Passava muito tempo fora de casa.
Saía às sete da manhã, chegava dos estudos às onze da noite. Trabalhava no centro da cidade e tinha todos os dias duas horas para almoçar. Era tempo de sobra, especialmente para quem não tinha dinheiro para comer em restaurantes. Após qualquer refeição rápida, explorava cada canto da região. Passava muito tempo em sebos de livros, procurando relíquias e folheando qualquer coisa que me permitisse sair daquela incômoda situação.
Não tinha nenhum mentor, nem admirava a ponto de querer seguir os passos. Procurava um caminho próprio. Algo com que de pronto me identifiquei foi através de um livro comprado num sebo de sobreloja da Rua Barão de Itapetininga no centro de São Paulo. Bem antigo e amarelado, se chamava "Leis Ocultas para uma Vida Melhor". Sua autora, Cinira de Figueiredo, o publicou pela Editora Pensamento, bem antiga e ligada a uma organização esotérica. Hesitei um pouco mas comprei e rapidamente li. Em princípio parecia ser algo na linha do Espiritismo, pois falava em seres desencarnados e guias espirituais. Aquele livrinho oferecia, contudo, uma conexão com outros planos, algo mais próximo de nós do que Deus e os santos católicos de até então. O livro alertava também para os riscos da polaridade dessas manifestações, das entidades obsessoras e outros aspectos relacionados a uma classe espiritual mais baixa e voltada aos interesses materiais. Inspirado pelo livrinho fiz alguns exercícios mentais.
Não posso dizer que minha vida melhorou a partir daí. Pelo contrário, as coisas ficaram ainda mais difíceis. Trabalhava muito, ganhava pouco, a pressão familiar e de minha namorada-noiva-esposa aumentava a cada dia. A sorte - se é que existe - não estava do meu lado. A conjuntura do país ficou ainda mais complicada, com hiperinflação e desemprego crescente. Tentei por tosos os meios arranjar um bom emprego e até montei uma empresa de consultoria na qual depositei todas as minhas esperanças e energias. Nada vingou. Estava cercado pelos domínios do Azar.
Talvez esse estado de necessidade tenha aguçado minha curiosidade sobre fenômenos paranormais e fatores que levam alguns a ter sucesso na vida.
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Nas trilhas de Avalon
Non-FictionUm mergulho nas lendas arturianas e na tradição esotérica ocidental. Com Dion Fortune, Santo Antônio de Pádua, Aleister Crowley, Joan Wytte, Johann von Goethe, Hermann Hesse, Fernando Pessoa, Rowena Cade e Billy Howlins, William Butler Yeats, John...