Morrendo aos poucos

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Arregalo os olhos ao ver de relance a cor de verde esmeralda e em segundos o Veloster já fez a curva.

- Onde vi aquela cor? - sussuro confusa.

                     ★★★

- Aí meu Deus, estou morrendo - Resmungo  e me jogo de bruços sobre minha cama.

- Não seja dramática, Ellie. - Elaine responde.

- É, até parece que você nunca passou por uma cólica menstrual - Diane comenta mastigando alguns salgadinhos de queijo, o pacote aberto e alguns deles caíram sobre meu cobertor.

- Esse salgadinho é nojento - Elaine resmunga analisando o pedaço em sua mão - Tem cheiro de chulé.

- Se acha que é nojento, por que está comendo? - Diane retruca.

- Eu estou com fome, sabe? - Elaine põe a mão sobre seu estômago.

- Tem lasanha congelada no freezer e suco na geladeira - Digo e abraço meu travesseiro enquanto caço o controle da televisão perdido sob o cobertor.

- Lasanha engorda - Diane explica e eu rio irônica.

- Mais que esses salgadinhos fedidos? Acho que não - Crítico e finalmente encontro o controle e ligo a televisão conectando-a na Netflix.

- Eu vou comer a lasanha. 

Deslizo pelo lençol de seda e coloco meus pés nas macias pantufas de ovelhas branquinhas, ando até a porta do quarto e pego meu robe vermelho colocando-o enquanto saio do cômodo andando como uma pata choca.

- Sabe, seu modelito camisola e meias de lã é horrível - Elaine argumenta seguindo-me pelo corredor - Como uma estilista famosa como você, consegue se vestir tão terrivelmente assim?

- Elaine, eu estou morrendo de dor. Ligar para minha aparência é a última coisa que faria.

- Eu sei, mas se arrumar não faz mal.

- Ah, me deixe em paz, estou confortável e quentinha - Retruco e abro a porta preta do freezer e puxo de dentro a caixa de lasanha.

Os olhos cor de âmbar de Elaine brilham cheios de alegria e ela abre a caixa colocando a lasanha dentro do microondas.

Pego a chaleira de dentro do armário e ando até a pia enchendo-a de água antes de acender o fogo e colocá-la sobre o fogão.

- Vai fazer chá? - Diane chega de repente lambendo os dedos sujos com farelos do salgadinho.

- Não, vou colocar água na bolsa - Balanço nas mãos uma bolsa térmica para por água quente.

- Não é mais fácil tomar analgésicos? 

- Sou alérgica aos medicamentos que tem em casa. 

- Como isso? - Elaine questiona.

- São medicamentos que a Margareth sempre trás. - Dou de ombros.

- Eu não teria em casa, remédios que sou alérgica. - Elaine responde e pega de dentro do armário um prato - Vão querer lasanha?

- Claro - Diane responde - Ou a fofinha tem fome de elefante?

- Não tanto quanto você. - A loira retruca.

- Eu vou morrer! - Seguro minha barriga dolorida e me debruçou sobre o balcão da cozinha, uma posição que aliviou a cólica infernal.

- Ellie, acho que a Margareth está mandando mensagens para você. - Diane empurra meu celular até perto do meu rosto.

- O que ela quer dessa vez? - Resmungo ácida e desbloqueio a tela do celular.

Margareth =}

Lembra o jantar que você não veio e ficou me devendo uma visita? 

EllieLion:

Lembro, o que tem?

Margareth =}

Você está obrigada a comparecer no jantar de hoje.

EllieLion:

Não vai dar, estou morrendo aqui.

Margareth =}

Okay, daqui à uma hora o Gil vai te buscar ;) 

- Mais que merda! - exclamo e bato a testa contra o mármore frio.

- O que aconteceu? - Elaine se assusta.

- Nada demais - Sorrio ironicamente - Apenas estou sendo obrigada a participar de um jantar chato que a Margareth está organizando.

- Ué, mas você não está morrendo de cólica? - Diane ergue as sobrancelhas.

- Sim, mas diga isso para a Margareth, ela não escuta. 

- Ela mandou uma mensagem pra mim - Elaine balança o celular sobre sua cabeça - O Gil está vindo de buscar agora.

- O que?! - Grito apavorada e saio correndo em direção a meu quarto.

- Não esqueça de por um absorvente! - Diane grita - Não queremos ter uma mar vermelho durante o jantar.

- Fica quieta, Diane! - Elaine exclama irritada - Respeite a hora do jantar e não diga coisas nojentas!

- Não é nojento - Diane argumenta - Toda mulher menstrua...

- Diane! 

Puxo o zíper do vestido e olho meu reflexo no espelho, meus cabelos prateados presos em um coque frouxo e bem feito, contrastando com meu vestido longo e as sapatilhas.

- Elizabeth! - Elaine grita da cozinha - O Gil está te esperando lá embaixo​! 

- Tô indo! 

Agarro minha carteira e corro em direção a sala, abrindo a porta de uma vez.

- Não destruam minha casa! - Exclamo antes de bater a porta.

Paro no corredor e observo o elevador fechado, respiro fundo e esfrego minha cintura que coça pelo atrito do tecido liso na pele. Meus olhos escorregam para a porta fechada com as escadas e dou de ombros seguindo caminho para elas.

                        ★★★

- Demorou - Gilthunder diz assim que sento no banco do passageiro de sua Range Rover.

Reviro os olhos e bato a porta antes de virar para olhá-lo.

- Decidi andar como uma lesma para ver se você desistia de me esperar.

- E ouvir reclamações da Margareth? - Gil ri - Eu esperaria aqui a noite toda.

Balanço a cabeça em negação e observo o condomínio onde moro ficar para trás.

- Qual é o motivo do jantar? - Questiono franzindo o cenho.

- Margareth está querendo oficializar nosso relacionamento.

- Mais do que ja é? - Arqueio as sobrancelhas.

- Quer dizer que vamos noivar.

- Incrível - Resmungo e abro a janela do carro recebendo de bom grado o vento gélido da noite, e tenho a impressão de ver cabelos loiros bagunçados.

Afoita apóio-me na janela e quase coloco meu corpo para fora do carro, a fim de tentar avistar novamente aqueles cabelos, porém não havia mais ninguém na rua, apenas um carro parado no meio-fio e ele parecia ser familiar.


Uma ressaca de nove mesesOnde histórias criam vida. Descubra agora