Maria Victoria.
Sabe, eu nunca imaginei que seria mulher de traficante, ainda mais o da Rocinha. Nunca imaginei também que um dia eu teria que enfrentar a fila da prisão. Estou eu aqui as 8 horas da manhã enfrentando essa enorme fila de mulheres que provavelmente veio visitar seus maridos.
Minha cabeça latejava pelo sol que em plenas oito horas já estava quente, meu estômago embrulhava com o perfume de alguém que estava perto de mim. Aquele portão só iria abrir as 9 horas, eu não aguentava mais aquele peso da bolsa transparente, realmente eu não sabia como ainda haviam liberado visita para Bruno.
*****
Foi a minha vez de ser revistada, tirei toda roupa na frente de uma mulher e ela me mandou abaixar 3 vezes, que vergonha. Me vesti e fui guiada até uma salinha, me sentei na cadeira impaciente querendo ver meu Bruno e ouvi passos atrás de mim, olhei e era Bruno, ele estava com a cara totalmente fechada, seus tornozelos e punhos estavam com algemas, olhei para os policias que estava nos olhando e corri abraçar Bruno mas ele não me devolveu o abraço.
— Que saudade de você meu amor, você não imagina a falta que tá fazendo. - Falei dando um selinho nele.
Bruno se sentou na cadeira e ficou olhando pro chão com a cara fechada.
— Bruno olha pra mim eu estou falando contigo... - Falei erguendo seu rosto pra mim.
Foi ai que ele me olhou com seus olhos vermelhos, ele me analisou por inteira e riu pelo nariz.
— Não quero tu aqui, aqui não é lugar pra ti Maria, tá entendendo? - Bruno disse desviando o nosso olhar.
— E é por acaso lugar pra você Bruno? Você tem família Bruno. FAMILIA. - Falei devagar pra ele que estava olhando pro teto.
— Já dei o recado não quero você aqui mais e boa, fala pras minhas crias que amo todos eles. - Bruno disse mexendo nas algemas. - E se liga que to sabendo de tudo oque tá acontecendo lá fora. - Bruno disse baixinho mas em um bom tom pra mim ouvir.
— Eu não to nem ai se você me quer aqui, eu vou vir Bruno, eu não quero parar de te ver, você não imagina o quanto tá sendo duro pra mim... - Falei me descabelando quase.
— E pra mim tá de boa né? To sem minha família caralho, to sem meus filhos, sem você, sem sua buceta. Porra Maria tá sendo mo bagulho duro ficar sem ti e as crias, mas quer o que? To pagando pelo o que fiz. - Bruno disse bufando.
— Ok, não era pra mim ter vindo né? Desculpa Bruno. - Falei me levantando.
— Não mano, foi mal, a cadeia tá me deixando doido já cara. - Bruno disse passando a mão pelo rosto.
— Calma Bruno, é só questão de tempo, o advogado vai vir conversar com você, mas por favor não faça cagada aqui dentro. - Falei passando a mão pelo rosto dele.
— Questão de tempo? - Bruno riu baixo. - Tu não tá entendendo, vou meter o pé daqui Maria, deixa os mano esperto a qualquer momento. - Bruno disse pegando a minha bolsa.
Havia trazido arroz, feijão, macarrão, carne sem osso e uma salada. E alguns sacos transparentes tinha os produtos de higiene, e em outro saquinho tinha os maços de cigarros que ele havia pedido. Entreguei a ele e ele ficou me olhando.
— Pô valeu mermo por tá aqui cara, tú merece o mundo Maria. - Bruno disse coçando os olhos.
— Eu enfrentaria qualquer coisa por você meu amor, qualquer coisa... - falei sorrindo sem mostrar os dentes.
— Então vai ter que vir quinta aqui na visita intima... - Bruno disse todo malicioso mas mesmo assim a cara de cansaço não disfarçava.
— Faz o meu cadastro e... - Mal terminei de falar.
— Já tá feito paixão, tudo pronto só venha. - Bruno disse com um sorriso meio de lado. - Vem de vermelho também.
****
Sai daquela prisão com lágrimas nos olhos, queria que ele viesse embora comigo, ai como dói ver ele aqui, mas infelizmente é a vida que eu escolhi.
Montei no carro do meu pai que me esperava lá fora e fomos pra Rocinha de volta, meu pai me deixou lá e eu fui pra casa com o meu coração apertado.
— E o coroa véia? - Henrique disse me abraçando por trás.
— Daquele jeito né Henrique, daquele jeito... - falei suspirando.
Fui pro banheiro e tomei um banho gelado por conta do calor e depois me vesti com uma blusa de Bruno e um shortinho por baixo.
Como eu sinto falta do teu cheiro meu Bruno.
• aperta na estrelinha •
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O dono do morro e a Patricinha || 2°Temporada
Teen Fiction• É aquela coisa né, " Quando está indo tudo bem, vem sempre algo pra atrapalhar ". • 2° Temporada 💣 CONCLUÍDA