- Você está bem? - Meliodas tenta tocar nas minhas costas.
- Não me toque! - Grito e limpo minha boca com as costas da mão - Apenas me leve para casa.
- Ellie... - Ele me olha culpado.
- Eu quero ir embora - Resmungo e passo as mangas do sobretudo no rosto para enxugá-lo - Me leva pra casa.
~★~
Meliodas me encara seriamente antes de suspirar e volta o carro para a estrada, agora dirigindo em uma velocidade moderada. Fungando esfrego meus olhos ardendo pelo choro que não cessa e esfrego o tecido macio do sobretudo em meus olhos.
- Eu... Me desc....
- Cala a boca - Rosno.
A tentativa de pedir desculpas de Meliodas é completamente esmagada e ele aperta o volante nas mãos. Ainda assustada encolho minhas pernas sobre o peito e as abraço, ficando na posição que consigo esconder o rosto entre os joelhos para chorar e aos poucos vou me acalmando.
Timidamente viro o rosto na direção do loiro e observo a forma como sua expressão está dura, a mandíbula tão fechada que consigo ver as ondulações dos músculos faciais e como seu pomo de adão subia e descia conforme ele engolia a saliva. Olho para sua mão direita e como o sangue já havia coagulado nos cortes finos, ou como a cor doentia de sangue pisado estava se formando.
Ergo a cabeça e noto que o caminho que ele está seguindo não é o que leva para minha casa.
- Onde está me levando? - Pergunto.
- Para minha casa - Ele responde sem me olhar.
- Eu quero ir para a minha casa!
- Não - Ele estaciona o carro e me olha sério - Temos que conversar seriamente.
Reviro os olhos e Meliodas são do carro e da a volta abrindo a porta do passageiro e desta vez cuidadosamente ele me pega no colo e me carrega para dentro da casa.
Observo admirada o quão arrumada é a sala e ele me senta no sofá macio de camurça negra. De repente me torno muito ciente que não estou usando nada mais que uma camisola hospitalar fina e o sobretudo que Meliodas me forçou a vestir, constrangida puxo o tecido grosso do sobretudo para cobrir meu corpo e olho para Meliodas.
- Eu já volto - Ele murmura e sobe as escadas de vidro, que provavelmente da acesso aos quartos.
Olho em volta e me levanto do sofá, meus pés tocando o chão extremamente frio e ando até as janelas de vidro incrivelmente limpas e observo o jardim.
- Tá com fome? - Meliodas pergunta e eu me viro para olhá-lo ainda ajustando os cordões de sua camisa regata.
- Não - Encolho os ombros e me sento no sofá novamente - Agora pode me levar para casa?
- Claro, daqui a pouco - Ele responde e puxa do bolso um curativo colocando-o na mão machucada.
- Eu... Eu só fiz aquilo - Começo a falar mas Meliodas me interrompe.
- Olha - Ele se joga no outro sofá - Eu sei que o modo que nos conhecemos foi um pouco errado.
- Um pouco? - Murmuro ácida e ele revira os olhos.
- Tá, foi muito errado. Eu não devia ter dado aquela bebida pra você e nem te levado pra cama. E meu Deus, como isso foi errado.
- Ainda bem que sabe - sussurro.
- E eu acho que isso vai ficar pensando na nossa consciência pra sempre.
- Não só na consciência - Retruco - Vai ficar para o resto da vida e esse erro vai nos chamar de mãe e pai.
- Acho que eu te devo desculpas - ele sorri sem graça.
- Eu não quero suas desculpas, não quero a piedade de ninguém - Digo - Eu nem queria estar grávida!
- Há coisas que acontecem para melhorar nossa vida - Meliodas encolhe os ombros.
- Não me venha dizer isso - Chio - Eu não quero que minha vida mude tão rápido assim! Eu não estou preparada para uma mudança dessa, eu não estou preparada para ser mãe, ter um bebê é muita responsabilidade!
- Eu também não estou preparado para ser pai - Ele encolhe os ombros - Mas foi errado sua decisão.
- Pare! Não me julgue! - Exclamo irritada e me levanto do sofá - Eu estou vivendo em um vórtice de pavor desde aquela noite e não consigo esquecer isso! Como vou contar para minha família que estou grávida de um cara que eu nem sequer conheço direito. Como vou dizer: Ah pai, a propósito estou grávida de um cara que nem conheço direito, mas ele disse que vai assumir o bebê. Minha vida está desmoronando e eu não quero que o bebê nasça em uma confusão dessa.
- Não seja tão cínica assim, Elizabeth - Meliodas franze o cenho - Eu também estou tentando me acostumar com a idéia da paternidade e estou tentando ter uma afinidade com você.
- Eu não quero - Resmungo - Eu quero apenas ficar quieta e aceitar que nada está dando certo na minha vida.
- Se Zeldris não fosse meu irmão, seu aborto teria dado certo - Meliodas diz azedo.
- Eu teria me arrependido, na verdade já estava - resmungo e meus olhos voltam a arder quando seguro a vontade de chorar - Eu acho que só preciso de colo e conforto.
As sobrancelhas loiras de Meliodas se arqueiam e ele sorri abrindo os braços.
- Eu posso oferecer colo e carinho.
- Cala boca - Reviro os olhos - E me leva pra casa.
- Não - Ele diz sério - você vai ficar aqui por um tempo.
- O quê? - grito - Isso é uma prisão?
- Prisão? Não, leve como um castigo - ele sorri - Vem vou mostrar o quarto que você vai ficar.
Sigo Meliodas quando ele sobe as escadas e paro ao seu lado em frente a uma porta branca entreaberta e arregalo os olhos quando observo o quarto por dentro.
- Por enquanto não tem roupas femininas em casa - Meliodas murmura e se apóia no batente da porta - Mas você pode usar uma camisa minha enquanto vou buscar suas roupas.
- Eu não vou ficar aqui - Respondo e olho para ele.
- Eu não estou te dando opções, Elizabeth - Meliodas cruza os braços sobre o peito - Se eu te deixar ir, não sei que besteira você pode fazer para tentar abortar o bebê.
- O quê? - Arregalo os olhos - Eu estava desesperada e já me arrependi!
- Ah é? - Ele sorri - Seu arrependimento me custou roxos doloridos no corpo e provavelmente um processo por agredir alguns seguranças.
~★~
- Não acredito nisso - Murmuro em descrença e troco a camisola hospitalar por uma camisa preta de algodão que Meliodas deixou sobre a cama de casal.
Olho meu reflexo no espelho e suspiro ao perceber que a camisa cobre até minhas coxas.
- Ficou ótimo - Meliodas aparece na porta e sorri sugestivamente para mim, e eu exclamo quando um cachorrinho passa entre suas pernas.
- Que fofinho!
O pequeno Pug corre até onde estou e eu o pego nos braços e o abraço com força.
- Fofinho até morder seu chinelo - Meliodas revira os olhos - Hawk é um pestinha.
- Oh não ligue para ele, Hawk - faço carinho nas orelhinhas do cachorro - Você é um anjinho.
- Vem vamos tomar café - Meliodas me chama.
- Já vou - Coloco o cachorrinho no chão e sigo Meliodas - Vamos Hawk!
Rio quando o cachorro late e sai correndo na frente. Apesar de Meliodas não tocar no assunto ainda sinto que ele está furioso com minha tentativa de aborto que só não aconteceu porque ele interferiu no momento certo, ou eu carregaria a culpa por dar fim a uma vida inocente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma ressaca de nove meses
Fanfiction- Vamos Elizabeth - Diane segurou minha mão e olhou-me com carinha de choro. - É só uma balada. - Eu não quero ir, Diane - Resmungo - Eu não gosto de festas, nem de barulhos ensurdecedores. - Não é barulho. É música - Diane revira os olhos. - É uma...