Quatro dias havia se passado. E o estado de Ane não melhorava. Eu ia todos os dias na hora da visita. Eu olhava para ela... ainda tão machucada, meu coração se despedaçava inteiro.
As enfermeiras me disseram que os pacientes talvez conseguissem escutar quando estavam em coma. Eu conversava tanto com ela...
Falava da nossa filha, que já estava em nossa casa.As minhas cunhadas se revezavam para cuidar dela, tinha contratado também uma enfermeira, que passava as noites com ela. Eu estava um zumbi, não conseguia dormir a noite, quando conseguia tinha pesadelos horríveis.
A cama estava fazia, fria e triste sem a presença dela. Eu era muito mais fraco do que eu pensava, minha felicidade estava nas mãos de uma mulher, dependia da vida dela...
Passava o dia com a minha filha, que estava recebendo leite materno do banco de leite. Eu também ajudava a cuidar dela, na verdade tinha muita gente para cuidar daquela doce menina. Ela era tão boazinha, dormia a noite inteira.
Meu pai estava contente com a neta, mas andava choroso ao ver meu estado e preocupado com a vida da nora. Aliás, a família estava dividida num misto de alegria e tristeza.
O pai dela, o senhor Roberto, tinha chegado no dia seguinte ao nascimento da neta. Ele estava preocupado com o estado de saúde da filha e se culpava por ter colocado Paul na vida dela.
Eu tentava consola-lo, mas era em vão, assim como eu, ele estava um caco. Me surpreendi com o apoio que recebi do meu irmão mais velho, ele parecia muito mudado, arrependido de tudo que tinha feito. Ele me apoiou em todos os momentos que precisei.
A noite quando chegava em casa, a solidão tomava conta do meu ser, a única coisa que conseguia amenizar meu sofrimento era sentir minha filha em meus braços, aquela sensação era um remédio para minha dor. Várias vezes, eu me deitava e a colocava em cima do meu peito, e me permitia chorar a dor da saudade que eu sentia da mãe dela.
O choro passava e eu ficava admirando aquele rostinho lindo de boneca ao meu lado. Tão doce, tão serena...
Agora eu estava ali, sentado na sala de espera, esperando a médica chegar, sete dias após o nascimento e ela não melhorava nada.
A médica entrou. E já senti o frio percorrer minha coluna, sabia pela expressão do rosto dela que as notícias não eram boas.
- John, nós não temos boas notícias. - Ela falava pausadamente. - Ane não reage a nenhum de nossos estímulos... - Ela estava tentando encontrar palavras para falar com ele. - Os rins dela estão muito debilitados, um infelizmente parou e outro está quase parando.
- Não doutora! - Ele passava as mãos na cabeça.
- Sinto muito! Agora apenas um milagre. Trabalho aqui há muitos anos, e presenciamos milagres todos os dias. Mas oque podíamos fazer pela sua esposa nós fizemos. - Deu uma pausa. - Eu sinto muito. Vc pode se despedir dela.
- Eu não vou me despedir da minha mulher! Ela não vai morrer!
- Acalme-se John! - A médica pediu. Ela passou a mão na costa dele e saiu, também muito triste.
John entrou na Uti com o coração despedaçado ao ver sua amada naquele estado, era muita dor, como se uma faca entrasse no seu coração a cada minuto. Ela estava ligada à vários aparelhos e um tubo na sua boca. Ele não podia perdê-la, ele se recusava a se despedir dela, nunca jamais ele desistiria do grande amor da sua vida, enquanto ela respirasse nem que fosse com a ajuda de todos aqueles aparelhos, ele ia lutar por ela.
Aproximou-se dela e pegou sua mão gelada, deu um beijo e deixou uma lágrima cair. O rosto dela ainda tinham vários hematomas roxos, devido às porradas que aquele covarde tinha dado nela. Não, definitivamente ele não ia se despedir, ele ia pedir para que ela lutasse,
ele nunca foi religioso, mas agora ele necessitava da presença de Deus na vida dele, não adiantava ter tanto dinheiro e poder ter ter sua esposa, a mulher da sua vida e mãe da sua filha ao seu lado.- Oi meu amor, os médicos disseram que vc está muito fraquinha... (Pausa) eu vim aqui pedir, na verdade eu vim aqui te implorar para lutar por nós e pela nossa filha. Cada dia que passa ela está mais linda e esperta. Ela já está em casa no cuidado de todos da família, principalmente aos meus cuidados e do papai, que aliás está um babão cuidando da neta. - Ele limpou uma lágrima que caía no seu rosto e continuou.
- Cada dia que passa nós estamos mais apaixonados por ela, vc nos deu o maior presente que alguém poderia nos dar, a nossa pequena Laura. Mas nada disso fará sentido se vc não estiver conosco. Eu não consigo mais nem dormir sem vc ao meu lado...
- Eu sei que eu prometi à vc cuidar da nossa filha e por enquanto eu estou conseguindo porque mesmo que vc esteja muito doente, mas eu sei que vc ainda está entre nós. Eu tenho muito, muito medo de vc não despertar desse coma ( Pausa, os médicos tinham que estar enganados). Eu tenho medo de não conseguir cumprir a promessa que eu fiz pra vc, se vc me deixar... ( ele já não podia conter as lágrimas, que pareciam cair como Cachoeira dos seus olhos) ... eu temo em deixar nossa filha sozinha... eu não vou aguentar viver nesse mundo sem vc... por isso meu amor, eu te peço, não vá... Lute por nós, eu não vou suportar, eu pensei ser mais forte, mas eu não sou... eu também estou morrendo por dentro ...
Ele parou, tentou se controlar mas não conseguiu.
- Se você partir, eu não demorarei para te encontrar... desculpa quebrar a promessa que eu te fiz... (Pausa) Lute meu amor, não me deixe, eu estou desesperado, muito desesperado, não me deixe, eu não vou conseguir...
Enquanto ele falava, beijava o rosto dela, molhando-a com as lágrimas de desespero. Ele não podia mais esconder que não era forte. Ele ficou abraçado com ela e fez uma prece baixinha, dentro do seu coração: "Me mostre Deus, me mostre todo o seu poder, toda a sua onipotência e me devolva minha esposa com saúde, eu prometo ser uma pessoa melhor e conhecer a tua palavra, mas não tire ela de mim, eu te imploro, eu te suplico..."
Ele já estava fraco de tanto chorar, mas usando a enfermeira entrou e pediu para ele se retirar, ele resistiu, não queria abandoná-la ali...
- Senhor por favor! Eu sei que está sofrendo muito, mas ela, bem ela só está esperando a hora de partir...
- A minha mulher não vai morrer, ela não vai... - Não queria parecer um tolo, fraco na frente de estranhos, mas ele não conseguia controlar as emoções...
- Se o senhor não sair, eu terei que chamar os seguranças, infelizmente...
Ele pegou a mão dela novamente e disse:
- Reaja meu amor, reaja...
Beijou-lhe várias vezes e saiu. A enfermeira estava triste ao ver a cena.
- Sinto muito senhor....
Ele saiu com o coração despedaçado. O irmão estava o esperando lá fora, pelo visto a médica tinha falado com ele, pois ele estava muito triste. Abraçou o irmão com força!
- Eu estou aqui meu irmão! - George falou.
Eles foram embora para a mansão sem dizer uma palavra. John estava em estado de choque.
Chegaram em casa e ele subiu imediatamente para ver a filha. Entrou no quarto desesperado, ela estava dormindo como um anjo, ele a tirou do berço e a abraçou e chorou tudo que tinha para chorar. Alice estava no quarto da bebê, se levantou da poltrona e deu um longo abraço nele. Era tão difícil esse momento...
A família toda se reuniu a noite, fizeram um prece fervorosa em intenção a saúde de Ane, John continuou calado na sua dor, na verdade ele não conseguia processar a informação, para ele tudo não passava de um pesadelo.
Quando todos foram embora ele subiu para seu quarto e ficou deitado, olhando para o teto. E viu toda a sua história com Ane passar em câmera lenta, desde o momento em que se conheceram naquela boate... o momento em que a teve nos braços... todos... todos os momentos foram revividos em sua mente. Como ele conseguiria viver sem ela?
Adormeceu bem tarde, já era quase de manhã quando o celular dele tocou. Ele levantou em disparada. Seu sangue congelou quando viu que era do hospital logo cedo.
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Desencontros da Paixão
RomanceMariane Cavalcante é uma jovem brasileira que fugiu do noivo, no qual tinha um relacionamento abusivo no Brasil. Em Nova York ela tenta recomeçar sua vida novamente. Numa boate ela conhece um homem que irá revirar sua vida ao avesso! Eles viverão um...