertou. Ai, eu ainda não acredito. Eu fiz uma loucura.
— O que você fez? — perguntei com medo da resposta.
— Estávamos conversando sobre comidas que mais gostamos e outras coisas. Então, percebemos que em relação às bebidas, temos os mesmos gostos. Paramos nas barracas de cervejas e começamos a experimentar. Teve uma hora, que bebi um pouco desajeitada e ele passou o polegar nos meus lábios e depois, o colocou na boca.
— Isso soa como algo muito ousado.
— Certamente! Mas, eu fui bem mais.
— O que você fez?
— Eu disse "isso foi muito quente". Então ele deu um sorriso torto, formando uma covinha. Eu tentei... Juro que tentei me comportar, só que foi em vão. Roubei um beijo dele.
— Você não fez isso, Ashley!
— Oh, você sabe que eu fiz! E se quer saber, não me arrependo!
— Você é a amiga mais sem vergonha que eu já tive.
— Eu sou a única que você já teve — revirou os olhos e continuou. — O abusado retribuiu o beijo. E que beijo! Sabia que deveríamos vir a esta feira. Aquele anúncio caiu do céu.
— Bem, e onde está o moço?
— Ele já vem. Foi deixar as compras no carro dele. Enquanto isso, vamos tomar um sorvete?
Ashley não parava de falar sobre ele. Em como ele era bonito, como beijava bem e até o seu bumbum, virou motivo de conversa.
Cada vez que ela abria a boca para falar dele, eu não conseguia evitar a risada.
— Olha, Lisy, lá vem ele.
Eu me virei e olhei na direção que ela apontou. O choque foi tão grande, que fiquei paralisada.
Ele também tinha uma expressão de espanto. Veio andando com o cenho franzido e parou na minha frente.
— Lisy?
— Johnson? O que faz aqui?
— Eu sempre venho a essas feiras. E você?
— Eu vim comprar uma máquina de cappuccino e... Bom, eu vim ver o que há de novo no comércio do café...
Ficamos calados e então, olhei para Ashley.
Ela tinha a boca aberta e os olhos arregalados, vidrados em Johnson.
— Você é o Johnson? Aquele Johnson?
— Depende de qual Johnson você está falando.
Para minha surpresa, ela deu soco no rosto dele.
Eu gritei de susto, colocando a mão na boca.
— Que merda foi essa? — ele perguntou, colocando a mão no nariz onde ela havia acabado de bater.
— Seu imbecil! Se você não tivesse aberto o seu bocão para falar asneiras, o cowboy da minha amiga não tinha partido para a agressão, ela não teria perdido o bebê e agora, eles estariam juntos.
— Ashley, por favor...
— Espera, Lisy... Eu vou dar um chute nas bolas dele, até afinar a voz.
Johnson, por precaução, se afastou colocando as duas mãos como escudo, no meio das pernas.
Eu segurei Ashley e pedi para que se acalmasse. As pessoas, aos poucos, paravam para ver a acena.
— Ashley, por favor. Johnson já pediu perdão e apesar dele ter provocado o Will, no fundo, ele não é ruim. Além do mais, a culpa também foi minha. Ele errou na provocação, Will não deveria ter partido para agressão e eu, não deveria ter ido pelas costas do Will. Já expliquei mil vezes. Minha idiotice foi a causa do acidente. Todos, temos uma parcela de culpa, mas nenhum de nós pode mudar o que aconteceu.
Ela visivelmente se acalmou e eu a soltei. Olhou para ele e depois se virou pra mim.
— Ele é apaixonado por você. O melhor beijo da minha vida, veio do cara que é apaixonado pela minha melhor amiga. Do cara que é um perfeito babaca. Não estou sabendo lidar com isso... Desculpe! — ela disse, mostrando um fraco sorriso no rosto e se afastou para sentar-se em um banco a poucos metros de distância.
Johnson se aproximou ainda olhando Ashley se afastar.
— Eu me arrependo de tudo, Lisy. Sinto vergonha pelo babaca que eu fui.
— Isso já passou. O que me preocupa agora, é ela. É minha melhor amiga e não vou aceitar que a machuquem. Você pediu o número de telefone dela. Qual era a sua intenção?
— Eu vou ficar na cidade até amanhã, pensei em chamá-la para sair.
— E agora?
— Eu ainda quero sair com ela.
— Johnson, ela sabe que você era afim de...
— Eu não sinto mais nada por você, Lisy. Fique tranquila. Eu queria que nós fossemos amigos de novo. Sinto muito que, por minha culpa, você e o O'Connor tenham terminado. Ele a amava muito.
"Amava"?
Eu senti uma tristeza quando ele usou a palavra no passado.
— Ele está bem?
— Não sei. Eu tinha ido à fazenda dele pedir perdão por tudo o que causei. Estava um alvoroço por lá. Um empregado disse que William tinha bebido demais e quebrado quase tudo dentro de casa. Depois, tentou dirigir a caminhonete e acabou batendo em uma árvore, na estrada.
— Meu Deus! — eu coloquei a mão no peito e tentei controlar a respiração. — O que houve depois?
— Ele foi levado ao hospital. Quase teve um coma alcoólico. Eu fui ao hospital, dias depois. Pedi perdão pelas coisas que eu disse sobre a infância dele e ele não disse nada. Não me olhou, nem sequer um movimento. Ficou lá, parado, olhando para o nada. Depois disso, nunca mais o vi. Teve o problema com a Nevasca e fiquei sabendo que ele ajudou alguns fazendeiros. Também forneceu máquinas para tirar a neve que acumulava nas ruas. Durante esses dois anos, ele se afastou de todos. Dizem que ele faz o trabalho dele na fazenda, como se nada tivesse acontecido. Outros, dizem que a intenção dele era sair com a caminhonete e se matar. Quem sabe? William não é mais o mesmo, pelo que me disseram.
Eu mordi meus lábios trêmulos e deixei cair as primeiras lágrimas.
— Você ainda o ama?
— Eu não sei. Falar dele me faz sofrer, mas não sei se é amor. Independente do que sinto, dói saber que ele esteve mal.
— Foi difícil para ele.
— Para nós dois!
Ele concordou e depois, olhou para onde Ashley estava.
— Posso conversar com Ashley? Claro, se não for estranho...
— Deve! Convide-a para sair, mas, Johnson, não a machuque.
Ele sorriu e foi até ela.
Meses depois, eles continuaram mantendo contato. E meses depois, eu ainda andava no piloto automático.
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UM PONTO DE PARTIDA
عاطفيةApós a morte de sua família, Heloyse se apegou a quem esteve do seu lado durante este momento difícil. De repente, encontrou-se abandonada, sem um rumo ou uma motivação para seguir em frente. Até que em um determinado momento da sua vida, resolve sa...