• capitulo 1 •

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Maria Victoria

Olho para aquele lugar e sinto aquele cheiro que só a Rocinha tem, cheiro de amor e felicidade.

Bruno deu sinal de farol e os meninos cumprimentaram ele, fomos subindo até o topo, paramos na frente daquela casa aonde tudo começou, descemos com nossas malas e logo atrás veio um  caminhão com o resto de nossas coisas.

— Vamos morar aqui? Nesse fim de mundo? - Valentina perguntou com uma cara de nojo.

— Valentina, minha filha, você não imagina quão bom é aqui. - Falei acariciando seus cabelos loiros.

Ela bufou e eu fui pra perto de Bruno.

— Ih alá, a família BuscaPé, Colfoi cara mandasse radinho. - Jorginho disse chegando cumprimentando Bruno.

— Fica de boa, os moleques da principal vão vir ajudar. - Bruno disse apontando pra um lado aonde vinha vários moleques.

— E tu Maria, fábrica de cria bonita. - Jorginho disse dando um beijo em minha mão.

— Quem dera fosse minha cara mesmo, são tudo rascunho de Bruno, só oque pegaram meu foi o cabelo. Mereço né? Carreguei 9 meses, mo perrengue pra ser a cara dele. - falei revirando os olhos.

— Sou Lindão, sorte deles três. - Bruno disse piscando pra mim.

Os meninos chegaram e foram arrumando as coisas e colocando dentro da casa, depois de um tempo tudo estava em seu lugar. Jorginho mudou-se para casa do lado com sua mulher e voltamos para aonde não devíamos ter saído.

Devem estar se perguntando porque voltamos né? Bom, vamos lá...

Dois anos depois que saímos daqui o Bruno começou a ficar diferente, começou a afastar, chegava de noite/madrugada e quando eu perguntava ele dizia que era por conta da loja. Comecei a estranhar e um dia deixei meus filhos com a minha mãe e segui ele, e ele entrou no morro. Aquilo começou a me torturar com a ideia que ele poderia estar me traindo, mas queria pegar no ato.
Dias depois Teresa veio falar comigo que Jorginho tinha descoberto um câncer e que iria se afastar do cargo, foi ai então que Bruno veio conversar comigo sobre tudo contando.

Bruno estava ajudando Jorginho a liderar a rocinha e eu fui entender que sai do lugar que Bruno mais amava e cresceu pra viver o jeito que eu queria. Começamos a conversar bastante, Bruno ajudava bastante e com isso eu comecei a cuidar da loja de Bruno enquanto as crianças iam para creche.

Passaram os anos e Bruno voltou como dono da rocinha pois Jorginho pediu. E foi ai que resolvemos voltar aonde não devíamos ter saído.

*****

Vai ficar de boa mermo? - Bruno falou beijando o topo da minha cabeça.

— Vai sim Bruno, a gente nunca devíamos ter saído daqui. - Falei abraçando o mesmo.

Bruno meteu a arma na cintura e saiu do quarto.
Suspirei em lembrar de cada momento naquela casa, momentos tristes e felizes.

— Mãe a tia Teresa tá lá embaixo. - Carol falou vindo até a mim.

Me levantei e ela veio me abraçar. Realmente Carol era bem mais amorosa e mais fácil de aceitar as mudanças do que Henrique e Valentina.

Fui descendo as escadas e vi Teresa e Sabrina.

— Nem avisaram que iriam vir hoje, a vizinha fofoqueira que veio falar. - Teresa disse vindo me abraçar.

— Nem deu tempo, corrida tá a vida. - Falei me soltando de Teresa. - Oi Sasa, tá lindona em... - Falei dando um beijo em Sabrina.

— Oi tia, cadê a Valentina? - Sabrina me perguntou toda tímida.

— Deve tá lá no quarto, sobe lá... - Falei sorrindo e ela subiu.

Me sentei no sofá e Teresa começou a falar, parecia uma metralhadora. Até parecia que não víamos a anos.

— Conta dos babados daqui da Rocinha. - Eu disse olhando minhas unhas que precisava ser feitas. - Ainda tem as que se jogam pros irmãos? - Perguntei.

— Você nem imagina, tem a dupla aqui do morro, as irmãs metralhas. Duas vagabundas, tem a Carla e a Virgínia, passou o rodo no morro inteiro. - Teresa disse cruzando os braços.

— No meu Bruno ninguém passa nada, sou capaz de dar uma Cossa em todo mundo. - Falei já sabendo como essas meninas são.

****

Já estava de noite, o pagode tocava alto, eu sambava com Teresa. Tava rolando churrasco em casa, as crianças estavam tudo na sala sei lá fazendo oque. Tinha vários considerados de outros morros aqui bebendo e se drogando. Bruno tava sentado bebendo cerveja junto de Dedé, Jorginho e Carioca.

— Queria tá mandando o papo. - Jorginho disse abaixando o som e falando alto fazendo todos prestarem atenção nele. - To felizão pra caralho, recebi a noticia hoje que vou ter um pivete caralhoooo. - Ele disse gritando e já pulando.

Bruno foi o primeiro a ir até ele e dar “ parabéns ”. Jorginho tava casado com Ranielli fazia 3 anos já, demorou mais assumiu.

Continuou o samba, mas logo ouvimos os foguetes sendo lançados, olhei pra Teresa e os caras tudo levantaram. Meu coração apertou, senti aquela angústia.

— Leva as crianças lá pra cima e fiquem lá. - Bruno disse pegando a pistola da cintura. - Te amo. - Ele terminou suspirando.

Não deu tempo de abrir a boca e ele saiu correndo, entrei correndo com Teresa e fechei tudo. Carol, Valentina e Sabrina estavam todas chorando, Henrique estava com seus fones de ouvido mexendo no celular como se nada tivesse acontecendo.

Subimos todos e nos tranquei no quarto.

Aquela tortura não parava, os tiros não paravam, minhas pernas estavam bambas, eu soava de nervoso. Antigamente quando aconteceu a invasão nenhum dos meus três filhos estavam aqui, apenas Henrique na barriga, mas o medo me toma conta. Meus olhos se encheram de lágrimas e senti algo estranho, meu coração estava pressentindo algo, e realmente não era nada bom.

aperta na estrelinha

Oi meus loves, tudo bem com vocês? Voltei com a segunda temporada pois algumas meninas me pediram, então espero que gostem escrevi com muito carinho pra vocês! <3

Beijão no coração.

O dono do morro e a Patricinha || 2°TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora