Capítulo Sessenta e Um - Fumaça

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Heloyse


— Eu nunca gostei de você, Heloyse. Nem por um segundo. Nem quando nos vimos à primeira vez.
— Então me deixa ir — falei com a voz embargada e puxando meu braço, em vão.
— Não posso gostar de você. Gostar é algo tão pequeno, tão fácil de ser medido. O que sinto por você, não dá para medir, Heloyse. É infinitamente mais do que gostar. Eu amo você de uma forma que não consigo explicar. Eu não gostei de você quando te vi naquele rio. Eu senti muito mais que isso. Eu amei seu nome quando Thom o disse, eu amei você, quando a vi pela primeira vez.
E então, ele me beijou.
Aquele beijo não tinha nada de pacífico. Era longo e tempestuoso, carregado da falta que sentíamos um do outro.
Havia momentos em que parávamos para respirar. Nossas bocas próximas uma da outra e nossas respirações tão descontroladas. Quando tomávamos um pouco, apenas um pouco de fôlego, nos sufocávamos em nosso beijo. Era tão desesperador. Tão doloroso.
Will me encostou na porta, me ergueu e eu circulei sua cintura com minhas pernas. Meu vestido havia subido e eu me arrepiei quando senti o toque de suas mãos.
— Eu não posso deixá-la ir — Sua voz era tão baixa e carregada de desejo.
— Eu não quero que deixe.
Ainda havia toda aquela fumaça. O fogo estava o tempo todo ali, pronto para nos queimar de novo e isso não seria difícil. Não quando éramos inflamáveis. Eram corpos em combustão sempre que nos tocávamos.
Eu tocava seu rosto com desespero enquanto nos beijávamos. Eu beijava seu rosto, seu pescoço, enquanto ele me levava para o quarto. Senti o colchão sob minhas costas enquanto Will arrancava sua camisa com tamanho desespero. Voltou a me beijar e senti que flutuava, seguindo para algum lugar alto.
Nossas mãos trabalhavam de forma nervosa, querendo explorar todos os lugares ao mesmo tempo.
Parou de me beijar para desabotoar os botões do meu vestido. Tal era o desespero e a fome que ele tinha, que em um movimento rápido, abriu-o, fazendo com que os botões voassem, para em seguida, se espalharem pelo chão.
Os lábios agora percorriam meu pescoço até acharem a curva dos meus seios. Eu não usava sutiã, devido ao grosso tecido que envolvia o vestido apenas na região dos seios. E a partir daquele momento, aquele vestido se tornou o meu favorito.
Eu arqueei as costas quando seus lábios acariciaram meu bico entumecido. Ele se demorou em um e depois, repetiu o mesmo gesto no outro. Sua boca era impiedosa, ávida e terrivelmente, deliciosa. Quando ele se retirou do meu seio, eu puxei seu rosto para retornar. Will deu um sorriso malicioso e desceu o rosto, chupando de leve, mordiscando minha pele, beijando meu ventre.
Desceu mais um pouco, até o meio das minhas pernas e minha pulsação acelerou violentamente. Eu estava sedenta de expectativa, tremendo de ansiedade.
Os lábios dele tocaram a parte interna das minhas coxas, a respiração quente acariciando minha pele, fazendo com que enviasse uma sensação de dor até meu âmago.
Eu sentia sua língua um pouco mais perto, então me movimentei, fazendo com que ele alcançasse o ponto onde se concentrava todo o meu desejo.
Will foi lento, duro, cruelmente paciente e então, agarrei com força o lençol, tentando controlar meu desespero.
As mãos dele seguraram meus quadris, me erguendo um pouco mais e eu sentia que logo, transbordaria. Eu supliquei por algo que eu nem sabia o que era. Talvez para continuar ou me libertar, mas, de fato, supliquei. Will me deixava embriagada de tal forma, que eu não podia suportar.
Ergui meu corpo e agarrei seus cabelos de forma selvagem. Ele riu e minha atitude só serviu para que ele voltasse com força total, arrancado de mim, um alto gemido.
— Por favor... Por favor, Will... Eu preciso, agora.
Eu ainda continuava com meu vestido, totalmente aberto e com minhas meias sete oitavos.
Ele se levantou, arrancou todas as suas roupas e as arremessou no chão, em seguida, tirou minha calcinha e fez o mesmo, mas, o vestido continuou aberto, a minha volta. Olhou para minhas meias e não as tirou.
Senti o peso do seu corpo e tão rápido e implacável, ele se deslizou para dentro de mim. Ficou parado por uns segundos, tentando controlar a respiração e depois, se movimentou lentamente.
Fechei meus olhos, apreciando aquela investida lenta e dolorosa, como se ele quisesse provar para mim, que tínhamos todo o tempo do mundo aos nossos pés.
Eu precisava dele, com urgência.
Passei minha língua sobre a pele abaixo do seu pescoço e o ouvi gemer. Minhas pernas estavam firmemente fechadas sobre suas costas, fazendo com que ele entrasse ainda mais.
Minhas terminações nervosas pulsavam, enquanto ele investia lento e profundo.
— Preciso de mais, por favor...
Ele começou a se movimentar mais rápido e foi aí que o notei que o tempo todo, era isso o que ele queria.
Um filete de suor escorreu da sua testa e aquilo era malditamente sexy, combinado com sua boca levemente aberta. Eu me contorcia a cada investida e sentia que logo, eu me repartiria em mil pedaços.
Ele me beijou com força, mordendo meus lábios, deixando escapar um gemido. Eu sabia que ele também estava à borda. Levantou a cabeça e jogou-a para trás, movendo-se com força. Soltou um palavrão bem baixinho e me olhou, com olhos repletos de luxuria. Agarrou meus quadris, mergulhando mais, em um ritmo desenfreado.
Will trabalhava perfeitamente com suas mãos, sua boa, seu corpo... Movimentos perfeitos, duros e selvagens.
Observei a forma que mordia os lábios. Ele era primitivo em todos os sentidos e aquele rosto era o suficiente para fazer com que uma mulher perdesse a cabeça.
Fechei meus olhos quando senti a visão embaçar. As pálpebras estavam pesadas e minha respiração difícil. Meu corpo já rijo, arqueou.
— Não vou aguentar, Lisy. Vem comigo!
Como dizer não, quando aquela voz grave e rouca entrava nos meus ouvidos?
As primeiras ondas vieram com força total, me varrendo para algum lugar desconhecido. Eu tremia, convulsionando debaixo do seu corpo, sentindo o orgasmo tomar tudo de mim enquanto ele me beijava, tomando todos os meus gemidos para si.
Depois, Will arremeteu mais algumas vezes, a boca aberta deixando escapar um alto gemido, chegando ao ápice, dentro de mim.
— Eu te amo, Lisy — e dizendo isso, soltou seu peso em cima do meu corpo.
Ficamos ali, parados, controlando nossas respirações.
Segundos depois, ele se retirou, puxou meu corpo e ficamos abraçados por um bom tempo. Precisávamos daquele momento. Sentíamos falta de gestos como aquele.
— Eu nunca conseguiria deixar de amá-lo.
Ele respirou fundo e então me perguntou:
— Só não entendo por que diabos voltou com o Michael, se ainda me ama.
— Como?
— Por que está com ele? Eu não duvido do que sente por mim, ainda assim, eu queria entender. O que a fez você voltar para ele?
— Will...
— Há quanto tempo estão juntos?
Ele sentou ainda nu, colocou as pernas para fora da cama e com uma mão, jogou os cabelos para trás.
Eu me inclinei um pouco e franzi o cenho.
— De onde você tirou que estamos juntos? — eu perguntei enquanto coloca uma mecha de cabelo, atrás da orelha.
Havia confusão em seu olhar.
— Eu fui à sua casa e uma moça disse que eu encontraria você, em outro lugar. Então ela me deu aquele endereço. E quando a vejo, você está carregando uma criança no colo. Depois o imbecil do Michael, o mesmo que traiu você... — ele se calou por um tempo, depois continuou — Ele apareceu e depois você disse "vai com o papai". A menina chorou quando saiu do seu colo e ele parecia estar incomodado por me ver. Eu não entendo.
Eu ri e  me levantei, ajeitando o vestido, cruzando-o na minha frente, já que agora, não tinha mais botões.
— A moça que você viu, era Ashley. Ela foi a minha casa buscar algumas toalhas de mesa. Hoje é o aniversário da Julie, filha do Michael. Eu fui ajudar com os preparativos. Além do mais, Julie é como uma sobrinha pra mim. Alice, a esposa do Michael, saiu pra comprar as velas que ela tinha esquecido.
Ele se levantou e ficou de costas, olhando para a janela, enquanto passava a mão no cabelo.
Me levantei e fui até ele.
Quando eu o vi, percebi que ele ria e ainda sorrindo, me beijou.
— Você não imagina o alivio estou sentindo. Mas, não deixo de pensar o quanto  vocês são estranhos.
— Por que, cowboy?
— Ele é seu ex e você se dá bem com a atual? Ainda cuida da filha dele?
— Sim, é estranho, mas, não é incomum — eu disse sorrindo. — Eu aprendi a amar Michael como amigo. E a amar Alice, também. Nos tornamos amigas e se você visse o quanto os dois se amam...
— Como surgiu essa amizade?
— Alice estava grávida de Julie. Um dia, ela tropeçou e caiu da escada. Eu estava passando de carro, quando a vi sair de casa. Tinha dificuldade para andar, segurava a barriga e gritava por socorro.
— Você a socorreu, não foi?
— Sim. Não tinha ninguém em casa. Michael estava trabalhando e o Erick tinha saído com alguns amigos. Eu estava assustada, Will. Ela poderia perder o bebê e eu faria o que fosse possível para que isso não acontecesse.
— Vem cá, Lisy — ele me puxou, me envolvendo em seus braços. — Estou orgulhoso. Imagino que tenham um grande carinho por você.
— Amo os dois. São meus amigos e sou apaixonada pela Julie.
— Ele sabe?
— Sim. Ele ouviu enquanto eu contava sobre nós, para a Alice.
— Isso explica a forma como me olhou. Não que isso importe.
— Ele não pode julgá-lo. Além do mais, a vida é minha e só o que me importa é estar com você.
Will me puxou com rapidez, unindo nossos lábios e minutos depois, estávamos ofegantes, sobre a cama.

***

No carro, unimos nossas mãos, enquanto ríamos e conversávamos sobre a fazenda. O ambiente era leve e tranquilo. Há muito tempo eu não me sentia assim.
Um tempo antes, ele havia ido a uma loja e comprou outro vestido pra mim. Era da mesma cor do que eu usava, mas sem botões e muito mais elegante. Parou o carro em frente à casa de Michael, desceu e abriu a porta para que eu saísse.
— Por que você não fica?
— Melhor não — ele disse olhando para a porta da casa.
Eu me virei e vi Michael parado, nos olhando.
— Tudo bem então.
— Eu queria vê-la, amanhã. Posso ir até sua casa?
— Claro.
Eu sorri, ele entrou no carro e se foi.
Michael segurava Julie nos braços e quando a pequena me viu, ela deu o sorriso mais lindo que alguém poderia dar.
— É ele, não é?
— Quem?
— Responde, Lisy.
— Você sabe que é — eu disse e soltei o ar.
— Como pode ficar com esse cara, depois de tudo?
— Ele não fez nada.
— Não tem como pensar diferente. Esse idiota agrediu você e...
— Se você continuar, eu vou embora da sua casa e não volto mais. Não quero que você o julgue. Will nunca me agrediu. Foi um triste acidente que não só machucou a mim, mas a ele também. Ele também sofreu. E pode o mundo inteiro acusá-lo, o que importa é que eu sei o que realmente aconteceu. Não foi culpa dele. E Michael, nunca mais o chame de idiota. Você também já foi um, ainda assim o perdoei. Não vou aceitar que você fale dele. Nem você, nem ninguém.
Michael respirou fundo, arrumou Julie no colo e deu as costas.
— Vem! Nós vamos cantar parabéns — falou antes de entrar.


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