Epílogo

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Eu não conseguia acreditar no rumo em que minha vida tomou. Eram poucas as vezes em que eu me lembrava daquele passado tenebroso. Eu tinha encontrado a paz que minha alma precisava. Eu tinha encontrado Lisy.
Uma vez, no seu leito de morte, Martin disse algo que hoje faz todo o sentindo: "Will... Haverá um dia que você encontrará alguém. E ela vai ser a cura para todos os seus machucados e nesse dia, meu amigo... você será livre".
Ele estava certo. Eu era livre.
Eu estava em cima do meu cavalo, olhando do alto, a imensidão de terras a minha frente.
— Você não vai almoçar? — Calvin perguntou.
— Vou daqui a pouco. Preciso voltar e levar a caminhonete para o celeiro.
— Tudo bem.
— Vai almoçar lá em casa?
— Você acha que eu devo? — perguntou rindo.
— Com certeza. Lisy disse que hoje faria torta de maçã para a sobremesa.
— Então não posso negar o convite.
— Não mesmo.
— Então acho melhor eu ir tomar um banho. Estou com cheiro de parto de vaca.
Eu dei risada e sabia que meu cheiro também não estava bom. Voltei meu olhar para toda aquela terra e senti falta do meu pai adotivo. Wallace, a quem eu chamava de avô, foi importante pra mim. Eu o amava.
Eu havia prometido a mim mesmo, dar valor a quem eu amava e sempre mostrar amor e gratidão.
— Pai! — eu chamei.
Calvin parou o cavalo e me olhou. Ele sempre tinha aquele brilho nos olhos quando eu o chamava assim.
— Hoje a noite tem fogueira. Leve a gaita.
— Levarei — ele sorriu. — Agora vou tomar o meu banho e já chego lá, para o almoço. Até daqui a pouco, filho.
"Eu sou seu filho, senhor Mitchell."
Eu respirei, sentindo o ar puro entrando em mim. Aquilo era vida correndo em meus pulmões. Eu sabia o que era viver e era algo bom. Olhei para o céu e sorri.
Eu perdoei minha mãe, por nunca ter tentado ir embora e eu não sei se eu tinha perdoado o meu pai, mas de fato, eu já não o odiava.
Lisy me ensinou sobre a importância do perdão, sobre tirar o fardo das costas. A mágoa, o ódio, pesa toneladas em nossas e ocupa um grande espaço em nosso coração. Eu não queria sentir aquilo, nunca mais.
Eu havia retornado a minha fé e não tinha um dia em que eu não me sentia grato por tudo e Deus, sabia. O passado já não interferia no meu presente.
Tempo depois, saí do estábulo e levei a caminhonete ao celeiro. Eu desci e bati os pés para tirar a poeira das minhas botas. Caminhei em direção a minha casa, de onde vinha um cheiro maravilhoso de comida. Estava morrendo de fome.
Assim que entrei na sala, ouvi um pequeno barulho e soube de onde vinha.
— Quem é a princesa do papai?
Eu peguei Angelini no colo e depositei um beijo na sua bochecha. Ela sorriu e fez o mesmo.
Coloquei-a no chão e depois, peguei o Davies.
— Ai está você, cowboy! — eu disse para ele.
Ele sorriu e encostou a cabecinha no meu peito.
Minha esposa se aproximou e me deu um beijo carinhoso nos lábios. Coloquei Davies no chão e a abracei.
— Preparei costelas. Vem comer.
— Eu já vou. Só vou tomar um banho — eu disse.
No mesmo instante, Angelini deu um gritinho agudo e bateu as mãozinhas de alegria.
Eu olhei para trás, para entender toda aquela felicidade e vi Cielo entrar na sala, junto com Eva. As duas estragavam os meus filhos. Cielo nos cumprimentou e beijou os gêmeos.
— Cielo veio almoçar conosco — Lisy falou.
— Então vou tomar banho o mais rápido possível, antes que todos fiquem com fome por minha causa. Deus me livre ver a mãe com fome — eu disse baixinho — ela não age com sanidade quando está com fome.
— Eu ouvi isso, Will. Continue falando de mim pelas costas e pode esquecer o chili que ia preparar para você hoje à noite.
— Eu só estava brincando.
— Você e o Calvin se merecem — ela resmungou.
Eva pegou Angelini no colo e Cielo pegou o Davies.
Lisy deu risada e sorriu para mim e eu retribuí. Aquele sorriso era minha perdição. Já se passaram dois anos desde que nos casamos e todo aquele desejo que tínhamos um pelo outro, ainda estava lá, com força maior.
Eu tinha orgulho da minha esposa. Ela sempre era tão carinhosa, sempre atenta a tudo o que acontecia na fazenda. Era uma patroa generosa e uma mãe dedicada. Tinha sua cafeteria na cidade e ia lá, apenas aos sábados para ver o andamento das coisas. No resto da semana, Lisy era todinha nossa.
Às vezes, íamos visitar Ashley e Johnson. Eles ainda não casaram, mas moravam juntos e estavam esperando um filho. O casamento ficaria para depois que o bebê nascesse. Ter a melhor amiga de Lisy morando ali perto, a deixava imensamente feliz.
— Sobe comigo? — perguntei.
Ela concordou e subimos enquanto Cielo e Eva levavam os gêmeos ao playground que eu e Calvin construímos.

***

À noite, já no quarto, eu olhei minha esposa sem roupa, deitada na cama. O sorriso presunçoso no rosto dela fazia com eu desejasse beijá-la até perder o fôlego. Eu subi lentamente na cama e parei sobre ela.
— Eu nunca vou me cansar de você, raio de sol. Quanto mais eu tenho, mais eu quero.
Eu a beijei de forma lenta e profunda. Quando ela me tocava, todo o ar dos meus pulmões sumia. Ela ainda causava esse efeito em mim. E sinceramente, eu nunca acreditei que essa chama entre nós, se apagaria algum dia.
Esse amor sempre queimaria em nossos corações para o resto das nossas vidas.
— Eu te amo tanto, Will. E amo mais ainda, saber que você me deu uma família.
Eu a aninhei em meus braços, depositando um beijo no topo da sua cabeça.
— Se temos uma família, foi porque um dia você apareceu na minha vida. Você me fez querer ter tudo isso.
Ela toucou na minha barba e passou o dedo nos meus lábios.
— Nunca irei me cansar do seu rosto.
— Eu sei. A minha beleza é fascinante.
— Oh, meu Deus... Como você é idiota! — ela disse em uma risada alta.
— Ainda assim, sou um idiota que sempre será apaixonado por você.
— Isso é verdadeiramente bom, porque eu amo você.
— Eu também a amo, raio de sol. Sempre!
Não passou muitos minutos e já estávamos nos amando outra vez. Não tinha um dia em que eu não dissesse que a amava, porque era assim que devia ser. Eu deveria todos os dias mostrar a ela que tudo o que eu tinha me tornado, foi por ela.
Podia ter milhares de mulheres no mundo e eu só enxergava Heloyse. A única curva que eu desejava tocar, era a do seu corpo. O único rosto que eu queria ver enquanto envelhecia, era o dela. Se eu morresse primeiro, que fosse o rosto dela a última coisa a ser vista.
O que sentíamos não poderia ser medido, jamais!
Éramos humanos e ainda cometeríamos erros, todavia, ela me ensinou a importância do perdão e a importância de ser perdoado.
No dia da nossa noite de núpcias, ela disse que de nada valeria o mundo se não fosse para me amar. E eu discordava, pois só valeria se ela fosse amada. E ela era! E então eu a amei no dia em que a vi. Amei quando a beijei. Amei quando fizemos amor no passado. Amei quando ela se foi. Amei nos dias anteriores a esse, eu a amo hoje e a amarei todos os dias que viriam. Amei-a para sempre! E para sempre, seria muito pouco para mostrar o quanto eu a amava.
FIM

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