Pequena família

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A televisão ligada em um canal qualquer passava um filme de romance que como sempre a mulher acabava por admitir como se sente em relação ao cara depois de muita, muita enrolação desnecessária. Zeldris aproveitava a semana de folga da melhor forma que conseguíamos nas minhas últimas semanas de gestação, ou seja, deitados na cama.

No momento ele estava deitado mexendo em seu celular com apenas uma mão e a outra acaricia minha barriga, uma vez ou outra ganhando um chute ou cotovelada do bebê. Com um copo de iogurte natural vazio sobre minha barriga e o notebook de Zeldris sobre uma almofada.

Abro o e-mail que acabou de chegar e rio baixinho quando um chute mais forte faz uma protuberância em minha barriga e Zeldris se impressiona.

- Ele está inquieto.

- É assim todo dia de manhã - Respondo - mas está menos desde que ele encaixou.

- Acho que até o fim desta semana ele nasce - Zeldris larga seu celular no meio de nós.

- Não vejo a hora, não aguento mais isso.

Ele sorri e se aproxima de mim beijando minha bochecha e em seguida me beija devidamente.

- Foi você que quis engravidar agora.

- Você faz parecer que eu te forcei a idéia da paternidade - digo - porém você foi o primeiro a concordar quando quis parar de tomar o anticoncepcional.

- Claro, aquilo é uma bomba de hormônios que traz riscos para as mulheres com o passar dos anos.

- Você é médico que deveria defender, mas está criticando a pílula anticoncepcional? 

Ele dá de ombros.

- Existem outros métodos. E isso não vêm ao caso, eu só disse que você poderia ter adiado se quisesse.

- Você sabe que eu sempre quis ser mãe e é incrível sentir um serzinho que eu gerei mexendo dentro de mim. Mas já estou cansada, meus pés incharam, as costas doem pelo peso do bebê e eu ganhei estrias novas!

Zeldris ri baixinho e beija minha testa.

- Continua maravilhosa para mim.

Sorrio sentindo as bochechas arderem e me viro de lado para abraça-lo, entretanto a barriga de quarenta semanas não deixa que nos aproximarmos muito.

- Você está tão romântico hoje.

- Sempre fui.

- Ah claro - rio alto - até nos dias em que eu só quis matá-lo você foi romântico.

- Menos no dia que você sem querer estragou meu computador e me fez perder tudo que tinha salvado nele.

- Eu pedi desculpas! Não derrubei aquilo no teclado do seu notebook por querer.

- Você sempre implicou com aquela vitamina.

- Era nojento.

Ele dá de ombros e eu me sento na cama com a ajuda dele, massageando suavemente minhas costas com cuidado.

~×~

- Encontro com todos os colegas de medicina que estudei? - Zeldris resmunga mexendo em seu computador, enquanto leio o e-mail em seu celular - Quem decidiu fazer essa parafernalha?

- Interessante, faz tempo que você não se encontra com eles, não é?

- Sim e não estou com vontade nenhuma de revê-los.

Revirando os olhos acomodo-me da melhor forma que consigo entre as pernas dele e pego o controle da televisão.

- Até parece que foi tão ruim assim.

Uma ressaca de nove mesesOnde histórias criam vida. Descubra agora