Capítulo 18: Toda a verdade para John

1.2K 124 4
                                    


John ficou pálido! Ele não queria acreditar no óbvio! Fez tudo o que Ane o pedira, acompanhou de perto a queixa da mulher, que estava bastante machucada e a prisão do agressor. Quando tudo terminou, colocou Carol, como se chamava a moça, em um outro quarto e seguranças na porta.

Eles seguiram em silêncio para a suíte, Ane estava visivelmente abalada! Entraram e ficaram se encarando por um tempo, até que ele resolveu falar:

- Meu bem, eu...

- Eu preciso lhe contar toda a verdade, agora eu estou preparada! Ane o interrompeu, e mexeu no anel, fruto do "casamento" deles.

Ane precisava sim desabafar, agora era o momento, John era tudo o que tinha e ela precisava dividir sua vida com ele, resolveu contar toda a sua história.

- Minha mãe veio de uma região bem pobre do Brasil, órfã aos 18 anos, pegou toda a economia que os seus pais lhe deixaram e decidiu recomeçar a vida na maior cidade do país. Inocente e muito bonita, minha mãe se envolveu com meu pai. Ela nunca me contou detalhes. Só sei que ele a abandonou sem saber que ela estava grávida. Minha mãe me criou com muito sacrifício, e eu acho que nunca mais se envolveu com homem nenhum, pelo menos não que eu tenha visto. - Ela deu uma parada. Era muito difícil falar sobre a mãe.

- Eu cresci tendo somente minha mãe e nenhum outro parente. Comecei a estudar muito cedo, e como eu era muito aplicada terminei meu ensino médio muito nova. Aos 16 anos entrei numa faculdade particular, através de um incentivo do governo para estudantes da rede pública. Foi aí que minha vida começou a desandar. - Ela caminhou até à mesa, pois eles estavam em pé, sentou-se e pediu para John também sentar-se.

- Lá eu conheci Henrico, ele fazia direito e eu serviço social! Desde o começo ele me cercava de todas as maneiras, eu sempre me saia dele, ele é de uma família muito tradicional e rica da cidade. Eu sabia que ele só queria brincar comigo! Comecei a ouvir as histórias, que ele era de um grupo de bad boys que faziam grandes atrocidades na cidade, eu fiquei chocada e resolvi me afastar. Ele não aceitou. E continuou a insistir. Por um tempo ele fingiu ter mudado, somente para me conquistar, e depois de mais ou menos um ano começamos a namorar. No começo ele era perfeito, romântico, atencioso mas depois descobri que tudo aquilo não passava de fingimento e não ia demorar muito para eu descobrir. Ele começou a fazer chantagem emocional, eu tinha medo, pois a vida inteira eu ouvi minha mãe reclamar do seu destino! Eu fugi dele o máximo que pude, até que praticamente ele me forçou a me entregar a ele.

Nesse momento John se levantou e começou a passar as mãos pelos cabelos visivelmente perturbado, ele ficou em pé e Ane continuou a falar sem olhar para ele.

- A partir daquela noite minha vida mudou! Ele se achou meu dono, não vou negar que no começo era bom, mas pouco tempo depois ele desenvolveu uma personalidade doentia. Comecei a me afastar dos meus amigos, mudar meu estilo de vestir, eu amava roupa sensual, ele dizia que uma parecia uma puta, e todo meu guarda-roupa foi mudado! Deixei de andar na balada, ele odiava quando eu dançava. - Ela parou um pouco e reviveu uma noite triste. - Uma vez numa festa, eu tinha me excedido na bebida e comecei a dançar, os homens ficaram olhando e ele simplesmente surtou! Saiu me empurrando, foi um horror! Minha mãe ficou doente quando eu cursava último ano da faculdade, ela precisou se ausentar do trabalho para se cuidar e arrumou para mim um estágio numa empresa muito grande, muito tradicional na cidade! Ela nunca me contou como conseguiu o estágio, eu estava tão preocupada com ela e ao mesmo tempo contente por poder começar a trabalhar numa empresa de prestígio que não fiz muitas perguntas. Henrico ficou louco de ciúmes. Minha vida virou um inferno. - Ela balançou a cabeça como se relembrasse o passado, alguns momentos de prazer na cama e muitos, muitos momentos de humilhação.

- Logo após minha formatura minha mãe faleceu! Eu fiquei sem chão, sem ninguém! Eu tinha apenas 19 anos! Estava perdida, e o Henrico cada vez mais se aproveitava da situação. Consegui ficar no emprego após o estágio! Foi surpreendente para muita gente, pois a empresa era muito exigente! O salário era muito bom, e eu me entreguei de corpo e alma ao trabalho, foi aí que Henrico piorou. Começou a me dá amantes, eu tinha pavor dele fazer escândalos, ele já estava formado a bem mais tempo que eu, ele pertencia a uma família de advogados! Eles tinham muito dinheiro e nenhum escrúpulo! Eu tentei me sair dele aos poucos e ele percebeu! Me ameaçava de todas as maneiras! Me trancava no meu próprio apartamento, levava meu celular, era um inferno! Mas eu não sabia sair daquela situação, daquela relação, eu não tinha ninguém! E morria de  medo dele me matar! Ele já tinha prometido várias vezes que me mataria se eu o deixasse! Eu não ia fazer falta para ninguém! - Ela falou com lágrimas nos olhos.

John a olhava com tanta dor no coração, como se sofresse junto com ela, não quis atrapalhar a história dela e permaneceu em silêncio.

- Foi num dia de muita tristeza que eu conheci Paul, ele era representante internacional de uma marca que a minha empresa comercializava no Brasil!  Num momento de muita angústia, depois de ter passado o final de semana trancada no meu próprio apartamento, eu desabei em prantos! Eu precisava desabafar e Paul foi minha escolha! Ele ficou horrorizado com tudo o que lhe contei. Pouco tempo depois ele me fez uma proposta de trabalho, era humilde, mas eu podia recomeçar minha vida longe daquele tormento! Eu fiz tudo em absoluto sigilo! Demorou algum tempo, mas eu consegui tirar meu passaporte e conseguir o visto para entrar nos EUA, era muito difícil, mas como eu ia já com o emprego as coisas foram um pouco mais fáceis! Vendi meu apartamento e pedi um prazo para poder desocupa-lo! Mas o que eu não sabia era que o meu maior pesadelo ainda estava por vir! - Ane se levantou e foi tomar um ar na varanda e continuou de lá, olhando o mar a luz da lua.

- Numa noite de carnaval após ficar trancada 3 dias no meu apartamento, um vizinho me socorreu, ele sabia o que aquele louco fazia comigo! Aliás, todos sabiam! Eu estava com tanto ódio dele, que resolvi ir na sua casa, foi a pior besteira que fiz! Encontrei ele na cama com várias mulheres, numa orgia horrível, que demorei muito para esquecer! Quando ele me viu, ficou louco, ele estava muito bêbado, eu fiquei parada, sem saber o que fazer! Ele colocou uma toalha, e começou a gritar, me xingar, as mulheres se esconderam, fugiram, não sei eu fiquei em estado de choque, vendo aquela cena! Me senti ainda mais humilhada, derrotada! Eu disse que eu não o queria mais, foi uma briga horrível! Ele pegou o revólver e colocou na minha cabeça e disse que ia me matar! Com os meus gritos o pai dele acordou, e entrou no quarto, disse para ele parar, que ia ser preso! Ele gritava que eu não passava de uma filha da puta, não tinha ninguém por mim e que ninguém ia sentir minha falta, a não ser ele, que era a única pessoa no mundo que me amava e que eu era uma ingrata, ele falou coisas horríveis! Eu estava desesperada, eu sabia que tudo que ele falava tinha um fundo de verdade! - Ane suspirou, tomou mais ar e continuou o relato.

- Depois de muita luta o pai dele conseguiu que ele soltasse a arma! Não antes de me assustar apertando o gatilho, mas o revólver não tinha bala! Ele começou a rir como um louco, dizendo que não ia acabar a vida dele por causa de uma vagabunda desqualificada como eu! Cara! Eu me senti a pior pessoa do mundo naquele dia! Eu até quis que realmente tivesse uma bala e que ele acabasse com o meu sofrimento! Eu fiquei trancada em um quarto da mansão até o outro dia, quando os pais dele me fizeram jurar que eu não ia prestar queixa nenhuma, que o Henrico estava bêbado, possivelmente até drogado e que ele não seria capaz de me matar! Eu prometi! Pois meus planos era sumir daquela vida! Ele entrou no quarto, todo arrependido, chorando, fazendo aquele teatro que estava acostumado a fazer! Me pediu em noivado, todo "apaixonado", -fiz cara de nojo!- Eu fingi que aceitei! Eu agi naturalmente até o dia do meu embarque que estava próximo! Eu arrumei somente o necessário e parti para Nova York para mudar minha vida!

John estava condoído pelo sofrimento da sua amada, como seria possível tão jovem e tanto sofrimento? Ele se aproximou dela e abraçou por um longo tempo. Ela apenas chorava, um choro de desabafo!

Desencontros da Paixão Onde histórias criam vida. Descubra agora