Capítulo Dez - Bem-vindo a Clearwater

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Heloyse

Ao chegar à cidade, em uma enorme placa com o desenho de cowboy, estava escrito "Bem-Vindos a Clearwater".
Meu coração sentiu uma pontada de alegria quando entramos na cidade. Tempo depois, entrávamos em uma fazenda. A casa de Thom era bonita. Não era luxuosa, porém, era grande. Uma verdadeira casa de fazenda.
Desci da caminhonete e uma senhora de estatura baixa saiu da casa indo de encontro com ele.
— Você demorou muito, homem — disse abraçando-o.
— Também senti sua falta, Cielo.
Os dois formavam um lindo casal. Thom era um senhor muito apresentável apesar da idade, e Katherine, uma senhora magra de grandes olhos azuis e cabelos loiros.
Após abraçar o marido, ela me avaliou e em seguida me deu um amplo sorriso que eu acabei retribuindo.
— E quem é essa jovem, Thom?
— Essa é Heloyse. Encontrei-a na estrada a noite e dei-lhe uma carona.
— Seja bem-vinda, Heloyse!
— Obrigada!
— E você a trouxe...? - perguntou Katherine, esperando a resposta do marido.
— Eu a trouxe, porque ela estava tentando resolver alguns problemas e achei que ela poderia esfriar a cabeça aqui.
— Não precisa se preocupar. Amanhã mesmo eu irei embora.
— Quem está mandando você embora, querida? Eu confio no Thom. Se ele a trouxe, é porque ele não vê risco nenhum. E se ele a trouxe, então é minha convidada também. Fique!
— Eu agradeço, mas...
— Agora venha! Vou preparar um lanchinho enquanto você toma um banho. Você está visivelmente cansada. Megan irá te mostrar um quarto. Ela está lá dentro. Vou lhe apresentar.
Megan tinha vinte e cinco anos, a pele bem bronzeada e olhos iguais aos da mãe. Os cabelos cortados na altura dos ombros, totalmente loiros e cacheados. As sardas do seu rosto lhe deixavam mais graciosa.
— Você pode colocar suas coisas neste espaço do armário. Fique à vontade.
— Obrigada e me desculpe pelo trabalho que estou dando.
— Não é trabalho nenhum. Na verdade, fico até feliz que tenha alguém aqui pra fazer companhia para minha mãe. Semana que vem, eu volto para a faculdade. Tirei duas semanas para cuidar de uma alergia e resolvi ficar aqui com meus pais. Eu sentia falta deles.
— Você estuda o quê?
— Engenharia.
— Você gosta daqui?
— Eu nasci aqui e amo esse lugar. Mas, lá também tem o Jeremy, meu noivo. Quando estou lá, sinto falta daqui. Quando estou aqui, sinto falta de lá. É complicada minha vida.
— Imagino — eu disse sorrindo.
Ela retribuiu com um simpático sorriso e me ofereceu uma toalha.
— E então? De onde você é?
— Eu moro em Boston, mas, nasci na Califórnia.
— Que legal! — disse indo em direção à porta e em seguida parou — Não sei o que você veio procurar... Espero que encontre.
— Eu acho que estou tentando achar eu mesma.
— Você vai achar. Agora tome seu banho.
Banho era tudo que eu precisava.
No banheiro, debaixo da deliciosa ducha, eu fechei meus olhos e me perguntei como tudo podia ter acontecido tão rápido. Eu estava na casa de pessoas que eu nem conhecia e que me receberam de braços abertos. Poderia haver pessoas assim?
O pior de tudo, é que por um momento, me senti confortável, como se depois de anos, me sentisse parte de uma família. Por um instante, eu havia esquecido a dor.
Eu saí do banho bem melhor fisicamente, só que, minha mente era uma perfeita traidora. Eu comecei a lembrar de Michael, me perguntando o que ele estava fazendo. Se ele se lembrava de mim... De nós. Balancei a cabeça como se quisesse sacudir toda a porcaria que havia dentro dela. Saí do quarto e fui para cozinha.
— O banho lhe fez muito bem, Lisy. Sente-se! Cielo vai lhe servir.
— Obrigada!
— Pode me chamar de Cielo, Lisy. Thom me deu esse apelido quando éramos jovens e todos me chamam assim.
— É um lindo apelido.
— Eu era um jovem muito galanteador naquela época — comentou Thom.
— Isso é verdade, querido. E hoje você é um velho muito roncador.
— E você ainda me acha bonito!
As brincadeiras continuaram enquanto comíamos nossos lanches. Megan falou sobre seus colegas de faculdade, seus estudos e sobre seu noivo.
— O que a fez sair com uma mochila nas costas por aí? — Ela perguntou com interesse.
— Acho que não é educado ficar bisbilhotando.
— Ora, papai, não estou! Só fiz uma pergunta. Se ela quiser responder tudo bem, senão, não tem problema.
— Não há problema algum — eles me olharam atentamente enquanto eu achava as palavras para poder explicar o que me levou a tomar aquela decisão. — Eu... eu queria sumir por um tempo.
— Oh, querida, isso é tão humano. Acho que todos nessa vida já desejamos sumir.
Eu olhei para Cielo e concordei.
— Creio que sim. Mas, nem todos fazem isso. De qualquer forma, eu precisava me afastar de uma pessoa. Ele era meu namorado de nove anos de relacionamento. Ele reencontrou uma ex-namorada de quinze anos atrás e descobriu que ele tinha tido um filho com ela. Então, ele escolheu ter com ela, a família que nunca teve comigo.
Todos ficaram quietos. O silêncio só foi cortado quando Thom limpou a garganta.
— Lisy, não precisa falar. Sei o quanto é difícil...
— Não! Eu quero falar, Thom. Uma hora, tenho que me conformar com a situação.
Eu contei toda a história a eles, desde a morte da minha família, meu relacionamento com Michael, sobre Alice e sobre o fato de que eu estava enlouquecendo, morando perto dele. Eles foram prestativos. Ouviram cada palavra que eu disse. Deram-me palavras de apoio e isso foi muito bom.
Foi a primeira vez que consegui falar sobre o assunto e não derramar uma lágrima.

Cielo: Céu

UM PONTO DE PARTIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora