A Capela Perigosa é um rito de passagem, onde se move a circuitos mais altos de consciência.
Inspirado por fontes como o sistema de chakras hindus, o psicólogo e guru da contracultura Timothy Leary alegou que, entre outras coisas, esse modelo explicava o conflito social na década de 1960. Neste, moralistas tribais limitados ao quarto circuito e entraram em confronto com indivíduos com os circuitos superiores ativados.
O primeiro circuito se chama bio-sobrevivência oral. São as primeiras impressões que se tem em vida, aquelas que determinarão os níveis de suspeição ou autoconfiança. O aterramento, elemento mágico Terra, estabelece todo um estado de consciência baseado na profunda memória corporal. Disciplinas atléticas e yoga podem dissolver falsas identificações que comprometem uma vivência mais plena.
O segundo circuito é emocional e territorial, ou anal segundo Freud. Ele corresponde ao elemento mágico água e é impresso pelo pai, o macho alfa mais próximo. Isso definirá padrões de dominância ou submissão por toda a vida, representando o ego no dia a dia.
O terceiro circuito é o da mente ele, elemento Ar, capacidade de usar símbolos, mapas, túneis de realidade que podem ser passados a outros individuos e gerações. Ele pode definir uma pessoa por toda sua vida, como fluente ou desarticulada, como habilidosa ou tonta. Algumas pessoas mantêm esses padrões por toda a vida, gerando uma enorme lista de obsessões e compulsões, socialmente aceitáveis ou não, em padrões não muito diferentes daqueles de crianças de doze anos. Certas tendencias ao dogmatismo, absolutismo e pensamento politico radical derivam desses padrões, não importando a educação formal mas sim o circuito ativado de maneira abusiva. Essa separação entre preto e branco ajuda a causar e perpetuar muitos conflitos ao longo do tempo. Congelar os circuitos em ideias como as do inferno ou da ameaça de invasão e subversão da nação por um poder hostil faz com que as pessoas aceitem a inquisição ou o totalitarismo. Para liberar o funcionamento do intelecto pode-se ser estudar de forma comparativa a religião, a filosofia e as ciências. Como muitas pessoas seguem as crenças de seus pais, as mudanças culturais podem ser lentas. Contudo, pode ser possível modificar impressões intelectuais com o estudo de filosofia, mantras, vivêncis, meditações ou reflexões, colocando-se de tempos em tempos em diferentes pontos de perspectiva.
O quarto circuito é chamado de sócio sexual. A moralidade sexual deste circuito trabalha com as qualidades do elemento mágico Fogo. Ele pode determinar se um indivíduo se torna moral ou imoral, um cidadão sólido ou um fora da lei. Crucial nessa fase é a puberdade, que completa o desenvolvimento biológico definindo tendências a crenças em torno do sexo. Seu poder e importância vai desde o controle da procriação, da determinação de quais combinações de pessoas podem se relacionar, do senso do erotismo como força possessiva e até noções do sagrado como as representações de deidades que glorificam os mistérios da Lua e da Mãe Terra. Sem desconsiderar a importância do papel dos pais para o futuro da humanidade, não é necessário todavia que todo indivíduo se conforme com isso. Há o risco de desvios dos códigos convencionais causados por circuitos criados por impressões, tanto para o celibato quanto para a obsessão. Quando isso gera guerra interna pode-se esperar culpa, miséria e armaduras fisiologicas que deprimem o fluxo natural da energia da vida no corpo, levando a doenças e até fazendo com que as sociedades inteiras se tornam vulneráveis a manipulações e epidemias de violência. Para combater esses efeitos é interessante se voltar à sabedoria inerente do corpo e mente.
O quinto circuito, holístico e neurossomático, nos leva a planos de funcionamento humano que são latentes em todos os individuos mas que não se manifestam automaticamente como fazem os níveis anteriores. Ele está voltado a gigantescas mudanças na consciência. Um modelo que o representa metaforicamente é o do Santo Anjo Guardião, um potente arquétipo. Certos autores o chamam de amante secreto, aspecto interno profundo da nossa identidade mais fundamental. O amante ideal é aquele que nos adora desde o começo de nossa existência individual e que nunca nos abandonará até o instante em que nos misturamos com o absoluto. A nossa consciência desse amante pode assumir padrões, que de certa forma explicam certos tipos com os quais de forma repetida nos apaixonamos O êxtase sexual, a epifania, a ágape, é uma porta de comunicação com o amante secreto. A sua falta vem da comparacao com todo o resto, levando a melancolia, saudade ou nostalgia. Aquilo que parece estar tão perto e é tão inatingível faz com que o mundo inteiro busque um amor o qual poucos de nós conhecemos. Esse amor está além de qualquer coisa que outro indivíduo possa satisfazer. Render-se ao amante secreto pode ser considerado um processo fundamental no coração real de todas as religiões. Infelizmente as mais variadas ortodoxias agem de forma a evitaram que seus aderentes experimentem as bençãos de tal comunhão. A maior parte da miséria da vida é causada pela nossa inabilidade de se render ao amor. Tentativas desesperadas de preencher este vazio leva as pessoas a se viciarem em drogas, álcool, comidas, sexo, fama e fortuna. Render-se pode parecer ser uma negação da vontade; essa impressão pode ser vista como assumir o risco de perder algo de vital importância como a integridade ou a própria alma. A alternativa de realizar tarefas mecanicamente apenas pela segurança não parece, contudo, ser muito razoável. Uma pessoa saudável deveria operar em torno de todos os circuitos, de vez em quando rompendo com padrões de coração aberto, o que é de forma inerente nossa condição natural. O ato de se render traz mais autonomia e poder; essa é uma necessária experiência para uma vida completa. Dar amor, ser gentil e mostrar compaixão é tão necessário quanto recebê-los e nada disso é algo que possa ser legislado ou tornado obrigatório. Você não é o programador de sua vida, mas você pode programar o programador. O código é a liberdade de escolha aliada ao discernimento.
O sexto circuito de metaprogramação se revela quando há uma consciência do funcionamento dos circuitos anteriores como se houvesse algum tipo de ponto de vista fora deles, permitindo sair e entrar em diferentes situações. Um exercício é por exemplo experimentar mudar de religião, depois retornar. Alguma coisa irá acontecer de um jeito ou de outro. O resultado final pode ser uma surpreendente experiência. Depois de um certo tempo você descobrirá coisas sobre como a mente funciona em relação a arquétipos e forças naturais. Não é necessário atribuir isso a alguma realidade externa, mas aprender a viver filosoficamente independentemente se essas coisas existem ou não. Não é preciso atribuir realidades objetivas ou validar filosófica nenhum desses resultados. Outro experimento existencial é o de atravessar o deserto, ou passar pela escuridão interestelar, ou saltar no Abismo se rendendo à natureza do vazio. É algo muito arriscado, pois pode não haver caminho de volta. O senso convencional de identidade começa a ser minado, as fronteiras ficam tênues e os sentimentos de separação se dissolvem estranhamente. Isso pode levar a um maior controle do corpo e mente, conectando-se a algo mais vasto e impessoal. Os dramas de nossas vidas pessoais, suas impressões e condicionamentos, passam diante dos nossos olhos revelando por trás uma infinidade vasta e sem forma, numa conexão potencial com a mente universal.
O sétimo circuito é neuro, morfogenético. É a conexão da mente do indivíduo a toda a extensão da evolução. É a parte da consciência que ecoa as experiências das gerações anteriores que trouxeram a mente-cérebro do indivíduo ao seu nível atual. Trata dos feedbacks ancestrais, societais e científicos que compõem o código genético. Aqueles que alcançam essa mutação podem falar de vidas passadas, reencarnação, imortalidade. Este corresponde ao inconsciente coletivo nos modelos de Carl Jung, onde residem os arquétipos. A ativação deste circuito pode ser igualada à consciência do deus Pan em seu aspecto como Vida como um todo, ou com a consciência de Gaia, a biosfera considerada como um único organismo. Segundo Leary este circuito é ativado por doses altas de LSD, peiote, cogumelos com psilocibina, ou até yoga e meditação, como fazem certos mestres hindus e sufis.
Finalmente, o oitavo circuito tem nomes complexos: metafisiológico neuroatômico ou quântico não-local. Referr-se à informação além da consciência espaço-temporal, a chamqda iluminação. Algumas das maneiras pelas quais esse circuito pode ser ativado são: o despertar da kundalini, o choque, uma experiência de quase morte, ou altas doses de LSD.
Há incontáveis paralelos entre os circuitos de Leary e conceitos trazidos por antigas escolas de ocultismo.
Eles estão presentes em todo lugar. Hoje encaramos com naturalidade o que nos traz os livros de Harry Potter. Buscamos outros estágios de consciência por meio de drogas. A cultura em torno de OVNIs se estende a crenças de Nova Era. O empoderamento feminino se une à ecologia.
Cheguei a uma conclusão pessoal: não devo mais fugir da Capela. Não vou mais evitar a Sombra. Os circuitos básicos e dogmáticos não mais me satisfazem.
Mas não vou invocar o demônio e nem tomar LSD. Posso estar errado, mas acho isso por demais pueril.
Meu caminho será outro - e não terminará neste livro.
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Nas trilhas de Avalon
No FicciónUm mergulho nas lendas arturianas e na tradição esotérica ocidental. Com Dion Fortune, Santo Antônio de Pádua, Aleister Crowley, Joan Wytte, Johann von Goethe, Hermann Hesse, Fernando Pessoa, Rowena Cade e Billy Howlins, William Butler Yeats, John...